Merkel recorda como "sinais" dia em que Putin soltou cadela numa reunião

A antiga chanceler alemã contou que os seus diplomatas já tinham transmitido à equipa do presidente russo o seu desejo de não ter cães durante as reuniões entre ambos. A sua autobiografia 'Liberdade', que será publicada na próxima terça-feira.

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© AXEL SCHMIDT/AFP via Getty Images

Lusa
23/11/2024 15:54 ‧ há 5 semanas por Lusa

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Alemanha

A ex-chanceler alemã Angela Merkel recordou nas suas memórias a ocasião em que, durante uma reunião, o presidente russo, Vladimir Putin, soltou a sua cadela labrador sabendo que ela temia estes animais, numa forma de "enviar sinais" ao mundo.

 

"Desde a primeira vez que o conheci como chanceler, em janeiro de 2006, ele sabia que tinha medo de cães, porque no início de 1995 em Uckermark fui mordida por um", recordou Merkel na sua autobiografia 'Liberdade', que será publicada na próxima terça-feira e da qual o jornal italiano La Repubblica publica hoje algumas passagens.

A antiga chanceler alemã contou que os seus diplomatas já tinham transmitido à equipa do presidente russo o seu desejo de não ter cães durante as reuniões entre ambos.

"Em 2006, em Moscovo, respeitou o nosso pedido, embora não se tenha privado de uma pequena maldade: na verdade, trouxe-me um presente especial, um grande cão de peluche, e quando mo deu, garantiu que não mordia", relatou.

No entanto, as coisas mudaram um ano depois, em 2007, quando Merkel conheceu "em carne e osso" Koni, a cadela Labrador Retriever do presidente russo, durante uma reunião na sua residência em Sochi.

"Enquanto Putin e eu posávamos para os fotógrafos sentados nos sofás antes da reunião, tentei ignorar o animal, apesar de ele vaguear à minha volta. A expressão de Putin dizia claramente (pelo menos para mim) que ele achava a situação divertida", descreveu.

Merkel sustenta que esta ação foi uma tentativa do líder do Kremlin de "enviar sinais" ao mundo: "Putin mostrou ao público, a outro nível, como pretendia enviar sinais, se necessário com a ajuda da sua labrador preta, Koni, que frequentemente tinha ao seu lado quando recebia convidados estrangeiros", lembrou.

"Só queria ver como reage uma pessoa em apuros? Foi uma pequena demonstração de poder? Só pensei em não perder a calma, focar-me nos fotógrafos, vai passar. Quando terminei a reunião, não discuti o assunto com Putin e limitei-me, como faço frequentemente, à regra da aristocracia inglesa: 'Nunca explique, nunca reclame'", escreveu a política alemã nas suas memórias.

A chanceler da Alemanha entre 2005 e 2021 e uma das principais líderes globais desse período, comentou que Putin já lhe deixava vislumbrar em 2006, há quase duas décadas, as suas intenções de permanecer no poder.

Em concreto, recordou um momento com Putin num carro a caminho de um aeroporto na Sibéria, em abril de 2006, depois de um fórum empresarial, quando lhe disse que a Constituição Russa permitia a sua reeleição se "fizesse uma pausa" após dois mandatos consecutivos.

"A mensagem que recebi das poucas palavras de Putin, naquele dia de primavera na Sibéria, quando nos dirigíamos para um aeroporto, não deixou dúvidas: 'Tenham em mente que permaneço, embora no próximo ano, após dois mandatos, deixe o cargo para um sucessor como a Constituição quer. Voltarei, será apenas uma pausa'", interpretou Merkel.

Em 2008 o então braço direito de Putin, Dmitri Medvedev, acabou por sucedê-lo até 2012, e depois regressou ao poder onde ainda permanece.

Da mesma forma, a antiga líder alemão recordou que Vladimir Putin considerava o fim da União Soviética como "a maior catástrofe geopolítica do século XX" e que já nesses anos lamentava a presença de sistemas de defesa dos Estados Unidos na Polónia e na República Checa, ambos membros da NATO.

Em 2008, a Rússia reconheceu as autoproclamadas repúblicas separatistas georgianas da Ossétia do Sul e da Abecásia e seis anos depois anexou a península ucraniana da Crimeia, ao mesmo tempo que apoiava os movimentos armados pró-russos no leste da Ucrânia.

Embora sem respaldo internacional para as suas ações, o líder do Kremlin ordenou em fevereiro de 2022 a sua "operação militar especial" na Ucrânia, que, quase três a anos depois prossegue, tendo os países ocidentais, incluindo a Alemanha, reunido uma coligação de apoio militar a Kyiv para enfrentar a invasão russa.

Leia Também: Merkel revela como lidava com Trump (e conselho do Papa Francisco)

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