A contagem dos votos continua e está para durar, no entanto, Trump, que já perdeu a liderança conquistada há quatro anos em alguns Estados fundamentais, continua a publicar mensagens que insinuam que houve fraude eleitoral ou a proclamar a vitória na corrida à Casa Branca.
Trump começou a 'incendiar' as redes sociais com um 'tweet' na terça-feira, quando começaram a sair as primeiras projeções, no qual acusou a candidatura democrata de "roubar a eleição" e garantiu que não iria "deixá-la ir".
A ameaça de recurso à Justiça e as dúvidas semeadas no 'mar' digital têm marcado o processo eleitoral.
O Twitter associou às mensagens do Presidente norte-americano a seguinte mensagem: "Parte ou todo o conteúdo publicado neste 'tweet' é contestado e poderá ser enganoso sobre as eleições ou outros processos cívicos."
As publicações de Trump estão ocultadas por esta mensagem, mas os internautas ainda as podem consultar se concordarem em visualizar o 'tweet'.
No Facebook as publicações de Trump ainda estão legíveis, mas a rede social cofundada por Mark Zuckerberg associou informações do Centro de Informações sobre Eleições que mostra os resultados atuais e desmentem a vitória reivindicada por Trump, numa altura em que os dois candidatos ainda estão na corrida.
"Assim que o Presidente Donald Trump começou a proclamar a vitória prematuramente, publicámos notificações no Facebook e no Instagram indicando que a contagem de votos estava em curso e que ainda não há vencedor", explicitou o gabinete de comunicação da gigante de Silicon Valley.
Contudo, as medidas implementadas pelas duas redes sociais são consideradas insuficientes pela sociedade civil.
"Neste preciso momento, a conta do Presidente no Twitter está a publicar mentiras e desinformação a um ritmo infernal. É uma ameaça para a nossa democracia e [a conta] tem de ser suspensa até a contagem estar concluída", escrever, também no Twitter, o democrata eleito David Cicilline, que tem reivindicado a maior regulamentação das redes sociais.
Em relação ao Facebook, as mensagens de Trump têm de ser "absolutamente" removidas, advoga a diretora da organização não-governamental (ONG), Jessica Gonzalez, citada pela agência France-Presse (AFP).
"Estamos à beira de um precipício", prosseguiu a responsável, apelando à rede social para não ser "utilizada para promover ou legitimar a violência".
O dia e noite das eleições presidenciais norte-americanas é uma reminiscência de 2016, na qual houve operações massivas de manipulação da opinião pública de atores nacionais e internacionais.
Um 'exército' de moderadores está constantemente a varrer o 'feed' para impedir a propagação de 'fake news'.
No início de outubro, ambas as redes sociais apagaram contadas vinculadas ao movimento de teorias da conspiração "QAnon".
Num ano marcado pela pandemia, o Presidente dos Estados Unidos, foi considerado a pessoa que mais contribuiu para a propagação da desinformação sobre a pandemia, segundo um estudo divulgado pela Universidade Cornell.
De acordo com esta instituição académica, a Alliance for Science ("Aliança para a Ciência"), da Universidade Cornell, analisou cerca de 38 milhões de artigos, publicados em inglês, em órgãos de comunicação social tradicionais, entre 1 de janeiro e 26 de maio de 2020.
A investigação inclui artigos publicados, em particular, nos Estados Unidos, no Reino Unido, na índia, na Irlanda, na Austrália e na Nova Zelândia, assim como em alguns países de África e da Ásia.
Os resultados estão explanados no artigo científico de 13 páginas "Coronavirus misinformation: quantifying sources and themes in the covid-19 'infodemic'".
O fenómeno foi denominado como 'infodemia', ou seja, uma 'pandemia de desinformação', pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A Alliance for Science encontrou um total de 522.400 artigos publicados com informações falsas relacionadas com a pandemia da doença provocada pelo novo coronavírus.
"Descobrimos que as menções nos órgãos de comunicação social ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dentro do contexto de desinformação sobre a covid-19 constituem, de longe, a maior parte da 'infodemia'", explicita o estudo.
As menções a Trump compõem "37,9% do conjunto" de 'fake news' sobre a covid-19.