O açoriano Luís Godinho voltou a ser, este ano, um dos vencedores do concurso da Federação Europeia de Fotógrafos.
Depois de o ano passado ter ganho a Câmara de Prata foi-lhe atribuída, agora, a de Bronze, na categoria de fotojornalismo.
Das várias imagens enviadas, foram escolhidas, pelo concurso Fotógrafo Europeu de 2020, duas de São Tomé e Príncipe e uma da República Centro Africana, onde Luís Godinho esteve em dezembro do ano passado, a acompanhar os militares portugueses na missão de Paz da ONU.
A fotografia mostra um menino de olhos assustados. Luís Godinho diz que é o rosto e o olhar “do sangue e da violência do país”.
Aliás, tal como conta ao Notícias ao Minuto, esta foi uma das experiências mais marcantes da sua vida. “Pela experiência, especificidade, perigo e adrenalina foi sem dúvida a reportagem mais impactante da minha vida”, descreve.
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Mas há outras, são dezenas de fotoreportagens internacionais no currículo de Luís Godinho. Todas especiais, mas de diferentes formas. “O Senegal foi importante pois mudou um pouco a minha vida. Em Moçambique fiz duas reportagens em que corri perigo de vida, principalmente, numa delas”, revela.
E foi no Senegal que a defesa dos Direito Humanos ganhou ainda mais projeção na sua vida. “Depois de vencer o Sony Awards, em 2017, com uma fotografia de uma menina no Senegal, ainda cresceu mais esse sentimento e essa vontade em defender os Direitos Humanos. Quando regressei do Senegal fiz uma exposição fotográfica onde depois leiloei e vendi algumas fotografias, no qual o dinheiro reverterá em material escolar e medicamentos para a aldeia dessa menina”, salienta em conversa com o Notícias a Minuto.
Nesse mesmo ano, Luís Godinho fundou a DAR - Dreams Are Real, uma associação que trabalha em parceira com a ONGD HELPO, em Africa, ajudando crianças na área da educação, desporto e artes.
“Depois disso, muitos dos trabalhos que faço em Africa é no âmbito da luta pelos Diretos Humanos. Penso que a fotografia ainda tem um poder de choque poderoso e que isso pode fazer com que pessoas possam ser inspiradas a serem melhores pessoas. Além disso, também mostra que o mundo nem sempre é cor de rosa e que devemos estar gratos por cada dia. O copo deve estar sempre meio cheio”, afirma.
Já as fotoreportagens efetuadas em Moçambique deram origem a uma exposição patente no Museu Nacional do Traje, em Lisboa, que, devido à pandemia da Covid-19, encontra-se, neste momento fechada.
“A exposição chama-se ‘Blood Red Luxury’ e relata a exploração ilegal de umas minas de uma pedra semipreciosa em Moçambique, onde homens, mulheres, adolescentes e crianças tentam a sorte cavando covas gigantes e garimpando em busca das benditas pedras de Granada. Munidos somente de pá e picareta, escavam desenfreadamente centenas de quilómetros de terra, a profundidades de mais de 15 metros. Algumas covas têm galerias subterrâneas onde já morreram trabalhadores, devido ao desabamento dos túneis. Os terrenos são do Governo, mas a exploração é ilegal e sem condições mínimas de trabalho, tanto ao nível da higiene como da segurança. Para além das condições de trabalho desumanas, as minas têm mais impactos negativos. Muitas crianças faltam ou abandonam mesmo a escola, atraídas pelo dinheiro ou forçadas pelos pais a trabalhar”, começa por explicar Luís Godinho.
Além disso, a exploração destas minas, continua a contar o fotógrafo, “aumentou muito a taxa de casamentos prematuros e surgiram novos casos de VIH-SIDA e tuberculose entre a comunidade. Nos arredores da mina, raparigas dos 16 aos 22 anos prostituem-se em palhotas localmente conhecidas como ‘colômbias’”.
“Enquanto, numa parte do planeta, as pessoas exibem, orgulhosas, anéis e colares com pedras preciosas; noutra, seres humanos em condições degradantes escavam nas profundezas para as encontrar”, atira.
Em breve, mas ainda sem data prevista, devido à ‘guerra’ da Covid-19, Luís Godinho vai lançar um livro. “‘A Mudança’ fala um pouco da mudança da minha vida, de três viagens e de pessoas que influenciaram a essa mudança. Desde novo que faço fotografia, mas licenciei-me em Engenharia do Ambiente e cheguei a trabalhar nessa área. Depois segui o meu caminho e lutei pelo meu sonho, pela minha paixão pela fotografia. Para além de ter fotografias que nunca mostrei é também um livro de inspiração, que pode fazer com que outras pessoas lutem pelos seus sonhos”, conta ao Notícias ao Minuto.
Apesar de ter visto a exposição, que quer levar para os Açores, ficar em standby e o lançamento do livro adiado, assim como alguns trabalhos e outras tantas viagens, devido à pandemia do novo coronavírus, Luís não baixa os braços e continua a projetar e a trabalhar.
“Tenho alguns trabalhos que foram cancelados, outros adiados, como também algumas viagens. São tempos novos onde também temos de ter alguma criatividade e nos adaptar. Pensar e preparar novos projetos e novas aventuras. Todas as minhas fotografias estão à venda e é um bom principio. Na verdade, estou sempre e continuo sempre a trabalhar e a procurar trabalhos para fazer. Já dizia o velho ditado que parar é morrer”, declara.