Exposição conjuga lado terreno e espiritual de Ai Weiwei na Cordoaria

Uma exposição com obras inéditas do artista e ativista chinês Ai Weiwei, que juntará lado terreno e lado espiritual do autor, vai ser inaugurada a 04 de junho de 2021, na Cordoaria Nacional, em Lisboa, anunciou hoje a produção.

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Lusa
20/10/2020 13:46 ‧ 20/10/2020 por Lusa

Cultura

2021

'Rapture' será o título desta exposição - a primeira individual do artista em Portugal - cujas obras originais estão a ser produzidas no país, explorando técnicas tradicionais locais, revisitadas por Ai Weiwei, revelou o artista numa conferência de imprensa, na presença do curador da mostra, Marcello Dantas, e do diretor da promotora Everything is New, Álvaro Covões.

Esta mostra, que ocupará duas alas da Cordoaria até 28 de novembro do próximo ano, também irá conter alguns dos trabalhos mais icónicos do artista, mundialmente conhecido pela oposição ao regime chinês e pelas mensagens no seu trabalho sobre questões políticas e em defesa dos direitos humanos.

"Estou aqui estabelecido há alguns meses, e a aprender com a cultura local e o artesanato", disse Ai Weiwei, que tem trabalhado em Portugal, numa propriedade no Alentejo, onde o projeto está a ser desenvolvido.

O título da exposição reúne duas dimensões da vida e obra do artista chinês: o seu lado carnal, ligado a uma dimensão terrena, de abordagem da realidade e da atualidade, do sensorial, do sequestro dos direitos e liberdades; e uma dimensão espiritual, ligada ao transcendente, à cultura, ao êxtase e à fantasia, como explicou o curador.

"Será o encontro entre a transcendência e o mundo das coisas reais", com uma ala dedicada ao imaginário de Ai Weiwei, a fantasia, a história e cultura das suas raízes, símbolos como os elementos do zodíaco chinês, e outra ala dedicada ao seu lado de ativista político, símbolo da resistência à opressão e defensor dos direitos civis, e da liberdade de expressão, acrescentou.

O curador brasileiro Marcello Dantas disse ainda que as duas alas desta grande exposição do artista chinês estão distintas, mas reunidas, "são como duas asas que fazem o pássaro voar".

"Rapture" - palavra em inglês pode ser traduzida como êxtase, arrebatamento, euforia ou entusiasmo -- será, em parte, o resultado de um trabalho de investigação que Ai Weiwei está a desenvolver em Portugal desde o ano passado, "envolvendo uma pesquisa a métodos e práticas ancestrais que quis reativaraplicá-las na arte contemporânea porque lhe interessa resgatar tradições".

"Fiquei fascinado com os materiais e técnicas tradicionais usados em Portugal", descreveu o artista, de 63 anos, na conferência de imprensa, destacando a cerâmica e azulejos portugueses, bem como a madeira e a cortiça.

De acordo com o curador, estes materiais, para além da pedra e dos tecidos, serão usados na criação das peças originais para a exposição na Cordoaria Nacional, um espaço que o artista admitiu ser "um bom desafio".

Questionado pela agência Lusa sobre como avalia o impacto da atual pandemia na arte contemporânea e na vida dos artistas, Ai Weiwei disse que "o prejuízo já é bastante assinalável".

"A pandemia provocou uma grave crise económica e social que se estende também ao setor da cultura. Sabemos que as instituições culturais já lutavam com a falta de apoio, que se agravou", lamentou, acrescentando que, no entanto, "esta crise é uma oportunidade para repensar a arte, e a relação que queremos ter com ela".

A nova exposição em Portugal servirá igualmente para mostrar o olhar do criador chinês sobre a realidade, as políticas, problemas ambientais ou sociais que afligem todos os povos, contendo obras históricas como "Snake Ceiling" (2009), uma grande instalação em forma de serpente constituída por centenas de mochilas de crianças, em memória dos estudantes mortos no terremoto de Sichuan, em 2008.

"Circle of Animals" (2010), na qual o artista revisita uma série de esculturas composta por doze cabeças de animais do zodíaco chinês que adornavam uma fonte no jardim Yuanming Yuan, nos arredores de Pequim, durante a dinastia Qing, e "Law of the Journey (Prototype C)" (2016), que consiste num barco insuflável de 16 metros de comprimento com figuras humanas e faz alusão à crise global de refugiados.

No decorrer da exposição, haverá ainda um ciclo de documentários sobre a vida e trabalho de Ai Weiwei, que nos últimos anos tem desenvolvido projetos na América latina, nomeadamente Chile, Argentina e no Brasil.

Eleito o artista mais popular do mundo em 2020 pelo The Art Newspaper, Ai Weiwei nasceu em 1957, em Pequim, e tem trabalhado há décadas sobretudo na área do documentário e artes visuais, mantendo uma postura crítica sobre a China em questões de direitos humanos.

Em 2011, esteve preso durante 81 dias, na China, sem acusação, apenas com alegações de crimes económicos, e, depois de libertado, passaram quatro anos até ser autorizado a sair do país.

Entre os seus trabalhos mais recentes estão o filme "The Rest"(2019), sobre a crise dos migrantes, que se seguiu a 'Human Flow', filmado em mais de 20 países, também sobre a temática dos refugiados, e exibido em Veneza, em 2017.

Ai Weiwei viveu quatro anos em Berlim, na Alemanha, e mudou-se para o Reino Unido em 2019.

 

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