A tão esperada final do Festival da Canção 2020 (FC2020) é já este sábado, dia 7 de março, e será possível conhecer, por fim, o representante de Portugal na Eurovisão. Chegados à derradeira decisão, o Notícias ao Minuto partilha a entrevista feita a Gonçalo Madaíl, diretor criativo e coordenador geral do evento.
A caminho da final já demos a conhecer as conversas com Marta Carvalho e Hélio Morais, autores das músicas 'Medo de Sentir' e 'Cubismo Enviesado', respetivamente, e com Jimmy P, autor e intérprete da música 'Abensonhado'. Agora, já apurados os oito finalistas, falámos com o diretor da RTP Memória e subdiretor da RTP1, um dos pilares do Festival, para tentar desvendar o que esperar para logo à noite.
Gonçalo Madaíl percorreu connosco as edições passadas, os desafios de engenharia do palco, reconheceu a ausência de polémicas deste ano, levantando ainda o véu a algumas das surpresas que serão apresentadas na final.
Que conceito quiseram criar para o Festival da Canção deste ano?
O conceito já vem de trás e não posso dizer que haja um conceito novo este ano. Mantêm-se dois ou três eixos, que para nós são importantíssimos nesta fase. Primeiro, que a renovação do Festival, que tem acontecido nos últimos quatro anos, passe acima de tudo por reconquistar a relação com alguma parte da comunidade artística e musical em Portugal e isso significa trazer artistas que não dependam apenas e só do universo televisivo, gente com carreiras firmadas, com discos, com tournés, porque trazem não só uma outra experiência e um outro profissionalismo, como são também um retrato daquilo que, de facto, no mercado é contemporâneo. Ouvimos muitas vezes dizer que ‘antigamente é que era e que os tempos de ouro do Festival foram antigamente, porque eram os grandes músicos do momento’ - e de certa forma eram -, e por isso é muito importante para nós, hoje em dia, ter - como já tivemos - alguns artistas, como foi importante à data ter o Fernando Tordo, ou ter o Jorge Palma, ou o José Mário Branco. Essa foi a filosofia da recuperação.
Depois, no convite e nas escolhas, o segundo conceito é a diversidade e uma questão de pluralismo. Até porque isso consegue trazer para dentro do Festival novos sons e novos tons, porque sabemos que hoje em dia a música portuguesa moderna sofre, e bem, de uma bela mistura, que tem a ver com as nossas relações lusófonas, e é também uma demonstração de uma espécie de tolerância artística que o país sempre teve e tem.
Em terceiro, o levar a final descentralizada a uma cidade do país. Além de ser uma obrigação do Serviço Público, que está 'inscrito na nossa constituição', como costumo dizer, é também interessante poder levar o Festival a segundos centros e terceiros centros, até. A mobilização é outra e temos sentido isso. Temos estado à conversa e a acompanhar Elvas há três semanas, para preparar tudo, e sentimos que a cidade se mobilizou para aquilo. Está pintada e vestida de Festival da Canção já de há uns tempos e para nós também é importante que o fim de semana em Elvas seja de festa a todos os níveis e não apenas nas três horas de programa à noite. Celebrar isso juntamente com a cidade é muito estratégico.
Na final podemos esperar um tipo de espetáculo diferente daqueles que vimos até aqui nas semifinais?
Sim, a final é um espetáculo diferente a vários níveis. As semifinais servem primeiro e antes de tudo para resolver os finalistas e é por isso que este ano os programas até foram relativamente mais curtos em duração, sem atuações convidadas. Sabemos que para o público o que importa são aquelas oito canções e daquelas oito quais são as quatro que se vão apurar. A final não. É uma celebração diferente, especial, em particular, porque este ano felizmente calha exatamente no dia de aniversário da RTP e torna-se por si própria a festa de anos da RTP e o que melhor do que fazê-la fora de casa.
Pode revelar alguns detalhes?
Por um lado tivemos um desafio de engenharia a partir do momento em que percebemos que não podíamos utilizar o teto, o que em cenários com esta dimensão, seja aqui ou onde for, é um desafio enorme porque precisamos dos tetos para alimentar o espetáculo, com a iluminação, por exemplo. Por isso, foi preciso chamar a criatividade para a engenharia para conseguir dirigir um cenário a partir do chão e que se autoalimenta. Todos os seus adereços e componentes estéticas estão a servir para suporte e para podermos iluminar, e o teto não vai ter absolutamente nada a não ser alguma iluminação presa em algumas galerias à volta, nas paredes e em zonas seguras. Até para termos uma obra segura e comprometida com as entidades responsáveis, porque é um grande evento.
