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'Terror e miséria no terceiro reich' no Teatro do Bairro

A decadência de uma sociedade sufocada pelo terror e a desconstrução de preconceitos sobre agentes aterrorizadores caracterizam a encenação de António Pires de 'Terror e miséria no III reich', que se estreia quarta-feira no Teatro do Bairro, em Lisboa.

'Terror e miséria no terceiro reich' no Teatro do Bairro
Notícias ao Minuto

14:38 - 19/03/19 por Lusa

Cultura Palco

Escrita entre 1935 e 1938, quando do exílio do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) na Dinamarca, a partir de relatos de testemunhas e de notícias de jornais, a peça é uma reflexão sobre a ascensão do nazismo na Alemanha, através de uma sucessão de retratos da vida quotidiana do país no período compreendido entre a nomeação de Hitler como chanceler, em 1933, e a anexação da Áustria em março de 1938.

A versão que António Pires leva ao palco do Teatro do Bairro é a da tradução de Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007) que o encenador caracterizou à Lusa como um texto "muito coloquial", o que faz com que "grande parte das pessoas se vá identificar com algumas personagens do texto, mesmo aquelas que é normal [serem consideradas] pessoas horríveis".

Tal como na dramaturgia de Brecht e na tradução da poeta e dramaturga portuguesa, a peça está construída em 15 quadros, cada um antecedido pela leitura de parte de um poema do dramaturgo alemão, que também integra a peça, e que funciona "como uma espécie de prólogo" para cada cena, explicou o encenador.

Construída "em jeito de desfile de quem ajudou Hitler a chegar ao poder", a encenação de António Pires a partir da tradução da autora portuguesa premiada nas áreas de poesia, teatro e literatura, não deixa de remeter para situações da atualidade.

"Não tanto de situações que se passem em Portugal, embora haja coisas com que nos podemos todos identificar, mas, sobretudo, com o que acontece atualmente no Brasil e nos Estados Unidos", disse.

Mas a ironia e a comédia estão sempre presentes na peça, tal como a violência, sublinhou.

A desconstrução de "ideias feitas" sobre quem contribui para a ascensão de regimes totalitários ao poder foi outro dos pontos de referência nesta encenação de António Pires.

O encenador disse ter tentado desfazer alguns preconceitos sobre quem contribuiu, fomentou ou foi agente de terror durante o nazismo, respeitando os quadros da peça de Brecht como o de "A judia" ou o de "Ao serviço do povo", sobre o campo de concentração de Oranienburg, um dos primeiros criados pelos nazis para isolar ou liquidar opositores do regime como comunistas, socialistas, judeus antissemitas, ciganos, ou homossexuais, entre outros.

"A ideia que temos do nazismo é de que foi feito por pessoas muito más, e depois, em várias situações, desde gestos, a atitudes, à forma como agem na vida pessoal, apercebemo-nos que há uma identificação que as aproxima muito de nós", observou António Pires.

E esta constatação foi, precisamente, um dos pretextos para por a peça em cena. Porque "atualmente há muitas situações próximas ou parecidas" como as que são mostradas na peça e que serviram ao dramaturgo alemão para refletir sobre a ascensão do nazismo, mas também sobre os medos e as lealdades com que o cidadão comum se confronta nesses regimes, incapacitando-os, ou mesmo impedindo-os, de decidir entre o que é correto e o que é seguro, concluiu.

'Terror e miséria no terceiro reich' está em cena até 14 de abril, com espetáculos de quarta a sábado, às 21:30, e, ao domingo, às 21:30.

Interpretam Adriano Luz -- que regressa ao palco do Teatro do Bairro -, Carolina Serrão, Francisco Vistas, Inês Castel-Branco, que se estreia no teatro onde há anos funcionaram as rotativas do extinto vespertino Diário Popular, Jaime Baeta, João Barbosa, João Maria, Mário Sousa, Rafael Fonseca e Sandra Santos. Nas personagens de crianças estão Manuel Encarnação e Tomás Andrade.

A cenografia é de Alexandre Oliveira, os figurinos são de Luís Mesquita e como pianista vai estar Nicolas McNair.

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