Cave Photography revela fotos dos 1.ºs 45 dias do Estado de Emergência

The Cave Photography, arquivo fotográfico sediado no Porto, apresenta, no dia 18, uma publicação de 45 imagens, retrato dos 45 dias do primeiro confinamento, um ano depois da declaração do primeiro estado de emergência em Portugal, por causa da pandemia.

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Lusa
04/03/2021 14:26 ‧ 04/03/2021 por Lusa

Cultura

Fotografia

Trata-se de uma publicação de fotografia contemporânea, primeiro resultado do projeto colaborativo desenvolvido durante esse período de confinamento, decorrido de 19 de março a 02 de maio de 2020, que toma por título o número de ordem do decreto-lei que instituiu o estado de emergência, "14-A/2020", publicado em Diário da República, em 18 de março do ano passado.

O projeto colaborativo decorreu durante esses 45 dias de confinamento, permitindo a publicação, nas redes sociais, de uma seleção de 120 imagens de fotógrafos e artistas de todo o país - Portugal Continental e regiões dos Açores e da Madeira -, criadas durante esse período.

"Lançámos um desafio nas redes sociais e recebemos mais de 200 imagens. O Rui Pinheiro e o Miguel Refresco, que são os curadores deste projeto, fizeram uma seleção inicial que resultou em 120 imagens, que foram sendo publicadas", explicou à Lusa Joana Alves, da The Cave Photography.

O título do projeto derivou diretamente do Decreto-lei presidencial, n.º 14-A/2020, uma vez que, durante um período de 45 dias, "pela primeira vez em democracia, a sociedade viu suspenso o exercício dos seus direitos e liberdades", sublinhou a responsável à agência Lusa.

"Em registo mais documental ou conceptual, representam-se as janelas que, por esses dias, são as nossas portas, as videochamadas que colmatam a falta de abraços, ou os animais do exterior que contrastam com as famílias em isolamento", explicam os promotores deste projeto.

Do total de 250 imagens recebidas, uma seleção de 45 é agora publicada num jornal físico que se apresenta ao público, e cuja edição teve o apoio da Direção Regional de Cultura do Norte.

Da lista de fotógrafos que participam nesta publicação, constam nomes como Alfredo Cunha, Augusto Brázio, Céu Guarda, Clara Azevedo, Eduardo Gageiro, Pauliana Valente Pimentel, Adriano Miranda, Leonel de Castro, Paulo Pimenta, aos quais se juntam artistas cujo percurso se tem afirmado noutras disciplinas de imagem, como os cineastas Edgar Pêra e Gonçalo Tocha, ou Marta Von Calhau, da dupla de artes visuais.

Eduardo Gageiro, um dos fotógrafos do 25 de Abril, enviou uma imagem com "um valor simbólico incrível, em que ele está a fazer testes de impressão para o seu último livro de fotografia, mostrando a imagem que tirou do famoso soldado que retira a fotografia de Salazar da parede, quando se tomou o Quartel do Carmo", destacou Joana Mesquita Alves.

Em declarações à Lusa, o fotojornalista Leonel de Castro explicou que o convite para documentar este confinamento a partir de casa, partiu de Rui Pinheiro, um dos curadores do projeto, a par de Miguel Refresco, ambos fundadores da The Cave Photography.

"Como tinha acabado de chegar de Moçambique, tive de ficar duas semanas de quarentena. Como não podia fotografar no exterior comecei a fotografar a minha família e o quotidiano da minha família, os meus filhos em tele-escola, a minha mulher em teletrabalho e eu próprio ali a ver as coisas a acontecerem lá fora e a não conseguir acompanhar, documentar. Virei-me para dentro, para a minha família, e foi assim que fiz uma serie de imagens", explicou.

Para o projeto, Leonel de Castro selecionou uma imagem do filho a dormir, "ainda enrolado na cama, de manhã, um bocado perdido na atmosfera familiar e rodeado de imagens que fui criando ao longo do crescimento dele".

"Uns [fotógrafos] viraram-se para a rua, para o que viam a partir das janelas, e eu virei-me para a minha família. Dentro desta catástrofe social, as crianças foram muito sacrificadas, no espaço que necessitam para crescer e libertar energia", afirmou.

Entre as 45 fotos selecionadas para a publicação que agora será lançada, consta também uma imagem do fotojornalista Adriano Miranda, que falou à Lusa de Maria Emília, retratada na foto que escolheu para o projeto "14-A/2020".

"Maria Emília fez 80 em pleno confinamento. Uma mulher cheia de energia, que ainda trabalha, e que de um momento para o outro se fechou literalmente em casa. Não recebia ninguém, não saía. Iam lá deixar as compras à porta. Convenci-a a deixar-me fotografá-la num terraço de sua casa, onde ela ia sempre apanhar ar. É um exemplo dos milhares ou milhões de pessoas que se fecharam em casa, não por não terem vontade de sair, mas por receio do 'bicho' que desconheciam", descreveu.

O fotojornalista contou ainda que, na primeira semana de confinamento, também ficou em casa. Depois, começou "a ter de sair": "Já não aguentava estar sem fotografar, e fui à procura de histórias. O país estava parado, comecei a fazer a minha própria agenda, e fui à procura de histórias como a de Emília", disse.

O pré-lançamento desta edição do projeto "14-A/2020" acontece entre os próximos dias 13 e 17.

As encomendas realizadas no Grande Porto, durante este período, serão entregues em mão e de forma gratuita, de 18 a 20 de março.

No dia 18, será o lançamento oficial da publicação que terá um preço de cinco euros. As encomendas poderão ser feitas por 'e-mail' ou através dos contactos nas redes sociais.

The Cave Photography apresenta-se como um arquivo/coleção de fotografia contemporânea.

Em estreita ligação com a Rua 31 de Janeiro, inaugurou o seu espaço físico no dia 01 de fevereiro de 2020, e iniciou assim a sua primeira fase de existência.

Está integrado no edifício da Casa Vicent, um dos mais icónicos exemplares de 'art nouveau' da cidade do Porto.

A The Cave Photography parte do trabalho de autor de doze criadores e com eles alicerça o arranque da sua coleção permanente. Artistas, fotojornalistas e fotógrafos que trabalham a cidade e o mundo.

Este espaço promove a partilha, a venda e o aluguer de fotografia. Tem vindo a desenvolver, partindo deste contexto participativo, um programa educativo que visa o trabalho conjunto e de aproximação com escolas e estabelecimentos de ensino superior de artes visuais da cidade.

Leia Também: Editoras e livrarias nascem e singram na pandemia "navegando à bolina"

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