John le Carré: O espião que se tornou escritor e fez brilhar o género

O escritor britânico John le Carré, falecido aos 89 anos, no sul da Inglaterra, trabalhou como espião antes de passar a escrever novelas que fizeram brilhar um género anteriormente ignorado pela crítica literária.

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© Getty Images 

Lusa
14/12/2020 06:11 ‧ 14/12/2020 por Lusa

Cultura

John le Carré

De acordo com a agência literária Curtis Brown, que representava o autor, um dos mais proeminentes na ficção de espionagem em inglês, David John Moore Cornwell, que assinava como John le Carré, faleceu no sábado, na Cornualha, vítima de pneumonia, segundo a família.

Antes de se tornar escritor, trabalhou para os serviços de inteligência britânicos, levando a sua experiência pessoal para a ficção em obras como 'Chamada para a Morte', 'A Rapariga do Tambor', 'O Fiel Jardineiro', 'Guerra de Espelhos', 'A Toupeira' ou 'O Espião que Saiu do Frio' -- um dos mais conhecidos - de um total de 25 obras publicadas em Portugal desde os anos 1960 por várias editoras.

Com uma prosa lírica e concisa, Le Carré conseguiu fundir a complexidade da espionagem na ficção literária, reunindo os ingredientes da traição, o compromisso moral e o preço a pagar por uma vida secreta, que captavam o interesse dos leitores.

Muitos dos seus livros foram adaptados para o cinema ou a televisão, nomeadamente 'A Gente de Smiley' e 'A Toupeira', com Alec Guiness no papel de agende Smiley.

Para Le Carré, o mundo da espionagem 'era uma metáfora para a condição humana', comentou a escritora Margaret Atwood na rede social Twitter, acrescentando que a sua obra é fundamental para conhecer os meados do século XX.

Também o escritor Stephen King lamentou o desaparecimento do autor, descrevendo-o como 'um gigante literário e um espírito humanitário'.

Nascido David John Moore Cornwell, em Poole, Inglaterra, a 19 de outubro de 1931, teve uma educação de classe média alta, frequentando a escola privada de Sherborne, estudou literatura alemã durante um ano, literaturas modernas na Universidade de Oxford, e fez o serviço militar obrigatório na Áustria, onde interrogava desertores dos países de leste.

A vida familiar foi bastante instável, já que o pai se associou a mafiosos e passou algum tempo na cadeia por fraude, enquanto a mãe abandonou a família quando David tinha apenas cinco anos, só vindo a contactá-la novamente aos 21 anos.

Esta incerteza e experiências extremas constantes levaram a que desenvolvesse uma consciência elevada sobre a superfície e a realidade da vida, e uma familiaridade com o secretismo que lhe foi útil para o futuro profissional.

Oficialmente trabalhava como diplomata, mas na realidade esse lugar era um disfarce, já que foi um operacional dos serviços secretos britânicos, trabalhando na Alemanha, durante a Guerra Fria.

A sua carreira como agente secreto terminou quando o duplo agente britânico Kim Philby revelou quem era ao KGB, obrigando-o a terminar o trabalho para o MI16.

Como os primeiros livros foram escritos quando já trabalhava como espião, os superiores exigiram que usasse um pseudónimo para não ser reconhecido, e escolheu o apelido francês Le Carré simplesmente porque - dizia - gostava da 'sonoridade vagamente misteriosa das palavras'.

 

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