"Sentimos uma grande responsabilidade por estarmos a representar um povo"

Os Black Mamba foram os grandes vencedores do Festival da Canção 2021 e vão representar Portugal na Eurovisão. O Notícias ao Minuto esteve à conversa com a banda.

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© RTP | Pedro Pina

Sara Gouveia
19/03/2021 09:50 ‧ 19/03/2021 por Sara Gouveia

Cultura

Festival da Canção 2021

Ganharam o Festival da Canção com "muita confiança" na música que levaram - 'Love Is On My Side' - mas com alguma surpresa ao mesmo tempo. A canção fez história por ser a primeira integralmente em inglês que Portugal leva à Eurovisão e os responsáveis por essa novidade são Tatanka (Pedro Taborda, vocalista), Miguel Casais (bateria), Rui Pedro Pity (baixo), Marco Pombinho (guitarra acústica) e Guilherme Salgueiro (piano), mais conhecidos como Black Mamba. 

Depois de uma década de carreira, a banda decidiu aceitar o convite da RTP, participar no concurso e dizem esperar que "mais artistas com carreiras consolidadas" decidam fazer o mesmo.

O vencedor do Festival foi escolhido com a votação do júri (em representação das sete regiões do país) e do público, tendo um peso de 50% cada um. No entanto, em caso de empate - como aconteceu - a pontuação do público prevaleceria. Foi assim que os Black Mamba ganharam em detrimento de Carolina Deslandes, que também obteve 20 pontos, "por um triz", como o próprio nome da canção da artista dizia.

A banda esteve à conversa com o Notícias ao Minuto e falou um pouco sobre a experiência, o momento da vitória e o que esperam da Eurovisão.

A 65.ª edição do Festival da Eurovisão decorre nos dias 18, 20 e 22 de maio, em Roterdão, nos Países Baixos.

Quando começaram a pensar na ideia de participar no Festival da Canção, alguma vez imaginaram que poderiam ganhar?

Tantanka - Ao início tínhamos muita confiança na música, na canção que escolhemos. Depois à medida que as coisas se começaram a revelar - os artistas que iam interpretar, as próprias tendências dos lyrics vídeos depois das atuações das meias-finais - já não achávamos tanto isso [risos].

Era um sonho participar?

Tantanka - Nunca tínhamos pensado nisso, até que nos convidaram. Porque não acontece muito artistas com carreiras já firmadas submeterem-se àquele escrutínio. Estás sujeito a uma votação, a não ganhar, a que as pessoas não gostem, estás sujeito a muita coisa... e logo este ano coincidiu ir também a Carolina [Deslandes]. Pode ser um mudar de mentalidades e fazer com que nos próximos anos assistamos a mais artistas com carreiras consolidadas a assumirem as suas próprias canções, porque acho que faz sentido, se as pessoas se sentirem confortáveis a fazê-lo, acho que faz todo sentido.   

Achávamos que nunca na vida iríamos ganhar do público à Carolina [Deslandes]

Como foi viver aquela votação imprópria para cardíacos? Conseguiram começar a fazer contas?

Tantanka - Íamos deixar ao acaso, mas a primeira votação do júri foi logo 12 pontos e começou a meter o pessoal a sofrer. Depois houve assim várias pontuações seguidas muito boas e a partir daí começou a ser impróprio para cardíacos, como dizias. Começámos a tocar viola e já nem estava a olhar para lá, nem a ouvir nada [risos].

Sentimos uma grande responsabilidade por estarmos, a partir deste momento, a representar um povo e não só a nossa base de fãs

Obtiveram a mesma pontuação que Carolina Deslandes, mas foi o voto do público que desempatou os resultados. Como é que isso vos fez sentir? Soube mais a vitória por ter sido o público a decidir?

Tantanka - Não, foi mais surpreendente, porque achávamos que nunca na vida iríamos ganhar do público à Carolina. Foi mais a surpresa, do que saber a uma vitória maior. A vitória já foi suficientemente grande por já não estarmos a achar que podia acontecer, mesmo antes das votações. Mas falo por mim, o Miguel [Casais], por exemplo, sempre achou que sim. Eu tinha posto na cabeça que não ia acontecer, até para tirar um bocadinho do stress e para me aliviar a prestação. Mas não soube especialmente bem por termos ganho do público, soube especialmente bem porque era uma tarefa muito complicada.

Já fizemos várias tournées lá fora mas nada com o tipo de exposição que esta coisa da Eurovisão nos permite 

Sentem maior responsabilidade por serem os primeiros a levar uma música totalmente em inglês a representar Portugal na Eurovisão?

Tantanka - Não, não. Sentimos uma grande responsabilidade por estarmos, a partir deste momento, a representar um povo e não só a nossa base de fãs, os nossos amigos, que nos apoiam incondicionalmente, as nossas famílias e a nós próprios - até agora representávamos este grupo de pessoas - agora é uma nação. É uma responsabilidade muito maior. 

Era importante para vocês, principalmente tendo em conta o vosso percurso, apresentar uma canção nessa língua?


Miguel Casais - Acho que era importante para nós, até por uma questão de coerência e de sempre termos almejado poder levar a nossa música além fronteiras. