"Nada mudou. Consumidores não serão afetados, é esse o nosso compromisso"

O Tech ao Minuto esteve à conversa com o diretor de vendas da divisão de consumo da Huawei, Tiago Flores, a propósito da recente polémica em que a empresa se viu envolvida.

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Miguel Patinha Dias
28/06/2019 09:10 ‧ 28/06/2019 por Miguel Patinha Dias

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Foi no final do mês de maio em que Huawei se viu envolvida numa autêntica hecatombe, quando o Presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que a empresa chinesa havia sido banida de fornecer equipamentos a empresas norte-americanas.

O motivo? A guerra comercial entre os EUA e a China, a corrida ao 5G entre os dois países e até as suspeitas de espionagem alegadamente a mando do governo chinês serviram de explicações para os analistas de todo o mundo.

Porém, mesmo no meio da adversidade a Huawei, continua a defender-se e a batalhar por manter o lugar de destaque que alcançou nos últimos anos. Continua a ocupar a segunda posição de fabricantes com mais vendas no mercado mobile (acima da Apple e logo abaixo da Samsung) e aplaudida no meio tecnológico pela inovação na área do 5G.

A medida da administração Trump foi, entretanto, suspensa e entrará em vigor apenas em meados do mês de agosto, no dia 16. A partir deste dia a Huawei poderá deixar de contar com o apoio de alguns dos seus grandes parceiros, nomeadamente da Google e do seu sistema operativo Android.

Até lá tudo pode mudar mas, entretanto, o Tech ao Minuto foi conversar com o diretor de vendas da divisão de consumo da Huawei em Portugal, Tiago Flores, para tentar perceber o que muda para os consumidores portugueses.

A Huawei foi apanhada desprevenida pela decisão da administração Trump? Já esperavam uma decisão deste tipo?

Fomos colocados na ‘blacklist’ dos EUA e posteriormente suspensos por 90 dias. Foi isso que aconteceu. E não esperávamos. Não cabe a qualquer empresa estar à espera que isto aconteça.

A Huawei já havia admitido estar a desenvolver um ‘Plano B’…

Somos a empresa que a nível global mais investe em R&D (Pesquisa e Desenvolvimento). No ano passado investimos 14% da nossa receita global nesta área. A nossa divisão de consumo tem tido uma contribuição massiva para trazer aos consumidores melhores experiências a nível de câmara, bateria e desempenho. Somos os principais parceiros da Google também para desenvolvimento do próprio sistema Android. Temos uma ‘skin’ para o sistema operativo – o EMUI – que acreditamos ser uma experiência superior à do Android nativo e conseguimos ser o segundo fabricante com mais vendas a nível global, mesmo sem uma presença nos EUA.

Quer isto dizer que estamos focados no consumidor e na tecnologia. É determinante o facto de sermos uma empresa que constitui uma experiência singular pela nossa abordagem ‘hand-to-hand’, ou seja, desde a infra-estrutura até ao smartphone que os consumidores usam no seu dia a dia. Isto dá-nos uma capacidade que mais nenhuma empresa no mundo consegue concretizar.

Mas o desenvolvimento de um sistema operativo de recurso faz parte da aposta na área do R&D?

Em primeiro lugar a Huawei quer sempre providenciar a melhor experiência para o consumidor. É público que a Huawei continua a privilegiar e privilegiará sempre os seus parceiros, como a Google e a Microsoft. Não falamos de especulações mas o nosso presidente também afirmou que vamos continuar a querer entregar a melhor tecnologia ao nosso consumidor, quer seja da parte de infra-estrutura, quer da parte de consumo.

O nosso presidente falou num ‘Plano B’ mas não sei o que foi feito até agora. Porém, com o nível de R&D que a Huawei tem (de hardware e software) estará preparada parar oferecer aos consumidores sempre a melhor experiência, independentemente se trabalhamos com o sistema A ou o sistema B. Mas digo mais uma vez, as parcerias com a Google e a Microsoft são neste momento a nossa prioridade.

O que é importante referir neste momento é que todos os cenários pós-agosto são um pouco especulativos Essa parceria com a Google está, como sabemos, em vigor por via do ‘countdown’ até mês de agosto, quando a licença do Android será revogada. Como estão a lidar com o abandono da Google e de outras empresas?

O que é importante referir neste momento é que todos os cenários pós-agosto são um pouco especulativos. A medida foi suspensa e continuamos a trabalhar com os parceiros, incluindo a Google. É importante o esclarecimento que temos dado ao consumidor que todos os equipamentos que já fornecemos e que vamos continuar a fornecer dentro deste portefólio, não sofrerá qualquer impacto a nível de atualizações de segurança do Android, a nível das aplicações e Google Mobile Services.

É isso que importa de momento para nós, esclarecer o consumidor de que nada mudou, nada se alterou e que continuamos a trabalhar com a Google. Prova disso é que colocámos antecipadamente a lista de equipamentos – cerca de 17 – que têm os privilégios de fazer a atualização para o Android Q, que estará disponível a partir de meados de agosto.

Tivemos essa necessidade para esclarecer o consumidor que esses equipamentos terão a atualização para o Android Q e têm até a versão beta no Mate 20 Pro a funcionar e a ser testada.

Significa isto que últimos smartphones topos de gama da Huawei atualmente no mercado terão direito à próxima versão do Android?

Exatamente. Os equipamentos com caraterísticas técnicas elegíveis para essa atualização poderão receber o Android Q – nomeadamente o P20, P20 Pro, Mate 20, Mate 20 Pro, P30 e o P30 Pro – e ainda alguns dispositivos de média gama como o P30 Lite e outros.

Nada se vai alterar em relação ao que eram as nossas intenções. Tivemos é de tentar esclarecer os consumidores de uma forma mais clara, mostrar o nosso compromisso para com eles e contrariar as ‘fake news’. O objetivo é satisfazê-lo com a melhor experiência.

Se a Huawei ficar mesmo sem acesso ao Android, acham que o sistema operativo pode ser prejudicado? Afinal, a Huawei ocupa a segunda posição das maiores fabricantes…

Não consigo calcular esse impacto. Para começar porque não consideramos que acontecerá. Em segundo lugar, somos um dos maiores contribuidores para o desenvolvimento do mercado e do ecossistema Android. Portanto, não sei que impacto é que terá. O nosso fundador teceu alguns comentários sobre o tema mas, sinceramente, não sei qual será o impacto.

Esta situação parte de suspeitas de espionagem da parte dos EUA. Acham que estas suspeitas que a Huawei é alvo foram um pretexto no âmbito da guerra comercial dos EUA com a China?

Os temas políticos são temas que, do ponto de vista de quem trabalha na Huawei, não é possível comentar. Trabalhamos em tecnologia e estamos focados no consumidor e não comentamos temas políticos. Não queremos entrar em especulações e, apesar de haver comentários de analistas e dos nossos CEOs, não nos cabe a nós comentar geo-política.

Independentemente dessas questões políticas, a Huawei está tão avançada tecnologicamente quer vai continuar a providenciar uma experiência única de digitalO próprio Trump admitiu que a situação atual da Huawei nos EUA poderia vir a ser incluída num acordo comercial com a China. A Huawei é uma vítima das circunstâncias?

Uma vez mais, não nos cabe a nós tecer comentários sobre questões internacionais. Como o nosso fundador apontou, estamos a falar de duas super-potências a nível mundial e às quais não temos qualquer ligação. Não conseguimos fazer qualquer especulação e vamos manter-nos naquilo que somos capazes de fazer, que manter o compromisso junto dos consumidores e continuarmos a investir em novas tecnologias como o 5G, que os parceiros concordam que estamos três ou quatro anos à frente.

Independentemente dessas questões políticas, a Huawei está tão avançada tecnologicamente quer vai continuar a providenciar uma experiência única de digital e continuar a contribuir para a sociedade.

Estão a contar que o governo dos EUA volte atrás com a decisão? O que é que a Huawei está a fazer para mudar a situação?

Tudo o que foi feito pela Huawei a respeito desta situação foi feito pela nossa sede e é conhecido. Não temos qualquer tipo de influência sobre este tema.

A realidade da Huawei poderá vir a ser significativamente diferente daquilo que veremos pós-agosto 2019. Qual é o pior cenário admitido pela Huawei?

Não colocamos esse tipo de cenários. Somos uma empresa que está muito bem preparada para qualquer desafio. Estes desafios são essencialmente provados pela nossa liderança a nível tecnológico. Não é fácil para uma empresa com seis anos na área do consumo, e no início sem grande mercado, chegar à segunda posição a nível mundial.

É sabido que o nosso desempenho nos mercados asiáticos e europeus nunca esteve tão forte. Mesmo no mercado asiático no segmento ‘premium’ já ultrapassámos a Apple e não podemos estar mais confiantes. Com o nosso investimento em R&D, em software e hardware dá-nos toda a confiança para qualquer situação pós-agosto 2019. Estamos preparados para enfrentar todos os desafios. Este será mais um.

O Tiago falou do facto de a Huawei ocupar a segunda posição das fabricantes mais vendidas. Tinham a ambição de ultrapassar a Samsung no primeiro lugar do pódio. Estão a reavaliar essas ambições?

Não podemos falar muito a nível global, mas o nosso presidente já afirmou que a nossa preocupação neste momento é continuar a oferecer a melhor experiência ao consumidor. Obviamente que esses objetivos são objetivos para qualquer empresa. Qualquer empresa ambiciona ser líder de mercado.

Tivemos um desempenho muito significativa neste primeiro semestre. Anunciámos recentemente que ultrapassámos os 100 milhões de smartphones vendidos em 2019, e isto apenas em 145 dias. No ano passado só tínhamos atingido esse número no final de setembro e este ano já atingimos este marco.

Há algum mercado em que estejam prestes a entrar? Faz parte da estratégia da empresa para dar a volta por cima?

Não posso afirmar com muita certeza porque não tenho esses dados, nem essa responsabilidade. Obviamente que a Huawei está a ter uma penetração em vários mercados emergentes e de facto está a continuar a expansão a sua operação. Mas trabalho a respeito de Portugal (risos).

Os portugueses, tal como qualquer outro consumidor a nível mundial, não serão afetados. É esse o nosso compromisso Centremo-nos, então, em Portugal, a questão das suspeitas de espionagem importa aos portugueses?

A nossa preocupação foi informar os nossos consumidores sobre o que se passava, nomeadamente junto dos nossos parceiros nas lojas. O sentimento é francamente positivo. Os portugueses reagiram muito positivamente ao nosso comunicado que, nesta primeira fase, foi o agradecimento da Huawei pela confiança que os consumidores têm.

Tivemos os resultados mais positivos do que as nossas expetativas, não só de consumidores da Huawei como também de outras marcas. Partilhámos este comunicado nas redes sociais e recebemos um ‘feedback’ positivo, com muitos internautas a reconhecerem os benefícios que a Huawei trouxe para o mercado mobile. Muitos consumidores comentaram que temos trazido muitos contributos de inovação tecnológica e que estão satisfeitos pela presença da marca em Portugal.

Na verdade, um terço dos telemóveis em Portugal são da Huawei e continuamos com muito carinho a tentar contribuir para melhorar a experiência dos consumidores e, obviamente, mantê-los atualizados sobre este tema.

De que forma é que os portugueses podem vir a ser afetados por esta questão seja a nível de smartphones como de computadores portáteis?

Os portugueses, tal como qualquer outro consumidor a nível mundial, não serão afetados. É esse o nosso compromisso. Todos os equipamentos vão continuar a receber atualizações para o sistema Android e continuarão a ter todas as aplicações.

Desde o final de maio até aqui, tiveram vendas ao nível do mesmo período do ano passado?

Tivemos um abrandamento de vendas, muito motivado por um adiamento do processo de compra. Tem sido esse o ‘feedback’ dos nossos parceiros de vendas. Isto foi sentido de forma diferente no nosso portefólio. Houve séries que não foram sequer afetadas por este tema. Outras séries foram mais afetadas.

O que é importante relevar é que nas últimas duas semanas já retomamos o ritmo de vendas do período anterior a estas notícias. Vamos fechar junho esta semana e os números que estão a resultar desta pré-campanha de verão dá-nos toda a confiança que vamos manter este ritmo.

Vamos continuar a ser uma referência no mercado e a ser a empresa que lidera a inovaçãoE perspetivas para o final do ano?

As perspetivas não podiam ser melhores mas não partilhamos números. Mantemos todos os nossos planos, vamos continuar a investir em Portugal do ponto de vista de R&D e de equipamentos e estamos muito otimistas. Estamos ativamente a contribuir para trazer tecnologia cada vez mais fluídas no espectro mobile. Um exemplo disso mesmo é o 5G.

Vamos continuar a ser uma referência no mercado e a ser a empresa que lidera a inovação e traz cada vez mais equipamentos inovadores para o mercado. Não só do ponto de vista tecnológico como da experiência do consumidor.

Por fim, o 5G é cada vez mais falado mas, apesar disso, ainda é tido por muitos portugueses como uma miragem. Muitos falam do 5G mas ainda ninguém tem acesso. Para quando está previsto o lançamento do 5G?

A entidade reguladora ainda não lançou o espectro. Os operadores em Portugal estão dependentes do concurso de espectro. A entidade reguladora está prestes a anunciar quando é que esse concurso será lançado e, no nosso caso, estamos otimistas e a trabalhar com os parceiros locais para estarmos prontos a oferecer essa tecnologia para ficar disponível o mais rapidamente possível.

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