"No domínio da inteligência artificial [IA], a confiança é um imperativo, não um acessório", frisou a governante no encerramento da conferência virtual "Inteligência Artificial e o Futuro do Jornalismo - A IA tomará posse do 4.º Poder?".
Ana Paula Zacarias apelou, nesse sentido, para a necessidade "fundamental" de encontrar um "justo equilíbrio entre os benefícios e as questões problemáticas de ética" que a IA pode suscitar.
Reiterando a importância da existência de mecanismos e de meios de comunicação "livres e pluralistas", a responsável realçou que, nas sociedades democráticas europeias, os profissionais da informação têm de estar "no centro e não podem, de nenhuma forma, ser substituídos pelas máquinas".
Apesar de admitir que a IA é "importante para o futuro da imprensa", permitindo, por exemplo, "a tradução automática com maior rapidez" e a análise "comparativa de dados bastante complexos", a secretária de Estado apontou riscos como "a proliferação da desinformação" ou o "'deepfake'", uma técnica de síntese de imagens ou sons usada, por exemplo, para combinar uma fala com um vídeo pré-existente.
Nessa medida, acrescentou, a IA pode "interferir com o direito à informação dos cidadãos" ou "contribuir para amplificar o discurso de ódio".
"Os algoritmos podem ser tendenciosos, discriminatórios, redutores e precisam de ser, seguramente, bastante mais transparentes", sublinhou.
Para isso, Ana Paula Zacarias destacou a necessidade de ter "bons argumentos", "boa legislação a nível europeu" e "boa coordenação entre as instituições europeias e os Estados-membros", o que se traduzirá em "mais democracia e melhor Estado de Direito".
Intervindo no encerramento da mesma conferência, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, assinalou que "uma imprensa livre não depende única e exclusivamente de um quadro legal", mas também da sua "sustentabilidade económica".
De forma a "assegurar jornalismo de qualidade", Graça Fonseca argumentou que a IA "pode e deve ser usada como um instrumento de apoio ao trabalho de jornalistas, assim como uma ferramenta para o desenvolvimento de soluções adequadas aos desafios que se colocam ao setor dos 'media'".
Isto porque a IA tem um "enorme potencial" para a transição digital, para o desenvolvimento de futuros modelos de negócio dos 'media' e para o desenvolvimento da profissão de jornalista.
Apesar disso, e concordando com Ana Paula Zacarias, a ministra da Cultura ressalvou a existência de riscos na aplicação da IA que "são e podem ser potencialmente disruptivos dos sistemas democráticos".
A governante sublinhou ainda "um dos papéis fundamentais do jornalismo", nomeadamente o de impedir os cidadãos de serem "ilhas morais", de se pensarem "isolados".
"O jornalismo é fundamental à democracia não apenas pela sua saudável vigilância, mas pela sua capacidade de promover a empatia, de nos mostrar o outro e todas as suas perspetivas", concluiu.
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