Na china, há quem esteja a usar a Inteligência Artificial (IA) para receber apoio emocional, mais especificamente o famoso DeepSeek, que está a ser usado pelos mais jovens para fazer "sessões de terapia", segundo uma reportagem da BBC.
Um desses casos é Holly Wang, nome fictício, que perdeu recentemente a avó e que todas as noites usa a ferramenta. "O DeepSeek tem sido um terapeuta incrível. Ajudou-me a ver as coisas de diferentes perspetivas, e faz um trabalho melhor do que os serviços de terapia pagos que tentei", disse a jovem, de 28 anos, à estação.
A primeira vez que recorreu ao DeepSeek, pediu um tributo à sua falecida avó e a resposta demorou 5 segundos. As restantes mensagens tocaram-na profundamente.
Nan Jia, coautora de um artigo sobre o potencial da IA em fornecer apoio emocional, sugere que estes chatbots podem "ajudar as pessoas a sentirem-se ouvidas" de formas que os seres humanos não são capazes. "Amigos e familiares podem ser rápidos em oferecer soluções práticas ou conselhos quando, na verdade, as pessoas só querem se sentir ouvidas e compreendidas", disse a especialista, que é professora de administração e negócios na Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA, segundo a BBC.
Já Fang Kecheng, professor de comunicação da Universidade Chinesa de Hong Kong, destaca que há uma "escassez significativa" de serviços profissionais de apoio psicológico na China e os que estão disponíveis costumam ser "proibitivamente caros" para a maioria das pessoas.
De realçar que os especialistas alertam também que, apesar de poder ajudar as pessoas, a IA não é capaz de fornecer um atendimento adequado a quem precisa de acompanhamento psicológico.
"Aqueles que têm necessidades médicas, em particular, devem procurar ajuda de profissionais capacitados... O uso de IA terá que ser examinado com muita atenção", afirmou Nam Jia.
Recorde-se que a incorporação desta ferramenta pelas instituições chinesas contrasta com a resposta recebida pelo DeepSeek em países da Ásia, Europa, América e Oceânia, que decidiram bloquear a utilização da aplicação chinesa, especialmente entre os funcionários públicos.
A razão invocada é a suspeita de que o sistema de recolha de dados - armazenados na China - possa divulgar informações sensíveis ou "distribuir 'software' malicioso e infetar dispositivos", como defenderam os Estados Unidos.
A DeepSeek causou uma grande agitação no setor global da IA após o lançamento, há algumas semanas, do seu modelo V3, que terá levado apenas dois meses a desenvolver e custou menos de seis milhões de dólares (5,8 mil milhões de euros).
Lançado em 2023 pelo fundo de investimento chinês High-Flyer Quant, o DeepSeek é de código aberto e oferece serviços mais baratos do que o modelo o1 da OpenAI.
No entanto, a enorme atenção que gerou - foi líder em descargas para dispositivos Apple nos EUA - também se traduziu em críticas, uma vez que a aplicação se recusa a comentar questões afetadas pela censura na China, como o massacre de Tiananmen de 1989 ou o estatuto de Taiwan.
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