Num documento a que a Lusa teve acesso, a APEFE fez três propostas sobre a realização de espetáculos, quando houver reabertura da atividade cultural depois do confinamento, tendo em conta "a experiência adquirida e a ausência reconhecida de surtos do vírus em equipamentos culturais", assim como "o cumprimento exemplar das regras determinadas" pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Uma das propostas diz respeito ao aumento do número de lugares das salas de espectáculos dos atuais 50% para 66% da lotação máxima, para ter, com "a brevidade possível", "uma lotação de 100% em todas as salas e equipamentos culturais".
É ainda proposta a criação de "bolhas seguras" para todos os eventos, fazendo-se testes-pilotos já em alguns eventos, quando terminar o período de confinamento.
"Entendemos por 'bolhas seguras' eventos cuja entrada fica condicionada a pessoas que se apresentem já vacinadas contra o covid-19 com o seu boletim de vacinas ou portadora", defende a APEFE.
A APEFE foi uma das entidades representativas do setor presentes hoje numa primeira reunião com o Governo, destinada a criar um grupo de trabalho e "definir uma estratégia que permita" a realização de festivais e concertos em 2021.
Em comunicado oficial, a APEFE sublinha que todas as associações presentes na reunião "demonstraram a sua total disponibilidade para apresentar, estudar e colaborar com o Governo", para que "o público possa voltar a desfrutar e usufruir de festivais e espetáculos de música".
A Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos (APSTE) reforçou também, em comunicado, os objetivos da reunião, a criação de um grupo de trabalho para "definir as regras ou procedimentos necessários para que, mesmo no atual contexto, se possam realizar diferentes tipos de eventos sem, no entanto, comprometer a saúde pública".
Na reunião estiveram a APEFE, a APSTE, a Associação de Promotores, Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), da Associação Portuguesa de Festivais de Música (Aporfest), a Associação Espetáculo -- Agentes e Produtores Portugueses (AEAPP).
Do lado do Governo, estiveram a ministra da Cultura, Graça Fonseca, "representantes da Secretaria de Estado Turismo, da Secretaria de Estado da Saúde e da IGAC [Inspeção-Geral das Atividades Culturais]".
A equipa de trabalho irá reunir-se novamente dentro de duas semanas.
A pandemia da covid-19 impediu a realização de dezenas de espetáculos em Portugal em 2020, e obrigou ao adiamento de festivais e outros eventos para este ano.
Embora haja datas marcadas para vários festivais de verão, como o Rock in Rio Lisboa, o Alive (Oeiras), o Primavera Sound (Porto) e o Sudoeste (Zambujeira do Mar), os promotores querem saber em que condições poderão realizá-los.
À agência Lusa, o presidente da Aporfest, Ricardo Bramão, explicou que, na reunião, "não foram dadas garantias ainda" da realização de festivais este ano, mas "abriu-se uma porta" para as estruturas apresentarem "soluções em específico".
"Estamos dependentes da atualidade, mas a questão é perceber como podemos trabalhar perante a atualidade, com os casos lá fora, casos que foram possíveis pôr em prática. Temos planos para poder efetivar e, na próxima reunião, haver bastante 'fumo branco'", disse.
Na semana passada, em declarações à agência Lusa, o promotor Luís Montez falava da criação de "espaços, bolhas, livres de covid-19, que é 'só entra quem tem vacina ou tem teste negativo'", copos recicláveis e álcool gel a ser distribuído em mochilas nos recintos e salas.
"Há várias ideias [como a] colaboração com vários laboratórios, no sentido de, 'quem tiver bilhete, vai ao laboratório e faz o teste'", afirmou Luís Montez.
Na quarta-feira, perante o anúncio do Governo de novo confinamento geral para conter a propagação da covid-19, o promotor Álvaro Covões falava à Lusa do "agravamento de uma tragédia".
"Trabalhamos num setor que não funciona em 'take-away', teletrabalho ou 'delivery'", disse Álvaro Covões, sublinhando que o setor da cultura necessita de "uma bazuca" de apoios.
Portugal continental entrou hoje, às 00:00, num novo confinamento geral, devido ao agravamento da pandemia de covid-19, com os portugueses sujeitos ao dever de recolhimento domiciliário, mas mantendo as escolas com o ensino presencial.
No âmbito da modificação do estado de emergência no país, o Governo determinou, na quarta-feira, um conjunto de medidas extraordinárias que vão vigorar até às 23:59 de 30 de janeiro para "limitar a propagação da pandemia e proteger a saúde pública", entre as quais o encerramento dos equipamentos culturais.
Em Portugal, morreram 8.543 pessoas dos 528.469 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.