A Motor Sponsor nasceu em 2017 pela mão de André Marques. Como o próprio contou, numa entrevista exclusiva ao Auto ao Minuto, a empresa que tinha como objetivo tratar a comunicação de pilotos, hoje em dia realiza algumas das competições mais famosas em Portugal.
Se o troféu C1, o Single Seater Series ou até os seus 'Driving Days' fazem da Motor Sponsor uma referência em território nacional, a Fórmula Futuro - competição de monolugares dedicada aos mais jovens - e a Civic Atomic Cup vêm aumentar ainda mais essa tendência.
André Marques, CEO da Motor Sponsor, explicou-nos o que motivou a criação destas novas competições, as aspirações para as mesmas, abordou o plano para 2022 e deixou ainda no ar alguns planos para o futuro.
Todas as competições que fazem parte do trajeto dos jovens têm fórmulas com asas. Fórmula 4, Fórmula 3… Foi por isso que decidimos implementar a Fórmula FuturoComeçando pelo início, como é que nasceu a Motor Sponsor?
Tenho uma ligação ao desporto automóvel desde muito novo. Um tio meu começou a levar-me às corridas e eu iniciei-me nos karts, até que aos 18 anos passei para os automóveis. A partir daí começaram a existir alguns convites para trabalhar em eventos. Mesmo com 16 anos já trabalhava em eventos… Aos 18 é que as agências que já me conheciam passaram-me para instrutor. Entretanto fui para o Brasil, regressei para uma empresa do setor e a certa altura decidi seguir o meu caminho. Sempre esteve na minha cabeça fazê-lo e criei a Motor Sponsor, muito focada na parte da comunicação. Tínhamos vários pilotos e tratávamos da comunicação deles, mas começámos a ter mais solicitações para eventos. Tomámos também conhecimento do Troféu C1 em Inglaterra e foi algo natural. Decidimos começar a fazê-lo cá, correu bem e a parte das competições cá em Portugal começou assim.
Este ano, a grande novidade da Motor Sponsor é a Fórmula Futuro. Como nasceu a ideia para criar esta competição?
Nós já organizamos a Single Seater Series há dois anos e a Fórmula Futuro vai estar inserida na grelha desta competição de fórmulas. Nós a meio da época do ano passado decidimos abrir a Single Seater Series a fórmulas com asas, porque até aqui eram fórmula sem asas, sem apoio aerodinâmico. Apareceram dois Fórmulas Renault, um Fórmula Grip, e começou a gerar-se bastante interesse. Depois, sentimos sempre que os jovens vindos do karting não queriam participar no Single Seater Series porque eram fórmulas sem asas, que hoje em dia já não é usado. Lá fora, todas as competições que fazem parte do trajeto dos jovens têm fórmulas com asas. Fórmula 4, Fórmula 3… por aí fora. Foi por isso que decidimos implementar a Fórmula Futuro.
Era a competição que faltava em Portugal?
Achámos que existe um vazio. Claro que existem competições para os jovens seguir em Portugal, mas a trajetória normal de um piloto que sai do karting é passar para os fórmulas. A partir daí procurámos carros interessantes e fomos para os Fórmula Renault, por já termos esses carros na grelha e por acharmos interessante fazer esse número crescer. Temos tido bastante interesse de jovens, mas também de graúdos, o que é engraçado. Quem for mais velho e participar na Single Seater Series não pontuará para a Fórmula Futuro, porque esta é limitada até aos 25 anos. Ainda não temos pilotos fechados, mas isso é normal porque as épocas começam a ser fechadas mais em março e abril. Nesta altura, os pilotos estão na captação de apoios e não é só na Fórmula Futuro onde isso acontece, é geral. Está a ter uma boa procura, mas veremos o futuro.
Esta competição pode ser uma rampa de lançamento para os jovens a nível internacional?
Em termos de visibilidade sim, sem dúvida. Contudo, acho sempre que lá fora ganhas outra ‘tarimba’. Até a Fórmula Futuro ganhar a competitividade de outros campeonatos internacionais vai demorar muitos anos. Veremos se será possível isso de atingir. Lembro-me que quando a Fórmula Ford esteve no auge há uns anos, os pilotos faziam o Europeu ou iam para fora correr, e depois chegavam cá e parecia fácil, digamos assim. Concordo que pode ser um complemento, mas acho que temos de ser honestos e dizer que nunca substituirá um campeonato internacional.
Pode ser ainda cedo para fazer esta pergunta, mas já pensaram na evolução desta competição?
Era espetacular conseguirmos essa evolução, mas para isso acontecer era preciso reunirmos vários apoios, desde os federativos até a apoios estatais e de marcas. Se tivéssemos uma Fórmula 4 Portugal era preciso haver prémios, ter preços atrativos e neste momento isso não é possível. As marcas cá em Portugal estão neste momento muito viradas para a eletrificação e com toda a legitimidade. Se um dia a Fórmula 4 passar a ser híbrida, talvez possamos começar a contactar algumas marcas. Agora sim, adorava que fosse possível, mas, por exemplo, a grelha fantástica que a Fórmula 4 espanhola tem demorou anos a construir.
Pontos fortes do troféu C1? As horas que conduzes e o custo, que, por minuto, é o mais baixo em PortugalFalemos do troféu C1. Podemos dizer que este é o porta estandarte da vossa empresa?
