De acordo com um relatório divulgado hoje, intitulado "Enviesado desde o interior -- Como as grandes tecnológicas estão a introduzir os seus próprios padrões de inteligência artificial", as grandes empresas tecnológicas estão a decidir "regras cruciais" sobre a implementação da legislação para este instrumento "dentro de portas".
O documento denuncia que as grandes empresas do setor estão a definir como é que esta tecnologia pode ser implementada em proveito das próprias empresas, sem olhar às "consequências sociais" da inteligência artificial: "Investigadores e organizações da sociedade civil expressaram preocupações sobre a decisão da UE de aplicar regras técnicas para debelar os riscos societais e complexos que a inteligência artificial representa."
O observatório dá conta de que dos 143 elementos da comissão técnica para abordar esta questão, "mais de metade (55%) representam empresas ou consultores -- 54 empresas e 24 consultoras".
Os principais interessados em definir como é que a legislação influencia a utilização da inteligência artificial, de acordo com o relatório, são as empresas tecnológicas norte-americanas, incluindo a Microsoft, a IBM, "duas da Amazon, pelo menos uma da Google", mas também a Intel, a Oracle, a Qualcomm e a DIGITALEUROPE, uma organização de lóbi com sede em Bruxelas (capital da Bélgica e cidade onde estão sediadas as principais instituições europeias, nomeadamente a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu).
A presença de Pequim neste organismo técnico é inteiramente composta pela Huawei.
Bram Vranken, um dos investigadores do Observatório da Europa Corporativa que participou neste relatório, considerou que a decisão da Comissão Europeia de "delegar a construção de políticas públicas sobre a inteligência artificial ao privado é profundamente problemática".
Classificando o processo como "opaco, dominado por interesses empresariais e de difícil acesso para a participação da sociedade civil", o investigador considerou que "as grandes empresas tecnológicas estão, efetivamente, a definir as próprias regras" que deviam regular como é que utilizam a inteligência artificial.
Bram Vranken advertiu que, se esta conduta continuar, podem ser colocados em causa os direitos fundamentais dos cidadãos da União Europeia.
Leia Também: Mais de 800 civis morreram em quase um ano na Síria