Maria João Pires reencontra piano da infância em entrega de prémio
Maria João Pires voltou hoje ao primeiro piano de cauda em que tocou em público, há 70 anos, quando tinha 4 de idade, e que também foi o primeiro piano de cauda que viu.
© Global Imagens
Cultura Maria João Pires
Esta sexta-feira, dia em que recebeu o prémio Martha de la Cal/Personalidade do ano 2019, da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal, no Museu dos Coches, em Lisboa, a pianista encerrou a cerimónia interpretando o que considerou "um básico", um Nocturno, de Chopin.
Falando aos jornalistas presentes na sessão, Maria João Pires recordou o momento em que, aos 4 anos, numa audição no Conservatório de Lisboa, tocou este mesmo piano e, para espanto da audiência, se colocou de pé no banco para ver o interior do instrumento, que achou "fascinante".
O público riu-se e Maria João Pires não gostou, recordou hoje. Por isso, tocou todas as peças sem fazer qualquer intervalo, afirmou.
Falando sobre o Prémio que hoje lhe foi entregue, disse: "Acho que todos os prémios me surpreendem, porque é sempre inesperado [recebê-los. Não sou uma pessoa que tenha muita relação com o reconhecimento, pois eu própria tenho muitas dúvidas acerca de mim. Cada prémio é sempre uma surpresa".
Ao público, depois de receber o galardão, a pianista afirmou que há agora "que ter a capacidade de o partilhar com os outros, com muita gente" e, dentro das suas possibilidades, "ajudar as novas gerações" de músicos.
Aos jornalistas, disse que a reabertura do Centro de Artes de Belgais, no distrito de Castelo Branco, a tem "feito sentir-se bem". Maria João Pires voltou a abrir a casa de Belgais ao público, mantendo programação regular, desde o segundo semestre de 2018.
Quanto ao reconhecimento, disse: "Não gosto de estar a dizer que não fui reconhecida como devia, nada disso é a realidade". O reconhecimento de que é alvo, como afirmou, não tem apenas origem na perceção que o público poderá ter do seu percurso, mas também nas "circunstâncias", que considerou "boas".
"Não é uma situação que eu procure -- ser reconhecida. Procuro é trabalhar, que é diferente. E o espaço e a possibilidade de se ser aceite são mais importantes do que o reconhecimento de acharem que o que estou a fazer é bom, porque é aquilo que eu sei fazer e às vezes é bom e outras não", disse, entre risos.
Referiu-se ainda à experiência em Belgais como "muito positiva", com "público interessado". É algo que vai continuar enquanto lhe for possível, e a equipa a acompanhar, garantiu.
Presente na sessão, o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Média, Nuno Artur Silva, disse que Maria João Pires "é a mais internacional dos pianistas portugueses", "verdadeira embaixadora de Portugal", a quem deixou uma "saudação calorosa".
O prémio da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal foi entregue pela primeira vem em 1990, tendo distinguido o guitarrista Carlos Paredes.
A sessão de hoje no Real Picadeiro - Museu dos Coches, em Lisboa, abriu com a interpretação do 1.º andamento do Trio em Si bemol maior, opus 97, de Beethoven, por Manuel Prates (piano), Francisco Esteves (violino) e Vasco Ferrão (violoncelo), alunos da Escola de Música do Conservatório Nacional.
Maria João Pires encerrou a cerimónia interpretando "um básico de Chopin", como afirmou, um Noturno do compositor polaco, e assinou o piano, onde constam assinaturas de outros célebres pianistas, como o também compositor francês Francis Poulenc.
O piano veio para Portugal em 1918, adquirido por Elisa de Sousa Pedroso, mecenas da música, e, após a sua morte, em 1958, foi doado ao Conservatório, e entretanto restaurado.
No sábado, ao final da tarde, Maria João Pires será condecorada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio Nacional da Ajuda, antes de um recital.
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