Depois, do ponto de vista criativo, salvo estes constrangimentos, nos cenários vemos que há uma certa reinterpretação de alguns ícones da cidade de Elvas, particularmente do Aqueduto, com todas as suas galerias. Todo o cenário é profundamente gráfico, pois é constituído na sua maioria por LED. Posso dizer que entre músicas, momentos de apresentadores, outros momentos do espetáculo, estão preparados para a final mais de 80 cenários gráficos diferentes para alimentar todas as situações do programa. Há aí um grande trabalho de composição.
Depois, o programa tem outras componentes, muda de apresentadores, temos utilizado um esquema mais ou menos parecido nos últimos anos. A Inês Lopes Gonçalves faz o pleno na Green Room, porque é muito importante haver um acompanhamento e uma narrativa feita desde o primeiro dia com os próprios artistas. Nota-se muito no dia da final quando a Inês chega à Green Room que já esteve com eles antes e que há um engagement que leva a um processo muito mais giro no direto. Além disso, a Filomena [Cautela] e o Vasco [Palmeirim] trarão certamente outra linguagem e outra energia.
Há espaço para que os apresentadores participem no processo criativo?
Se há coisa que estes apresentadores têm como característica, os três, é a sua intervenção no processo criativo. Não são figuras que depois vão só fazer o deliver, trabalham connosco nisto, são criativos de serviço com a nossa equipa de guionistas, e portanto há logo ali um cuidado de perceber como é que vai ser a abertura deste ano. Há três anos ficámos tão felizes com a abertura que tínhamos conseguido que pensámos que tinha de passar a ser uma coisa anual. É muito importante até de forma interna, porque ao começarmos pela abertura entrosamos também a equipa criativa, conseguindo a abertura, tudo o resto sai de uma forma altamente fluida. Por isso, teremos certamente uma abertura surpreendente e que aborda a temática do aniversário da RTP, bem como algo que nos vai levar para as atuações convidadas.
Sobre essas atuações, já podemos levantar o véu ao que o público pode esperar?
Aqui teremos algumas surpresas interessantes. Todos os anos temos decidido convidar um artista que faça uma espécie de curadoria de um momento musical, ou mais, e este ano convidámos o Samuel Úria para ser o responsável por esses momentos. Demos-lhe um mote que são os 40 anos do boom do rock português e portanto não faltarão canções, refrões, bordões e frases conhecidas do público e sabemos que é festivo. Entendemos que o Samuel Úria e a sua banda saberiam fazer a melhor interpretação rock do século XXI para esse tema.
Para isso, juntamente com o Samuel Úria, vamos ter alguns intérpretes surpresa, como a Joana Espadinha, a Surma, o Alex Teixeira dos D’Alva e o NBC - todos ex-concorrentes do Festival. Poderíamos ter ido buscar outros ex-concorrentes ou até artistas que nunca tivessem concorrido, mas entendemos que é muito bonito podermos continuar esta narrativa de ligação com os artistas que passam pelo Festival e gostávamos de manter essa história.
No final haverá, provavelmente um convidado surpresa e esse gostávamos de deixar para revelar, apenas e só, no momento, porque merece esse impacto.
Como é que se faz o desenho para um tipo de espetáculo deste género?
Quando abordamos a final pela primeira vez é óbvio que há uma coisa que determina o resto que é o recinto. Sabemos que quando estamos perante uma arena circular - como é o caso do Coliseu Comendador Rondão Almeida - é diferente do Pavilhão Multiusos de Guimarães ou de um local retangular como foi o de Portimão, e por isso é muito importante tomar essa decisão sobre o local primeiro. Vamos lá, levamos as equipas todas às escondidas e felizmente conseguimos entre nós e os nossos parceiros, como é o caso da Câmara Municipal de Elvas, que tem sido absolutamente notável, manter a narrativa como queríamos. Depois de olharmos para o local, com as nossas equipas cenográficas, de realização, de produção e com o núcleo duro que coordena o Festival da Canção - Maria Ferreira, Carla Bugalho, Nuno Galopim e eu - isso passa por um rascunho. Este ano, com esta particularidade de não haver teto, esse rascunho foram muitos, muitos rascunhos, até chegar a uma possível solução. Mas depois conseguimos criar a partir daí.
