Ariane 6? "Envolvimento de Portugal vem destacar contribuição para setor"

O responsável da portuguesa Critical Software, Diogo Amorim, explicou ao Notícias ao Minuto qual a importância deste software de telemetria que foi utilizado no foguetão Ariane 6.

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© JODY AMIET/AFP via Getty Images

Daniela Carrilho
11/07/2024 07:20 ‧ 11/07/2024 por Daniela Carrilho

Tech

Ariane 6

O novo foguetão europeu Ariane 6 descolou com êxito, às 20h00 (hora de Lisboa) de terça-feira, da Guiana Francesa, levando a bordo o nanossatélite português ISTSat-1. O software de telemetria do Ariane 6 foi desenvolvido pela empresa portuguesa Critical Software.

O Notícias ao Minuto falou com Diogo Amorim, gestor de Desenvolvimento de Negócio na Critical Software, que nos explicou em que consiste o sistema de telemetria desenvolvido para o Ariane 6.  

"É um sistema avançado que recolhe, processa e transmite dados em tempo real provenientes dos sensores do lançador. Em apenas 5 milissegundos é capaz de agregar e analisar informações cruciais para serem utilizadas pelas estações de controlo terrestre e isto permite a monitorização contínua e o controlo das várias fases do lançamento, além de possibilitar a deteção e correção rápida de eventuais falhas, garantindo a integridade e segurança do lançador", referiu Diogo Amorim.

Além disso, a principal mais valia deste software no foguetão está "na capacidade de garantir que a operação decorra de forma segura e eficaz, tanto durante o voo como após". 

Durante o voo, "a transmissão em tempo real destes dados críticos recolhidos e agregados pelo software permite uma resposta imediata a qualquer anomalia" que será "essencial para o sucesso da missão".

Por outro lado, após o voo, permite "a análise detalhada dos dados" o que poderá dar "informações fundamentais para a melhoria contínua do sistema e preparação de futuras missões".

"As tecnologias subjacentes, como o Time-Triggered Ethernet - um sistema de transmissão de dados - e a linguagem ADA2012, asseguram que o software dá resposta aos rigorosos requisitos de tempo e integridade necessários para missões espaciais de alta complexidade", acrescentou o gestor, salientando que "estas características tornam o software um componente vital para o Ariane 6", uma vez que contribui "significativamente para a sua performance e confiabilidade".

"Envolvimento de Portugal no projeto vem destacar a sua contribuição para o setor aeroespacial europeu"

Este foi o primeiro voo do foguetão que permitirá à Europa recuperar o acesso autónomo ao espaço.

O lançamento é, para Diogo Amorim, "crucial para a Europa" porque "vem restaurar o acesso independente ao espaço num momento crítico da geopolítica mundial".

"Após a saída de cena do Ariane 5 e os problemas técnicos com o Vega-C, a Europa acabou por perder a capacidade própria para lançar satélites, aumentando sua dependência de outras potências", indicou o responsável da Critical Software.

Por sua vez, "o envolvimento de Portugal no projeto vem destacar a sua contribuição para o setor aeroespacial europeu e a importância do país na nova era da exploração espacial e defesa geoestratégica". Além disso, prova também que o país tem "muitas empresas no panorama nacional bastante capazes de entrar em projetos desafiantes e de grandes dimensões como o Ariane 6".

Primeiro nanossatélite concebido por universidade portuguesa. "É um marco significativo"

O primeiro nanossatélite - o ISTSat-1 - foi concebido estudantes e professores do Instituto Superior Técnico e é o terceiro satélite português a ser enviado para o espaço.

Para a Critical Software, o lançamento do ISTSat-1 a bordo do Ariane 6 "representa um marco significativo para Portugal e para esta indústria a nível nacional".

"Sem dúvida que dá um grande destaque à capacidade de criação e inovação tecnológica do país no setor espacial. Este projeto permitiu, também, promover o desenvolvimento de competências avançadas em engenharia aeroespacial e fortalecer a colaboração entre instituições educativas, empresas e o Governo. E é também mais um exemplo de como o trabalho cooperativo pode alavancar excelentes soluções e destacar o talento que existe no nosso país", salientou Diogo Amorim.

O Ariane 6 ejetou às 21h06 (hora de Lisboa) de terça-feira o ISTSat-1. Depois de libertado, "viajará" pelo espaço até ficar posicionado a 580 quilómetros da Terra, acima da Estação Espacial Internacional, a "casa" e laboratório dos astronautas. 

O engenho, um "cubo" que custou cerca de 270 mil euros, vai servir para testar um novo descodificador de mensagens enviadas por aviões que permitirá a sua deteção em zonas remotas e aferir a viabilidade do uso de nanossatélites na receção de sinais sobre o estado de aeronaves, como velocidade e altitude, para efeitos de segurança aérea.

Espera-se o envio dos primeiros dados do ISTSat-1 até cerca de um mês depois do início das operações. Ficará em órbita entre cinco e 15 anos antes de reentrar na atmosfera.

De notar que é com a gama de foguetões Ariane 6 que a ESA pretende enviar em 2026 a sonda espacial Plato, que irá "fotografar" milhares de estrelas e procurar planetas semelhantes à Terra. A missão tem participação científica portuguesa, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.

O Ariane 6, cujo voo inaugural ocorre com um atraso de quatro anos e teve um custo de 4,5 mil milhões de euros, sucede ao Ariane 5, que fez o seu último voo em julho de 2023.

Tal como o seu antecessor, o Ariane 6 foi construído pela empresa francesa Ariane, que irá operar os voos comerciais.

A ESA, da qual Portugal é Estado-Membro desde 2000, prevê um segundo lançamento, desta vez comercial, da nova tipologia de foguetões europeus até ao final do ano. Para os dois anos seguintes estão programados 14 voos.

Leia Também: Tony dos Santos, o luso-belga na dianteira do foguetão Ariane 6

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