"Diria que é uma viagem pela palavra escondida, uma viagem que duas pessoas optam por fazer. Chegam a um local surpreendentemente agradável para eles e aí abancam e acontecem várias aventuras durante essa estadia", adiantou o encenador.
José Rui Martins, também diretor artístico do Trigo limpo Teatro ACERT, disse que "é a ausência da palavra, se bem que entendida como a palavra dita", que marca a ação, uma vez que "o espetáculo não tem a palavra, mas tem a palavra contida em cada gesto, em cada atitude".
"Mesmo as próprias músicas que, não sendo cantadas, têm palavras subjacentes, e aquilo que desejamos é que o espectador ao seguir esta viagem, encontre as palavras que realmente conduzem as ações e que o subtexto deste espetáculo seja como se fosse um grande texto", acrescentou.
O encenador explicou à agência Lusa que em palco estão Miguel Cardoso e André Cardoso, que não têm parentesco familiar. São músicos, e "foi a música que os fez cruzar o caminho, e têm os dois experiências pontuais no teatro".
"Como trabalho de fundo, é o primeiro que fazem. O André Cardoso é professor de música no Conservatório Azeredo Perdigão, em Viseu, e o Miguel Cardoso é professor na Faculdade de Medicina Dentária da Universidade Católica de Viseu, e faz umas consultas em clínicas e ainda tem tempo para isto, para criar e fazer acontecer", contou.
José Rui Martins adiantou que "o Miguel [Cardoso] anda, pelo menos, há uns 10 anos, a amadurecer este espetáculo, criou-o, construiu os instrumentos musicais e, juntamente com o André [Cardoso], desenvolveu este guião".
"Esta grande viagem é conduzida fundamentalmente por um espírito inventivo e um amadurecimento da ideia original que constituiu um desafio artístico e criativo cujo resultado, pelo menos para quem trabalha no espetáculo, é extremamente gratificante", elogiou.
No palco estão "duas pessoas que têm provas dadas e com uma relação afetiva muitíssimo forte, e depois é uma caixinha de surpresas", disse, sem querer desvendar o que se passa ao longo dos 60 minutos de viagem.
"A interpretação teatral é tão equilibrada como a musical, e a forma como corresponderam aos desafios que nos fomos fazendo uns aos outros é extremamente maravilhosa, porque são dois intérpretes que sonhavam com isto desde há muito, e isso nota-se na cumplicidade que têm", caracterizou.
José Rui Martins admitiu que se questiona "como é possível ter uma resposta tão grande em termos interpretativos", e afirmou não ter "a mínima dúvida que isso advém de um sonho que [os intérpretes] vêm alimentando dentro de si e que estava mortinho para sair, e este 'Car12' é exatamente isso, uma viagem pelo fantástico".
"Não é um espetáculo que, do nosso ponto de vista, tenha catalogação, ou seja, se é de mímica ou 'clown'. Há uma linguagem que estamos a explorar e que cruza tudo isso. A linguagem 'chapliniana' ou todos esses universos, mas procurando encontrar também alguma identidade na própria representação dos dois músicos/atores num guião fortemente marcado por uma partitura musical, e é arrepiante", considerou.
O encenador não escondeu a "imensa felicidade" com os resultados obtidos e, "sem qualquer tipo de pretensiosismo", assegurou que "é um espetáculo do ponto de vista artístico e criativo que tem muita novidade na cena teatral e musical portuguesa".