Foi a primeira (risos). Lançou-nos e foi uma competição que teve um impacto muito grande. Tivemos grelhas como já não se via há muito tempo no nosso país. Foi fruto de muito trabalho e de muita organização. Fomos obrigados a ter uma organização rigorosa, por ser uma competição com muitas pessoas envolvidas, e trouxemos tecnologia. Apesar de ser um C1, fomos os primeiros em Portugal a ter um sistema em que os carros têm uma caixa negra, que regista tudo o que acontece com o carro. Cada um tem um display, que permite fazer a comunicação entre a equipa e o piloto, ou até a organização pode enviar mensagens. Na box tens todos os dados, a que temperatura vai, a que rotação está, onde está, o piloto que lá está… Na altura foi muito importante para o troféu ganhar notoriedade e ser ainda mais apreciado. Acho que somos nos destacamos pelos ‘driving days’ que organizamos. Para teres noção, temos um marcado para dia 6 de março e já está esgotado há três semanas.
Do feedback que tens tido, o que achas que leva esta competição a ter, como já aconteceu, 50 equipas inscritas e mais de 200 pilotos?
Tem dois pontos fortes. O primeiro é que conduzes durante muito tempo. Numa corrida de 24 horas, se estiveres numa equipa de oito, conduzes durante três horas. Noutra competição qualquer para fazer três horas se calhar precisas de uma época inteira. O segundo ponto é o custo, que é baixo para corridas. Se fizerem as contas ao custo por minuto é a competição mais barata do mercado. Além disto, contamos com o carro que tem o custo de operação mais baixo do mercado também. Se partires o motor num C1, tens uma despesa a rondar os 500 ou 600 euros. Se partires um carro todo, tens uma despesa de 4.000 ou 5.000 euros. Se analisarmos outras competições existentes, se calhar há faróis traseiros a custar 500 ou 600 euros. O carro é muito divertido de guiar, já ouvi muitas vezes: ‘epá, isto é muito mais giro do que aquilo que eu pensava’. O carro para curvar bem tem a traseira muito solta e a malta adora isso. Felizmente, temos tido sempre boas grelhas.
A velocidade nacional vive um bom momento, mas acho que falta algum envolvimento das marcasCuriosamente, a Citröen informou recentemente que vai deixar de produzir o C1. Como é que vocês viram esta notícia?
Nós, por acaso, não temos nenhum apoio da marca. Por isso não nos aquece nem arrefece… Fomos muito bem recebidos pela Citröen Portugal. Não nos apoiaram financeiramente, mas emprestaram-nos carrinhas e por aí fora. Sinceramente, nem sabia que o C1 ia acabar. Estou agora a saber por ti (risos). No entanto, isso não nos afeta muito porque não existe relação direta com a produção ou com o modelo. Eles vão é ficar a perder porque é uma grande máquina (risos).
No vosso portefólio têm também a Civic Atomic Cup. Como é que surgiu a ideia desta competição?
Era uma ideia que já tínhamos há uns dois anos, mas a pandemia veio colocá-la em stand-by. No fundo a ideia nasceu um bocado na filosofia do C1. Queríamos ter um modelo que já não fosse de produção atual, porque desta forma consegues baixar o custo de aquisição e de manutenção, e queríamos evoluir. Tínhamos vários pilotos na competição de C1 a pedir outro passo. O Civic é muito barato de comprar lá fora e nem precisa de matrícula. Podes ir à Suíça e nem precisa de ser legalizado. Foi com essa análise que fizemos a escolha, até porque o motor do Civic é muito fiável e já tem cerca de 200 cv. É um modelo que continua a ter um carisma muito grande e história. Vamos arrancar a época inseridos no Campeonato Nacional de Legends e a previsão é termos 10 carros à partida.
Mas nem só de competições se trata a Motor Sponsor. Certo? Fala-nos um bocadinho do trabalho como organizador de eventos.
Imagina que tens uma empresa e vais fazer o ‘kickoff’ deste ano, vais juntar toda a estrutura, e vens ter connosco. Nós propomos algumas atividades como ação em pista ou todo-o-terreno, outros fazem drift, outros realizam um 'team building' a trocarem rodas de um carro, sendo que há sempre uma sessão de sala para apresentar objetivos e por aí fora. Para que tudo isto funcione, nós tratamos de tudo, desde hotéis à contratação de instrutores, catering, carros, seguros e contactar circuitos. São eventos chave na mão. No entanto, podemos também aceder a um evento já planeado, que apenas precise de instrutores, por exemplo. Pegamos na nossa nossa equipa e lá vamos nós.
Para o futuro, têm alguma novidade preparada?
Acho que as competições que temos chegam e não vejo espaço para criar mais nada. É tempo para consolidar tudo o que já existe. Talvez daqui a dois ou três anos possa fazer sentido. Acho que só iremos voltar a criar alguma coisa com o apoio de uma marca e para isso temos de esperar que haja mais competições híbridas ou até uma totalmente elétrica. É muito difícil fazer as competições como nós fazemos só a viver de inscrições porque é muito volátil. Se tiveres uma grelha com 20 carros tudo bem, mas se tens o azar de 10 não quererem vir estás sempre com prejuízo. Não só por isto, mas também acho que é importante criarmos um campeonato com mais condições, com mais prémios. A velocidade nacional vive um bom momento, mas acho que falta algum envolvimento das marcas.