Em 2018, comprometeram-se a durante três anos apostar na descentralização da final do FC. Como tem corrido a experiência?
Tem corrido muito bem. Essa ideia de descentralização tem funcionado muito bem. O compromisso foi simbólico, porque podem ser mais do que três anos e quero acreditar que sim. A vontade, se posso dizê-lo, é a de continuar essa descentralização. É um desafio imenso, do ponto de vista logístico, do ponto de vista da parceira - porque é um teste às próprias capacidades das autarquias - mas acho que temos um país, a meu ver, surpreendentemente sofisticado no que diz respeito às equipas que temos encontrado, com gente muito preparada, com muitas competências. A Câmara de Elvas não ficou nada atrás das outras.
Como é que foi escolhida a cidade de Elvas para a final e porquê?
Havia uma preocupação nossa de descentralizar mais do que os focos urbanos principais e, se virmos bem, nunca sequer tivemos uma capital de distrito nos últimos três anos - Portimão, Guimarães e Elvas. Depois há um encontro de vontades, abrimos a disponibilidade e esperamos que as autarquias também reajam. Não é bem uma candidatura formal, há partes que são subjetivas, que dependem muito da relação que criamos com as equipas. Foi durante esse debate que sentimos que Elvas tinha condições, competências e capacidade para o fazer, bem como muita vontade, de tal forma que percebemos que seriam os nossos parceiros.
O que têm notado de diferente em relação aos Festivais da Canção anteriores?
Acho que há duas diferenças. Uma delas é que este ano temos tido menos polémica e controvérsia. O Festival é uma marca impressionante nesse aspeto, porque é tão antiga e teve os seus momentos mais altos e mais baixos, com maior e menor presença na sociedade, mas o que é facto é que continua a despertar amores e ódios de uma forma surpreendente. É impressionante a forma como as pessoas vivem o Festival e a contundência com que reagem. Mas também temos aprendido a defender-nos ao longo dos anos, a moldar o modelo para que não tenha falhas ou fugas, porque estas coisas estão sempre a evoluir e há sempre questões no regulamento que podem ser melhoradas, que podem ser adaptadas e que nos fazem ir afinando o processo.
Depois há outra inovação que senti com particular importância, que foi o empenho dos próprios artistas na sua abordagem artística para além da parte musical. Tem havido um cuidado e preocupação cada vez maiores com o ambiente cénico, com os adereços, com o melhorar a atuação tendo em conta o palco, e noto que essa talvez seja a grande mudança. Já no ano passado tinha reparado na qualidade das gravações, que os artistas estão a investir nas canções.
Têm de obedecer a algumas condições por parte da organização da Eurovisão, da EBU (European Broadcasting Union), a nível cénico. Alguma vez viram isso como uma restrição?
Não. São regras do modelo, chamemos-lhe assim. É uma opção da RTP seguir as regras da EBU. A EBU no espetáculo eurovisivo tem 42 países e uma dimensão e complexidade, que nós já tivemos oportunidade de experimentar, e por isso tem meia dúzia de regras que são elementares para que o processo seja o mais justo no concurso propriamente dito. E que nós decidimos adotar cá também para habituar o nosso público a que isto é um caminho para outro sítio e que se calhar era melhor começar a alinhar nesse formato logo desde início.
Acaba por ser positivo para todos, porque depois da noite em que o vencedor é escolhido - sábado -, na segunda-feira seguinte nesta mesma mesa onde estamos agora estará sentado o vencedor comigo e começamos logo a conversar sobre os próximos passos, agora, sim, a caminho de Roterdão. E aí há um reconhecimento de que foi bom ter obedecido às regras, porque só têm de se preocupar em melhorar e afinar o que foi feito e não refazer e voltar a fazer para poder levar para a Eurovisão.
Quais são essas regras?
Muito simples. Uma é a duração da música, tem de ter três minutos exatos, se tiver mais um segundo cortam o som - a violência é essa. Depois só podem estar seis pessoas em palco, não pode haver mais, cenários podem haver vários e adereços também, mas elementos são apenas seis a fazer o que quiserem. Outra condição que também impomos igual à Eurovisão é que tudo o que seja vozes dentro da canção têm de ser executadas ao vivo, mas, em contrapartida, tudo o que seja instrumental não pode ser ao vivo tem de ser gravado. Obviamente que isto são regras para agilizar processos, porque entrarem 42 elementos é uma loucura. São tudo formas que ao longo dos anos a Eurovisão foi encontrando e que foi afinando.
