Porto Capital da Cultura 2001 foi "pretexto" para "mudar tudo" na cidade

Antigos responsáveis do Porto - Capital Europeia da Cultura 2001, destacam a importância do trabalho prévio à candidatura e a apresentação de uma proposta "criativa, abrangente e ambiciosa", pois o evento é "pretexto" para deixar "tudo diferente" numa cidade.

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Lusa
29/01/2020 09:05 ‧ 29/01/2020 por Lusa

Cultura

Capital Europeia da Cultura

 

"A Capital da Cultura é um pretexto para a cidade, para tentar trazer algo de novo à sua rotina. No Porto, até a reabilitação urbana, apesar dos incómodos, tornou a cidade mais apelativa e preparada para ser usufruída. Aquelas ruas recuperadas junto aos Clérigos, onde mais tarde se veio a instalar a 'movida', mudaram completamente o espaço da cidade", descreveu à Lusa Teresa Lago, ex-presidente da sociedade Porto 2001.

Para o ex-presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, a iniciativa "foi uma motivação importantíssima para unir a cidade e a região e dar-lhes uma competitividade em matéria de oferta cultural que antes não tinham" e "tudo ficou diferente".

Gomes, que liderou a autarquia entre 1989 e outubro de 1999, altura em que suspendeu o mandato para assumir o cargo de ministro da Administração Interna, considera que um dos fatores que levou o Porto a ter "sucesso" na candidatura a Capital Europeia da Cultura foi ter levado "vários anos a preparar esse caminho".

"Já havia um caminho prévio à candidatura. Foi também por isso que as entidades decisoras escolheram o Porto", observou.

Quase 20 anos depois de o Porto ter sido Capital Europeia da Cultura, juntamente com a cidade holandesa de Roterdão, Fernando Gomes considera que o evento foi "um marco essencial para consolidar os equipamentos culturais de que a cidade e a região necessitavam".

O Porto 2001, como ficou conhecido, foi, ainda, determinante para "consolidar a fixação de públicos e atrair novos públicos", sem esquecer o aproveitamento para a melhoria do espaço público, acrescenta.

Já Teresa Lago sugere que as cidades portuguesas que se vão candidatar ao evento apresentem "uma proposta criativa, abrangente e ambiciosa".

"Uma Capital Europeia da Cultura é um pretexto para a cidade. E a cultura não são apenas as artes clássicas tradicionais, mas também o incentivar a vida intelectual na cidade. No Porto 2001 abordámos também a ciência e o pensamento, a par da literatura ou da música", recordou a responsável.

Teresa Lago defende ainda uma "mistura de componentes", pois daí "resulta uma grande riqueza".

"A recuperação urbana do Porto era uma componente tão importante como a vertente cultural. Acho que deixámos no Porto marcas definitivas na cidade, nomeadamente nos equipamentos, alguns dos quais se tornaram icónicos, como a Casa da Música", afirmou.

Além da reabilitação de ruas da baixa, Teresa Lago recorda a recuperação da marginal entre o Edifício Transparente e a Praia do Homem do Leme.

"Foram componentes inovadoras, que trouxeram as pessoas para a rua e as tornaram mais exigentes em termos de espaço público", disse.

A cidade esburacada, antes e depois de 2001, por causa da Capital Europeia da Cultura, mas também do Metro do Porto, ficaram a fazer parte da história do evento, tal como o trabalho diplomático de Fernando Gomes e do então ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho.

Terão sido essas diligências, nos bastidores da União Europeia (UE), que permitiram, por exemplo, fazer frente à intensa contra-campanha lançada pelos espanhóis, que pretendiam incluir Valência no rol das capitais culturais de 2001.

Gomes afirmou que, nesse cenário, abandonava a sua candidatura, até porque a entrada de Valência iria desvirtuar os fundamentos da proposta conjunta Porto/Roterdão: "As Pontes".

Começando pelas travessias reais, no rio Douro, a candidatura portuense partiu para as "pontes" entre o norte e sul da Europa e, com base nos Descobrimentos, com o resto do mundo.

A argumentação foi acolhida e as duas cidades viram as candidaturas aprovadas em 28 de maio de 1998.

No caso do Porto, seguiram-se sobressaltos: o primeiro presidente da Porto 2001, o banqueiro Artur Santos Silva, foi nomeado em 31 de janeiro de 1999, mas ainda o ano não tinha terminado e já apresentava a sua demissão, por entre críticas a Carrilho.

Com a saída de Gomes para o governo, coube ao seu sucessor, Nuno Cardoso, escolher a astrofísica Teresa Lago para presidir à Porto 2001, mas cedo se assistiu a novos desentendimentos, motivados quase sempre pelas obras de renovação da Baixa.

O ano da Capital Europeia da Cultura chegou com ameaças de nova demissão, mas Teresa Lago "aguentou" até ao final do mandato, em junho de 2002, data em que a Porto 2001 deu origem a uma nova sociedade que geriu os projetos pendentes até à conclusão da Casa da Música, em 2005.

Além do Porto, em 2001, Portugal já recebeu a Capital Europeia da Cultura em mais duas ocasiões: Lisboa, em 1994, e Guimarães, em 2012.

Portugal acolhe novamente em 2027, juntamente com uma cidade da Letónia, a distinção de Capital Europeia da Cultura.

Aveiro, Leiria, Faro, Viana do Castelo, Coimbra, Évora, Braga, Guarda e Oeiras já anunciaram que vão apresentar uma candidatura.

 

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