Fotógrafo luso-americano documenta protestos raciais em Los Angeles

O fotógrafo luso-americano Afonso Salcedo está a documentar os protestos raciais que emergiram em Los Angeles após a morte de George Floyd, no final de maio, um momento que considera um "ponto de inflexão".

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© Reuters

Lusa
05/07/2020 10:07 ‧ 05/07/2020 por Lusa

Cultura

George Floyd

 

"Isto é o princípio de alguma coisa que ainda vai durar algum tempo", disse à Lusa o fotógrafo e produtor, que tem uma extensa carreira no entretenimento. "Estes protestos e este movimento todo ainda vão percorrer o resto do ano".

Afonso Salcedo tem fotografado diariamente protestos em vários bairros de Los Angeles e pretende depois pegar no material e mostrá-lo ao público no formato de uma exposição ou até um livro, sendo algo que não está ainda definido.

"Como é um ano de eleições e a pandemia não vai a lado nenhum, vou continuar a seguir este percurso e ligar-me mais aos líderes do movimento, para tentar conhecer as histórias deles e tirar alguns retratos", afirmou.

O trabalho começou por causa da pandemia de covid-19. "Todos os dias ia a bairros diferentes para criar um projeto pessoal e tentar documentar este momento histórico da pandemia", explicou. "A parte surreal disto tudo foi que eu estava a documentar uma cidade vazia e comecei a documentar uma cidade com os maiores protestos sociais de sempre", acrescentou.

Segundo o fotógrafo, a maioria dos manifestantes demonstrou preocupação pela emergência de saúde. "Uma das coisas que é importante notar é que eu não vi uma única pessoa a protestar sem máscara", afirmou. "Mesmo no maior protesto a que fui, as pessoas estavam a tentar criar espaço entre elas".

Nas manifestações, que continuam a acontecer, embora com dimensão mais pequena, Afonso Salcedo vem fotografando uma grande diversidade de participantes. "Vejo famílias inteiras, pessoas de todas as idades, pessoas de cadeira de rodas a protestarem", descreveu. "Nunca senti a comunidade tão unida e isso é muito motivante".

Disse também que a participação da comunidade branca tem sido importante.

"Nalguns protestos vi linhas de polícias a tentarem avançar sobre manifestantes afro-americanos e vi pessoas brancas a meterem-se à frente para defenderem pessoas de outra cor", afirmou. "Foi uma daquelas coisas que não me lembro de ver nos Estados Unidos antes".

O luso-americano estava presente num dos primeiros protestos que acabou em pilhagens. No entanto, referiu que as manifestações têm sido pacificas e que "os problemas que houve eram pessoas de fora que vinham para se tentarem aproveitar da situação para conseguirem roubar".

Salcedo mencionou ainda que a reação inicial de uma "polícia militarizada" levou aos confrontos com os manifestantes. "Quando a polícia começou a deixar as pessoas darem voz às frustrações, as coisas acalmaram".

Os protestos surgiram quando George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.

No entender de Afonso Salcedo, o motivo pelo qual os protestos têm sido tão visíveis e consistentes desde então é a situação anormal que se vive. "A sociedade atingiu um ponto de inflexão entre tudo", afirmou.

"É um ano de eleições com uma pandemia, em que toda a gente está sem emprego, sem saber como vão sobreviver economicamente, e os problemas raciais que estão muito embebidos na sociedade americana", acrescentou.

Perante o que tem visto nas ruas, o fotógrafo disse acreditar que se o Presidente Donald Trump for reeleito em novembro isso "vai criar problemas gigantescos a nível social" e as vozes continuarão a fazer-se ouvir nas ruas. "Não vejo isto como um protesto, vejo como um movimento", sublinhou.

A sua previsão é de que este projeto de documentação estará pronto dentro de um ano.

Formado em Ciência da Computação pela universidade de Southampton e Imperial College, no Reino Unido, Afonso Salcedo vive nos Estados Unidos há 16 anos. Do seu currículo, constam projetos em estúdios como a Pixar, DreamWorks e Disney. O mais recente foi o filme animado "Frozen II", no qual trabalhou em 2019.

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