Que perspetivas têm para esta final?
Acho que esta é a final mais imprevisível, do ponto de vista do resultado final, que tivemos até agora. Este ano toda a gente fala na Bárbara Tinoco e na Elisa, por causa das tendências e das visualizações, e acredito até que a Bárbara Tinoco pela sua narrativa tenha mais repercussão mediática. Mas dentro dos programas da RTP temos tido o cuidado de não dar mais destaque a uns do que a outros. Somos os árbitros. Acho que são favoritas, mas acho que nesta última semifinal muita gente virou o sentido de voto depois de ver as atuações, por isso acho que pode virar.
O ano passado com o Conan Osiris não achava que isso fosse possível, este ano acho. Ainda assim é preciso não esquecer que o sistema de votação é 50/50, metade público, metade júri, que na final vai ser novo, vai ser feito a partir de todas as regiões, com artistas e músicos. Quisemos que assim fosse porque na final escolhe-se um vencedor e, por isso, em vez de cinco ou seis jurados, quisemos ter pessoas em cada região do país. [Nesta edição, haverá um júri regional dividido em sete regiões: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira].
Além disso, no momento do desempate, caso aconteça, é o voto do público que prevalece, porque sentimos que era muito mais justo e até mais simpático.
A vitória de Portugal em 2017, com o Salvador Sobral, e a participação mais disruptiva de Conan Osiris, em 2019, terão sido dois fatores que contribuíram para que mais artistas quisessem fazer parte da história do Festival?
Acho que sim, a dois níveis. O caso do Salvador abriu os olhos aos artistas sobre o facto de poderem pensar como quiserem do ponto de vista criativo e permitiu mostrar que não há fórmulas para a Eurovisão. O Salvador é a prova disso. Claro que beneficiou da narrativa que foi criada sobre ele nos media e como se sabe o Salvador não a desejava, de todo. Em Kiev, o Salvador atrasou-se e quando chegou e um jornalista da BBC o viu disse: “You really exist” (“Existes mesmo”), portanto dava para perceber que se tinha criado ali um mito. O Conan serviu para outra coisa que foi perceber que não há problema com o rasgo, que podiam trazer os objetos artísticos que quisessem e bem entendessem.
Isto leva-nos aqui a um dilema, que gera muita controvérsia, que é o de haver uma facção pública que entende que tudo o que é feito no Festival da Canção é pensado na ótica da Eurovisão. Esta forma de ver as coisas não é justa nem para os artistas, nem do ponto de vista editorial, porque se convidamos estes artistas é porque são como são e não porque achamos que seria o tipo de artista que venceria cá. Não temos controlo sobre isso, nem temos interesse em ter.
Já vimos anteriormente o caso de um miúdo sozinho a cantar lindamente e a fazer render a Europa e a bater todos os recordes de todos os vencedores da história da Eurovisão. Uma Europa a votar a 42 países é uma coisa completamente imprevisível. Ponho-me sempre a imaginar o que é que pensará uma dona de casa da Arménia, qual é a onda em que está agora o adolescente do Azerbaijão. Tendemos a pensar a Europa daqui, o que pensa a Itália, os espanhóis, que os alemães pensam de outra forma, mas não conseguimos conceber uma Europa a 27 quanto mais uma Europa a 42, que chega ao Médio Oriente e que chega à Ásia menor. Portanto, é completamente imprevisível, é uma roleta russa.
Estes oito escolhidos para ir à final são um retrato completo daquilo que se faz de bom na música em Portugal?
Completo acho que não. Não seria justo nem para com eles, nem para os que não estão no Festival. Acho que foi o retrato possível este ano. Porque é que digo ‘possível’? Porque nós endereçámos convites e há vários artistas que por alguma razão não aceitaram ou porque tinham agenda. Alguns dos músicos deste ano já rejeitaram o convite noutros anos. Nem toda a gente diz que não por estar zangada com o Festival, há de tudo. Estes foram os 16 possíveis. E em relação aos oito finalistas menos completo é. Porque são só oito. Seria muito injusto para a música portuguesa dizer que está ali o retrato. Temos da canção ligeira mais clássica ou da balada mais convencional, a meu ver lindíssima, como temos a chanson française, ou o toque africano mais eletrónico e menos eletrónico. Temos apelos à música tradicional como no caso do Filipe Sambado e portanto tudo isto demonstra diversidade.
