Num comunicado hoje divulgado, o presidente do Grande Conselho do Conselho Nacional de Cultura (CNC) e membro da organização desta entidade, Guilherme d'Oliveira Martins, refere que a melhor palavra no momento da morte de Gonçalo Ribeiro Telles é "gratidão": "será para nós sempre um exemplo e uma memória viva".
Gonçalo Ribeiro Telles, figura pioneira na arquitetura paisagista em Portugal, cuja carreira também se destacou na cidadania, ecologia e na política, morreu hoje à tarde, em casa, em Lisboa, rodeado por familiares, revelou à agência Lusa fonte próxima da família.
Lembrando que o arquiteto era o sócio número 1 do CNC, e "o único fundador ainda vivo", Guilherme d'Oliveira Martins refere-se a Gonçalo Ribeiro Telles como "uma referência na cultura portuguesa em todos os domínios em que exerceu atividade ou em que fez sentir o seu magistério cívico".
"Como arquiteto paisagista, o seu lugar, ao lado de uma plêiade notável de portugueses, tornou-se um autêntico símbolo. E pode dizer-se que ocupa uma posição central entre os pioneiros e os discípulos. A sua notoriedade tornou-se marcante, uma vez que soube aliar o domínio da sua arte e da sua ciência, a uma constante ação de mobilização de cidadania em torno do equilíbrio ecológico e da conciliação entre a tradição e o progresso", menciona.
Por isso, Guilherme d'Oliveira Martins defende "que a sua voz continue a ter de ser ouvida, contra todos os atentados que têm levado à destruição de relações equilibradas entre as pessoas e a natureza".
"Gonçalo Ribeiro Telles, ao defender uma perspetiva humanizadora da sociedade e ao pôr as pessoas em diálogo criador com a natureza, chama-nos a agir e a comprometer-nos -- não cedendo à indiferença nem ao conformismo", salienta, lembrando que o CNC "está de luto e a Cultura também".
Nascido em 25 de maio de 1922, em Lisboa, Gonçalo Ribeiro Telles idealizou, entre outros, os chamados "corredores verdes" de Lisboa e concebeu os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, também na capital, em conjunto com o arquiteto António Viana Barreto.
Professor Honoris Causa pela Universidade de Évora e professor Emérito desta instituição, onde criou o curso de Arquitetuta Paisagista, Gonçalo Ribeiro Telles gostava de citar os frescos de Ambrogio Lorenzetti, no Palácio Comunal de Siena, vindos do século XIII, com exemplos de "Bom Governo" e "Mau Governo", na gestão e ordenamento das cidades.
No primeiro caso, sublinhava a imagem de uma cidade de portas abertas, numa comunicação entre o campo organizado e a urbe, com gente a entrar e a sair.
No segundo caso, a mesma cidade mas com as portas encerradas, como num grande condomínio fechado, e as representações da crueldade, da traição, da maldade, da vã glória e da soberba, lado a lado com o tirano.