Em entrevista sobre o projeto entre o ISCTE e a agência Lusa sobre desinformação e redes sociais durante a campanha eleitoral, Gustavo Cardoso destacou que há uma diferença no panorama informativo em Portugal, porque, desde 2020, está a funcionar "um sistema que lida com a desinformação", tanto interna como externamente.
"Temos 'fact-checkers' a atuar, há uma sensibilização do jornalismo e das pessoas para essas matérias, além de [a desinformação] se ter tornado ela própria uma arma de arremesso político", afirmou o professor catedrático de Ciências da Comunicação no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.
A sensibilização tanto dos jornalistas como das plataformas tem tido resultados e Gustavo Cardoso explica como.
"Quando os nossos 'fact-checkers' em Portugal dizem 'atenção, isto é desinformação' -- à esquerda, à direita, ao centro, onde quer que ela surja -- a reação dos próprios mecanismos é muito grande porque a partir do momento em que um 'fact-checker' aponta isso, as partilhas começam logo a diminuir", afirmou o investigador, que é também diretor do OberCom - Observatório dos Meios de Comunicação Social em Lisboa.
"Não só as pessoas sabem como o próprio algoritmo começa a retirar a visibilidade" dos conteúdos que circulam nas redes sociais e são classificados como desinformação, explicou.
Para o investigador e professor universitário, este efeito "é positivo": "Estamos a criar as instituições necessárias para lidar com um fenómeno que é percebido, independentemente de onde as pessoas se situam, como nocivo".
Mas as redes sociais não são uma realidade única, cada uma tem as suas características, descritas pelos investigadores Gustavo Cardoso e José Moreno, investigador em Ciências da Comunicação - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE-IUL).
Segundo Gustavo Cardoso, "estar no X (antigo Twitter) em Portugal é diferente de estar no X em Espanha ou nos Estados Unidos, a tecnologia é a mesma", mas "a forma como se molda tem muito a ver com a cultura e com as escolhas que foram feitas".
Se nos EUA o X "é entretenimento, é desporto, é política, é basicamente tudo", disse, para explicar: "Em Portugal, fruto da forma como nós, os portugueses, domesticámos o Twitter, o X, é um espaço muito mais político".
"Costumamos dizer, e repetimos muitas vezes nestas análises, que o Twitter [hoje X] em Portugal é o espaço onde estão os políticos, os comentadores e os jornalistas e todos os portugueses que algum dia gostariam de ser políticos, comentadores e jornalistas", definiu.
É "um espaço onde o objetivo é chegar ao maior número possível de pessoas", independentemente de serem ou não conhecidas, e essa "é uma característica que o Twitter tem em comum com o Instagram e com o TikTok".
O Facebook, predominante em termos políticos há alguns anos, é onde estão as pessoas mais velhas - "Foi de onde fugiram todos os filhos e os netos das pessoas que lá ficaram" e que "depois foram para o Instagram e, mais recentemente, para o TikTok", segundo José Moreno.
O Instagram, rede onde estão muitos políticos e candidatos, é um espaço essencialmente de imagem, tal como o Tik Tok, enquanto o Facebook continua a ser muito textual e o X também.
Já o Facebook tornou-se um espaço "que as pessoas frequentam, mas não interagem muito", e o Instagram é uma rede que "as pessoas frequentam e interagem mais".
O Tik Tok, mais popular entre os jovens, que nasceu do Douyin chinês, foi o último a chegar e é onde, por exemplo, o Chega e o seu líder, André Ventura, têm uma presença forte.
O algoritmo do TikTok, segundo José Moreno, "funciona de uma maneira diferente dos outros", dado que tem "uma génese musical", numa lógica de 'playlist' de músicas.
A lógica do Tik Tok é construída "em função das interações" e das "pistas sobre as coisas" que o utilizador pode gostar, o que "é próximo daquilo" que as pessoas gostam mais, explicou Gustavo Cardoso.
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