Desinformação "é menos eficaz" onde ambiente dos media "é forte"

Delphine Colard, porta-voz adjunta do Parlamento Europeu, afirma, em entrevista à Lusa, que a desinformação é "menos eficaz" onde o ambiente dos media "é forte" e destacou que a inteligência artificial (IA) é um dos grandes desafios.

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Lusa
07/04/2023 17:22 ‧ 07/04/2023 por Lusa

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Delphine Colard

"Existe a ideia de que a desinformação é algo que está a acontecer 'online' e nas redes sociais e não tem consequências na vida real e isso não é totalmente verdade", refere Delphine Colard, nomeadamente durante a pandemia de covid-19, em que se viu que a desinformação "pode prejudicar".

Questionada sobre se a desinformação aumentou nos últimos anos, Colard diz que "há um interesse crescente", recordando que há resoluções votadas no Parlamento Europeu sobre o tema desde 2015.

"Não sei dizer se está a crescer", mas há uma "perceção e a análise é mais refinada" e "incidentes" na vida real resultantes da desinformação, como por exemplo o incendiar de antenas de 5G [devido a teorias de conspiração que ligavam as antenas de quinta geração ao coronavírus].

Delphine Colard elenca o "grande trabalho" da literacia mediática em perceber como o sistema funciona nas redes sociais, a formação nas escolas, a formação nas escolas de jornalismo, como formas de combater a desinformação.

"Não há nenhuma 'silver bullet' [bala de prata] para matar" a desinformação, diz, mas é preciso "trabalhar em diferentes forças de ação para garantir que o seu impacto seja menos importante".

Depois há a parte legislativa, que é "enorme a nível europeu", em que se tem trabalhado para garantir que as plataformas das redes sociais tenham mais "obrigações" no que diz respeito à publicação de conteúdos, sendo "responsáveis pelo que lá está a ser colocado", prossegue a porta-voz adjunta do Parlamento Europeu.

Primeiro foi o código de conduta, que era voluntário, e agora uma nova versão está a ser implementada.

"Teremos a Lei dos Serviços Digitais que entrará em vigor no final do ano e que permitirá, também, impor obrigações adicionais" às empresas das redes sociais, salienta.

Além disso, há outras iniciativas legislativas que, por exemplo, permitem que as pessoas saibam quando estão a ser alvo de anúncios políticos.

Portanto, "este é todo um trabalho legislativo, mas eu diria que outra área fundamental é garantir que os meios de comunicação social possam trabalhar livremente" porque "são também uma garantia para o funcionamento da democracia", sublinha Delphine Colard.

Ferramentas como literacia mediática são importantes, tal como iniciativas legislativas como o ' European Media Freedom Act' [Lei Europeia da Liberdade dos Media], que visa garantir um "ambiente dos media forte", destaca.

"Vemos que a desinformação é menos eficaz a chegar às pessoas onde o ambiente dos media é forte", reforça Delphine Colard.

Depois, "teremos o relatório que está a ser finalizado, o [de Sandra] Kalniete", que "será votado em maio em plenário", destaca a responsável, que tem a ver sobre a ingerência estrangeira em processos democráticos, incluindo a desinformação.

"Não é só esse aspeto da desinformação, mas também a captura de elites, o potencial de corrupção. Portanto, é mais amplo", já que "são diferentes o tipo de táticas para garantir que nas narrativas ou as ideias de certos atores estejam presentes na nossa esfera", os quais "podem interferir" na forma de organização democrática.

Relativamente às eleições europeias, que se vão realizar na primavera no próximo ano, trata-se de um momento "importante".

"Verificamos que os desafios que preocupam as pessoas são, na maioria das vezes, desafios que têm de ser enfrentados em conjunto e que não podem ser resolvidos a nível de um Estado-membro ou região", aponta.

Exemplos disso são a crise energética, os planos de recuperação económica ou o programa de compra de vacinas na pandemia.

Por isso, "o mais importante para o Parlamento agora" é acompanhar a campanha de informação sobre o que foi feito, o que está a ser feito no Parlamento. Outro vetor é incentivar as pessoas a votar, participarem, porque são os seus votos que moldam o parlamento Europeu, as maiorias e o tipo de legislação que será definida.

"Por isso, trabalharemos lado a lado com as autoridades nacionais responsáveis por, naturalmente, acompanhar a campanha de informação", refere.

Para Delphine Colard, um dos "grandes desafios" de agora é ver como "as plataformas de redes sociais vão responder às leis", como é que o DSA - Digital Services Act [Lei dos Serviços Digitais] será implementada "e como é que realmente irá permitir ter mais clareza sobre o algoritmo, mais visibilidade para os investidores e 'fact checkers' [verificadores de factos] e jornalistas".

E, além disso, como as plataformas irão na prática 'deitar abaixo' operações de interferência ou de manipulação de informação, aponta.

O segundo grande desafio é a inteligência artificial (IA), porque a desinformação "já não é uma coisa pouco trabalhada que é óbvia".

"Há um esforço enorme para fazê-la mais credível possível", pelo que é mais "sofisticada", aponta, com conteúdos distorcidos, puramente falsos, em que se pode ir até à manipulação de vídeos ou imagens, as chamadas 'deep fakes'.

"Há um trabalho em curso sobre a inteligência artificial no Parlamento Europeu", recorda.

Apesar de admitir que a IA é uma "oportunidade" em termos de economia e de agilização de processos produtivos, entre outros, Delphine Colard alerta que se não houver nenhum aspeto humano isso acarreta riscos.

Leia Também: Inteligência artificial pode ser útil no diagnóstico de doenças cardíacas

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