Funcionários da 'start-up' OpenAI, na sua maioria gestores de topo, estão a ameaçar uma demissão coletiva face ao afastamento de Sam Altman, cofundador demitido pelo conselho de administração na sexta-feira.
Numa carta, citada pelo Financial Times e pela revista Wired, que entretanto foi divulgada nas redes sociais, os funcionários apontam "má-fé" por parte do conselho de administração da OpenAI, por não ter comprovado os motivos que levaram à demissão de Altman. Além disso, pedem que a administração renuncie e exigem a nomeação de diretores independentes, ou serão eles quem sairá da empresa.
Note-se que, em comunicado, na sexta-feira, a administração disse que Altman "não foi consistentemente honesto nas suas comunicações", o que afetou a sua capacidade "de exercer as suas responsabilidades".
"O conselho de administração não confia mais na sua capacidade de continuar a liderar a OpenAI", dizia o comunicado, sem dar mais pormenores sobre a alegada não honestidade de Altman.
Já esta segunda-feira e dias após ser conhecida a demissão, foi anunciado que a Microsoft vai contratar Sam Altman para liderar uma equipa dedicada à Inteligência Artificial.
O cofundador da OpenAI Greg Brockman, que também se demitiu ao saber da notícia do despedimento de Altman, irá juntar-se a este.
Na carta, os funcionários ameaçam ainda ir trabalhar para Altman na Microsoft, que terá garantido vagas para todos os empregados da OpenAI. Segundo o Financial Times, mais de 500 dos 770 empregados da empresa assinaram a carta.
"A vossa conduta demonstrou que não têm as competências para supervisionar a OpenAI", escreveram gestores da empresa na carta, incluindo Brad Lightcap e Mira Murati.
Surpreendentemente, Ilya Sutskever, responsável científico e que também é membro do conselho de administração, assina a carta. É que, além disso, vários meios de comunicação norte-americanos noticiaram que este administrador teve um papel fundamental na demissão de Sam Altman.
Na carta, os executivos também criticam os administradores por terem substituído Sam Altman por Mira Murati para presidente (interina) e poucas horas depois terem voltado a tomar nova decisão e escolhido Emmett Shear.
Altman, de 38 anos, é considerado um visionário da inteligência artificial generativa (tecnologia que cria conversas, textos, áudios, músicas, vídeo).
Tem-se posicionado politicamente. Qualificou Donald Trump uma "ameaça à segurança nacional" dos Estados Unidos e em 2016 criou uma aplicação para incitar os jovens a votar. Em 2019, organizou uma angariação de fundos a favor do candidato democrata Andrew Yand, que propõe um rendimento básico universal que compense a perda de empregos devido à tecnologia.
"Não é complicado. Precisamos de tecnologia para criar mais riqueza e de uma política que a distribua equitativamente", escreveu Sam Altman no seu blog.
Considerou também, em 2021, que o progresso tecnológico dos próximos cem anos "será muito maior do que qualquer coisa alcançada desde que dominámos o fogo e inventámos a roda".
Na semana passada, participou na Cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), em São Francisco, e disse que a inteligência artificial será maior do que "qualquer uma das grandes revoluções tecnológicas" registadas até agora, mas também reconheceu a necessidade de se proteger a humanidade da ameaça futura da inteligência artificial.
Especialistas em computação consideram que isso é uma maneira de desviar as atenções dos problemas que a inteligência artificial já traz na atualidade.
O Governo americano está particularmente preocupado com o papel que a inteligência artificial generativa desempenhará durante a campanha eleitoral de 2024. A tecnologia facilita a criação de montagens hiperrealistas ('deepfake') e conteúdos falsos e, portanto, facilita as campanhas de desinformação.
[Notícia atualizada às 19h06]
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