Mais de cem escritores acusam Bienal Vargas Llosa de "machismo literário"

A crítica sobre a escassa presença de mulheres nos fóruns literários chegou à terceira edição da Bienal de Novela Mario Vargas Llosa, que começou na segunda-feira, em Guadalajara, México, através de uma carta subscrita por mais de cem escritores.

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Lusa
28/05/2019 16:00 ‧ 28/05/2019 por Lusa

Cultura

Polémica

Rosa Montero, Claudia Piñeiro, Guadalupe Nettel e Juan Villoro são alguns dos subscritores do manifesto 'Contra o machismo literário', documento que coloca o tema da paridade de género no centro do debate do evento literário encabeçado pelo Prémio Nobel da Literatura 2010, cujo programa de conversas tem uma representação maioritariamente masculina, revela o jornal El País.

"É inaceitável que, no século XXI, em plena onda de reivindicações pela igualdade, se organize sem perspetiva de género um evento como a Bienal de Novela Mario Vargas Llosa", refere o texto assinado por escritores maioritariamente hispano-americanos.

A sustentar esta crítica, os autores apontam que, entre os membros do painel desta edição, há 13 homens e apenas três mulheres, que há quatro homens e uma mulher entre os candidatos ao prémio bienal, e que o júri do prémio também é composto por quatro escritores e uma autora.

Instituições literárias continuam a organizar e a promover espaços onde a participação das mulheres ainda é minoritária ou nula, e quando os seus responsáveis são questionados, escudam-se numa visão "meritocrática falaciosa", em vez de combater os privilégios masculinos", aponta a carta, numa referência ao evento literário organizado pela Cátedra Vargas Llosa, a Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, Ação Cultural Espanhol (AC/E) e Fundação Universidade de Guadalajara.

Os organizadores da III Bienal Mario Vargas Llosa não comentaram as críticas dos escritores.

O apelo à inclusão nos festivais de literatura foi feito por escritores como Gabriela Wiener, Claudia Piñeiro, Liliana Colanzi, Fernanda Ampuero, Rosa Montero, Mariana Enríquez e Rosa Regas, tendo sido também apoiado por autores como Juan Villoro ou Jorge Volpi.

As autoras assinalaram em várias ocasiões que em quase todas as áreas da indústria editorial continua a prevalecer a presença masculina, embora haja esforços para aumentar a representação feminina tanto em catálogos como em festivais literários.

"Algumas mudanças deram-se graças à luta de mulheres e homens no poder, que se estão a aperceber vão ser severamente criticados por isso, como no caso da bienal. Embora não haja paridade de género natural, parece-me que temos de recorrer [às quotas] até nos acostumarmos a ter mulheres, tanto em eventos como este, como na indústria ", afirma a escritora Guadalupe Nettel, uma das signatárias do abaixo-assinado.

A crítica à bienal surge num contexto em que em vários países da América Latina começaram mobilizações para dar mais visibilidade a escritoras na cena literária, um problema que também se estende às casas editoriais, tanto na sua organização interna como na publicação das obras.

Além disso, no caso do México, várias escritoras têm elevado a voz nos últimos meses conta o assédio e o abuso sexual que sofreram durante as suas carreiras, através de denuncias em redes sociais - em MeTooEscritoresMexicanos -, e mostraram um ambiente que as favorece muito pouco, desencorajando-as de continuar.

"Como escritoras, escritores e pessoas envolvidas com o trabalho editorial, não podemos ficar em silêncio perante a invisibilidade das autoras, nem perante o assédio e o abuso sexual, que também fazem parte do 'status quo' das letras, como revelou recentemente o #MeTooEscritoresMexicanos", acrescenta a missiva.

Entre os signatários, contam-se, além dos mencionados, nomes como Nuria Barrios, Mario Bellatin, Juan Cardenas, Alejandra Costamagna, Aixa de la Cruz, Sabrina Duque, Eltit, Mariana Enriquez, Cristina Fallarás, Nona Fernandez, Laura Freixas, Margarita García Robayo, Libertella Mauro, Lucia Lijtmaer, Fernanda Melchior, Lina Meruane, Lua Miguel, Emiliano Monge, Andrés Neuman, Monica Ojeda, Ivan Repila, Silvia Sese, Samanta Schweblin e Clara Uson.

 

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