Há dois anos Portugal foi o país organizador da Eurovisão. Olhando para trás como foi a experiência de organizar um festival daquela dimensão?
Foi uma experiência incrível e numa primeira fase assustadora. Seríamos inconscientes se não estivéssemos minimamente assustados. É o maior programa de televisão de entretenimento do mundo, com mais audiência, com 200 e tal milhões de espetadores. A Super Bowl e os Óscares fazem menos. Diria que deve haver um programa de televisão que faz mais audiência por ano mundialmente que é a final da Champions. Acredito que na Papua Nova Guiné está a dar a final da Champions e não sei se a final da Eurovisão estará a dar.
Mas 200 milhões… um profissional que trabalhe em televisão uma vida inteira, com tudo o que entregou para emissão, provavelmente nunca atingiu nem um quarto desse total. Ficamos descansados a partir do momento em que começámos a execução porque sentimos que estava a correr bem, sobretudo porque à parte da criatividade, tivemos rigor, foi palavra de ordem, nas contas, nos processos, na segurança, nos procedimentos, na logística, porque de repente estávamos a receber 42 países, não é todos os dias. Foi entre essa sensação de susto e o senhor Jon Ola Sand a entregar a pasta e a dizer que aquilo tinha acabado de cair no nosso quintal, em jeito de piada.
E se caísse novamente no ‘vosso quintal’, a RTP estaria preparada para organizar outra Eurovisão?
Sim. É preciso ver que a RTP não organiza uma coisa desta dimensão sozinha. Precisa das entidades que têm capacidade para responder a isso. De uma cidade, de uma autarquia, de um governo e de um Estado capaz de responder a isso, bem como de empresas privadas para dinamizar comercialmente o evento. Diria que da parte da RTP estamos preparados, tudo o resto acho que sim, também, mas não quero falar por eles. A nível da competência e da capacidade, sem dúvida. Ainda mais já o fizemos antes.
Tendo em conta que a Eurovisão é um festival internacional, não têm receio de que o surto de coronavírus, que se tem espalhado um pouco por todo mundo, tenha impacto no Festival?
Temos, temos receio como toda a gente. Não temos nenhum interesse em estar a trabalhar o ano inteiro para depois abortar as coisas. Agora, estar em pânico com isso não estamos de todo, temos até responsabilidades civis e sociais de não alastrar o pânico, como instituição pública. Cumpre à RTP o seu bom serviço de saber dizer as coisas, mas sem aumentar tons onde não existem.
Há algum plano de contingência?
Há planos de contingência. A EBU está a fazê-los, nós próprios na RTP estamos a fazê-los, temos um ajuntamento de milhares de pessoas este sábado e todos nós estamos conscientes do que estamos a fazer e é por isso que falamos com todas as autoridades necessárias. Estamos a ser acompanhados por toda a gente, pela autarquia de Elvas, pela Direção Geral da Saúde, pelo Governo e o mesmo estamos a fazer em Roterdão com as equipas de lá. Há já reuniões a decorrer com os vários países e delegações.
A EBU não deixou de viajar, nem de ir às reuniões. Determinada reunião foi cancelada porque na sede da EBU em Genebra, na Suíça, houve duas pessoas infetadas e portanto foi preciso cumprir o procedimento. Mas a Eurovisão, inclusivamente, tem feito comunicados públicos a dizer que está atenta e como não sabemos o que vai acontecer, nem nas próximas 48 horas, o que temos de fazer é sabermos comportar-nos perante as coisas e neste momento temos todos os cenários em aberto.
Mas como é que iria funcionar?
Depende do calibre. Poderia ser um evento feito lá e à porta fechada? Depende do calibre do surto. Porque à porta fechada tem lá gente dentro na mesma, técnicos, operacionais, artistas… Tem de haver uma graduação de medidas - em caso laranja, caso laranja escuro, vermelho e vermelho fluorescente. Fazer isso também com a organização - retira-se pessoas, retira-se dispositivos, acaba-se com os eventos sociais à volta do Festival - é uma primeira fase. Acho que a última fase é não haver evento, como já aconteceu com alguns até agora. Há uma escala de medidas que está devidamente argumentada como um guião, mas não sei dizer qual vai ser adotada porque não sabemos o que vai acontecer.