Tó Trips recorda a veracidade com que José Mário Branco cantava

O guitarrista português Tó Trips recordou hoje a veracidade com que o músico José Mário Branco, que morreu aos 77 anos, cantava, algo que, "além da sua verticalidade", sempre admirou.

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© Facebook / Tó Trips

Lusa
19/11/2019 13:35 ‧ 19/11/2019 por Lusa

Cultura

José Mário Branco

 

"Uma das coisas que sempre admirei nele, além da sua verticalidade, era uma coisa que já não encontro hoje em dia: a maneira como ele cantava, aquela escola tipo Ary dos Santos ou Jacques Brel", afirmou Tó Trips em declarações à Lusa.

Quando se ouve alguém cantar dessa maneira, referiu, "aquilo é bastante sofrido, é bastante vivido".

"Estás a ouvir alguém cantar e parece que o que está a dizer é a maior das verdades, que aquilo se passou ou que viveu aquilo, uma maneira bastante sofrida, bastante emotiva. Uma coisa que hoje em dia não conheço ninguém que tenha isso", referiu.

Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco, que morreu em Lisboa, é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, sobretudo no final dos anos 1960, quando estava exilado em França, e durante o período revolucionário.

Tó Trips descobriu a música daquele autor na década de 1980, através de uma namorada da altura, "que era da JCP [Juventude Comunista Portuguesa] e gostava imenso de José Mário Branco e de Sérgio Godinho".

O guitarrista explicou que, no pós-25 de Abril de 1974, fartou-se "um bocado de música de intervenção e de música brasileira, era tudo aquilo que se ouvia na rádio" e "quando apareceu o Rock-Rendez Vous [um dos mais importantes espaços na história do rock em Lisboa] e a cena portuguesa de rock" foi esse o caminho que seguiu: "só mais tarde é que eu me reconciliei com esses artistas".

Com os Dead Combo, banda que formou com o baixista Pedro Gonçalves e que recentemente anunciou o fim, teve "a sorte" de um dia participar num concerto no Musicbox com o fadista Camané e com José Mário Branco. "Foi a única vez que estive a falar com ele nos camarins", recordou.

Reconhecendo também a importância de José Mário Branco enquanto produtor, Tó Trips partilhou ter havido uma altura em que chegou a falar com Pedro Gonçalves da possibilidade de o músico "produzir um disco dos Dead Combo". "Eu gostava, mas acabou por não acontecer", disse.

Em 2018, José Mário Branco cumpriu meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999.

A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e de um ao vivo, de um período que vai de 1971 e 2004.

O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro. Regressado a Portugal, depois do 25 de Abril de 1974, foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC), fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo, a União Portuguesa de Artistas e Variedades e colaborou na produção musical para outros artistas, como Camané e Amélia Muge.

 

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