"A criação deste programa teve como primeiro intuito aumentar a nossa base de talento. Sabemos que estas pessoas, chamadas neurodiversos, têm valências próprias extraordinárias, que podem ser muito úteis e contribuir de forma significativa nos nossos projetos de engenharia", disse à agência Lusa Catarina Fonseca, coordenadora deste programa pioneiro a nível nacional.
Segundo a gestora de formação, a "primeira perspetiva foi lançar um programa desta natureza para incluir nas equipas pessoas que possam também contribuir de forma muito positiva, numa perspetiva diferente, com uma visão diferente dos problemas e trazer essa mais-valia".
"Há mais de 10 anos que a Critical Software tem essa ideia de que as nossas equipas não podem ser constituídas por gente igual, com a mesma fisionomia, do mesmo curso, da mesma proveniência. De facto, as equipas ficam enriquecidas se tiverem pessoas diversas e gente com diferente 'background'", salientou.
Para Catarina Fonseca, o Neurodiversidade Programa de Talento "foi mais um passo bastante natural nesse caminho, pois percebeu-se que se estava a abrir uma janela de esperança muito grande para os pais, para os jovens e para os psicólogos que os acompanham".
A coordenadora do programa frisou que, de acordo com os números conhecidos, "85% das pessoas com diagnostico confirmado de autismo estão numa situação de desemprego e a Critical Software queria mesmo dar um passo neste caminho, com uma pequena contribuição para este problema".
Antes de avançar com o programa, a tecnológica de Coimbra formalizou uma parceria com uma empresa dinamarquesa, "muito conceituada mundialmente", especialista em inserir pessoas com perturbação do espetro do autismo no contexto tecnológico.
Na primeira edição, que decorreu em maio de 2021, a Critical Software recebeu mais 70 candidatos, dos quais foram selecionados 10 que receberam uma formação de cinco semanas antes de chegarem à empresa, tendo sido integrados sete nas equipas de trabalho, três em Coimbra e quatro em Lisboa.
"Estão totalmente inseridos nas nossas equipas de trabalho e é um gosto vê-los aqui todos os dias, a contribuírem, totalmente incluídos na dinâmica, nas equipas, a fazer o que sabem melhor, cada um com a sua especificidade como todos nós", sublinhou Catarina Fonseca.
Os sete elementos portadores de espetro de autismo estão a trabalhar em áreas muito diferentes da empresa, desde a banca até à área da cibersegurança, passando pelo setor ferroviário.
"De facto, conseguimos integrá-los em zonas e mercados muito diferentes e é muito gratificante perceber que as equipas os receberam com toda a naturalidade e eles sentiram essa naturalidade", frisou a coordenadora do programa.
Salientando que, inicialmente, a comunidade da empresa teve de enfrentar o "medo do desconhecido", a responsável recordou que o primeiro "grande desafio" foi saber "como é que se vai lidar com estas pessoas, o que é suposto fazer para que se integrem bem e contribuam e se se vai ter de mudar alguma coisa ou como é que será a adaptação".
Para a edição deste ano, o desafio da Critical Software passa por envolver mais empresas no programa, depois de, em 2021, ter recebido imensas mensagens de apoio e incentivo por parte de empresas e profissionais.
Segundo Catarina Fonseca, foi o "'feedback' do ano passado que incentivou a empresa também a continuar e a pensar em alargar a outras zonas do país a iniciativa", que não tem qualquer financiamento público, sendo o investimento totalmente suportado pela empresa tecnológica de Coimbra.
Fundada em 1998, a Critical Software é uma empresa internacional de tecnologia, especializada no desenvolvimento de soluções de software e serviços de engenharia para o suporte de sistemas críticos orientados à segurança, à missão e ao negócio de empresas.
A empresa colabora com clientes internacionais em setores diversos como o aeroespacial, energia, defesa e segurança, finanças, transportes (automóveis e ferrovia), telecomunicações e dispositivos médicos, contando com mais de um milhar de colaboradores e 10 escritórios em Portugal, Reino Unido, Alemanha, Brasil, Moçambique e Angola.
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