"Tenho uma dor muito profunda, de repente esta morte súbita. Sempre fomos extremamente leais. Nunca houve um desentendimento. No essencial estivemos sempre próximos e cúmplices. [...] Somos irmãos de armas. As nossas vidas tocaram-se muito e tocaram-se em muitas aventuras criativas e pessoais", afirmou o cantautor.
José Mário Branco morreu durante a noite aos 77 anos, disse hoje à Lusa o 'manager', Paulo Salgado.
Sérgio Godinho recorda-se de ter conhecido José Mário Branco em Paris, onde este estava exilado: "E imediatamente desenvolvemos uma amizade. [...] Começámos a fazer parcerias e letras para aquilo que viria a ser o seu primeiro disco, e o meu primeiro disco, que foram gravados mais ou menos ao mesmo tempo".
José Mário Branco editou "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" em 1971 e Sérgio Godinho lançou "Os Sobreviventes" em 1972. Os dois álbuns incluem parcerias entre eles e do alinhamento faz parte um mesmo tema, "O Charlatão".
Independentemente da amizade que os uniu ao longo de décadas - reavivada ainda no espetáculo "Três cantos", com Fausto Bordalo Dias -, Sérgio Godinho considera que José Mário Branco "teve uma importância fundamental no renovar da música portuguesa" e sublinha dois artistas com quem ele trabalharam: José Afonso e Camané.
Sérgio Godinho nomeia "a enorme etapa no desenvolvimento sonoro" dos discos do Zeca Afonso que tiveram participação de José Mário Branco e a ligação "absolutamente fulcral" com o fadista Camané. "Foi ele que impulsionou muito".
"Era alguém riquíssimo e fundamental na música portuguesa", disse o músico de 74 anos.
A última vez colaboraram foi no álbum "Nação Valente", de Sérgio Godinho, em que José Mário Branco escreveu a música "Mariana Pais, 21 anos".