Não era um dos que tinha dez nomeações, mas levou o principal galardão da noite. 'Green Book' venceu o Óscar de Melhor Filme, somando três estatuetas douradas, juntamente com Melhor Argumento Original e Melhor Ator Secundário (Mahershala Ali).
O filme de Peter Farrelly começou a corrida aos Óscares bastante atrás de 'Roma' e 'The Favourite', que somavam dez nomeações cada, mas acabou por surpreender. Ficaram para trás, também, 'Black Panther', 'BlacKkKlansman', 'Bohemian Rhapsody', 'A Star is Born' e 'Vice'.
"Toda a história é sobre amarmo-nos uns aos outros apesar das nossas diferenças e encontrar a verdade, que somos pessoas iguais", afirmou o realizador, no discurso de aceitação do prémio.
A notícia desta vitória foi recebida com surpresa generalizada nas redes sociais, quando se esperava que fosse 'Roma' a levar para casa o prémio principal da noite. Levantam-se algumas questões sobre se este volte-face não terá a ver com o facto de 'Roma' se tratar um filme da Netflix, um facto que custou a Cuarón, por exemplo, a participação no festival de Cannes, de onde foi banido (cortesia da pressão exercida pelas distribuidoras francesas).
'Green Book', sublinhe-se, começou a chamar a atenção depois de vencer o People’s Choice Award no Toronto International Film Festival. Ganhou também o prémio da guilda dos produtores e o Globo de Ouro para Melhor Filme Musical ou Comédia. Depois desta comoção inicial, porém, começou a somar críticas.
A trama trata a amizade improvável entre o músico Donald Waldridge Shirley (Mahershala Ali) e o seu motorista Tony ‘Lip’ Vallelonga (Viggo Mortensen). A história foi escrita por Brian Hayes Currie, Peter Farrelly e Nick Vallelonga, o filho de Tony, que baseou o filme nas histórias que o seu pai lhe contou.
A principal controvérsia em torno do filme tem a ver, precisamente, com a inclusão de Vallelonga na equipa de argumentistas. Ninguém da família de Shirley foi contactado, tornando a dinâmica de ‘Green Book’ unilateral. Segundo os seus familiares, a trama não presta a devida homenagem ao músico. Ainda que transparecendo o seu génio artístico, a família reclama de características que foram exacerbadas, como o vício do álcool ou a alegada homossexualidade, naquilo que parece uma tentativa de mitigar as características menos positivas de Tony Vallelonga (como o racismo).
Nick Vallelonga, porém, sustenta que conversou com Shirley sobre o filme, antes deste morrer, e defende a perspetiva que foi utilizada. "Contámos a história que ele queria contar", indicou, à imprensa, esta segunda-feira de madrugada.