Eduardo Lourenço "foi o intérprete do pensamento português"

A escritora Lídia Jorge afirmou hoje que o ensaísta Eduardo Lourenço, hoje falecido, "foi o intérprete do pensamento português", e "a figura mais inteligente da segunda metade do século XX", apelando que a sua obra seja transmitida aos jovens.

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Lusa
01/12/2020 22:22 ‧ 01/12/2020 por Lusa

Cultura

Óbito

"Eduardo Lourenço é o ensaísta e filósofo que melhor representa o nosso pensamento, de uma forma não cética nem irónica, e, ao mesmo tempo, apaixonada, por ter conseguido juntar o seu pensamento racional com uma sensibilidade emocional profunda", comentou a escritora, em declarações à agência Lusa.

Professor, filósofo, escritor, critico literário e interventor cívico, Eduardo Lourenço, conselheiro de Estado, considerado um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa, morreu hoje em Lisboa aos 97 anos.

Para a escritora, amiga do ensaísta, Eduardo Lourenço "conseguiu captar, de forma única, o lado luminoso e obscuro da cultura portuguesa" ao longo de mais de 70 anos.

Lídia Jorge admite que o facto do ensaísta ter vivido na Alemanha, no Brasil e em França, fez com que ganhasse um certo distanciamento para analisar o que é ser-se português, "mas a sua inteligência e sensibilidade conseguiria criar esse retrato de Portugal da mesma forma, se nunca tivesse saído do país, porque ele era brilhante".

"Tinha uma cultura humanista vastíssima, e não era uma erudição banal. Era profunda e cheia de sabedoria", acrescentou a autora, comentando ainda o temperamento do ensaísta: "Aliava a generosidade, a alegria e a vivacidade. É raro encontrar um filósofo tão brilhante, e ao mesmo tempo tão humilde, como ele era".

A escritora recém-galardoada com o Prémio da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, considera "fundamental que a obra de Eduardo Lourenço seja divulgada e o seu importantíssimo legado transmitido aos mais jovens".

Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, distrito da Guarda, e morreu hoje, em Lisboa, aos 97 anos.

Prémio Camões e Prémio Pessoa, recebeu também o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, o Prémio da Academia Francesa, e foi agraciado com as Grã-Cruz da Ordem de Sant'Iago da Espada da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem da Liberdade.

Foi ainda nomeado Oficial da Legião de Honra da França e consagrado doutor ´Honoris Causa' pelas universidades do Rio de Janeiro, de Coimbra, Nova de Lisboa e de Bolonha.

Autor de mais de 40 títulos, que testemunham "um olhar inquietante sobre a realidade", como destacaram os seus pares, tem em "Os Militares e o Poder", "Labirinto da Saudade", "Fernando, Rei da Nossa Baviera" e "Tempo e Poesia" algumas das suas principais obras.

 

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