Segundo a Agence France-Presse (AFP), inicialmente o Telegram anunciou a sua intenção de resistir à pressão do poder russo para bloquear o aplicativo do opositor de Vladimir Putin, mas o 'site' automatizado (bot), onde os eleitores poderiam obter instruções para votar contra os candidatos do Kremlin nas eleições legislativas deste fim de semana, foi hoje bloqueado.
Já na sexta-feira, a Apple e o Google acataram de imediato a lei russa e removeram a aplicação de telemóvel da oposição, sendo acusados por Alexeï Navalny de "ceder à chantagem do Kremlin".
Quase nenhum candidato anti-Putin foi autorizado a concorrer às eleições legislativas. Os apoiantes de Navalny estabeleceram uma estratégia chamada de "voto inteligente" destinada a apoiar o candidato em melhor posição para colocar em dificuldades o do partido no poder, Rússia Unida, acrescenta a AFP.
A aplicação permitiu saber em qual concorrente votar em cada circunscrição legislativa, mas também em dezenas de eleições autárquicas e regionais realizadas nos mesmos dias.
No passado, essa abordagem teve algum sucesso, especialmente em Moscovo, em 2019.
No entanto, com o fim do Telegram messenger, que é particularmente popular na Rússia, o aplicativo deixou de estar disponível para aqueles que gostariam de votar contra os candidatos do Kremlin.
O aplicativo desapareceu depois do Telegram anunciar que iria "limitar o funcionamento de 'bots' associados à campanha eleitoral".
O fundador do Telegram, o russo Pavel Durov, disse que estava satisfeito em seguir a decisão da Apple e do Google, "que estabelecem as regras do jogo".
Apesar disso, Pavel Durov estimou que "o facto de a Apple e de o Google concordarem em bloquear aplicações estabelece um precedente perigoso, que afetará a liberdade de expressão na Rússia e no mundo".
Depois do aplicativo ter sido eliminado do Telegram, os apoiantes de Navalny publicaram no Twitter 'links' que encaminham para o Google Docs recomendando candidatos. Esta é a única ferramenta que lhes restou, apontaram.
A base jurídica que a Rússia usa para bloquear a aplicação 'Navalny' e a sua página "Voto Inteligente" é que a rede de escritórios e duas organizações do líder da oposição, incluindo o Fundo Anticorrupção, foram proibidas pela Justiça russa em junho passado, quando um juiz os declarou "extremistas".
As autoridades russas acusam ainda outras empresas americanas - como a Cisco e a Cloudflare - por ajudarem a contornar o bloqueio de páginas 'online' proibidas na Rússia, como o "Voto Inteligente", para além de terem bloqueado seis outros aplicativos VPN (tecnologia que permite contornar mecanismos censórios na Internet).
As eleições legislativas, mas também locais e regionais, começaram na sexta-feira e prolongam-se até domingo.
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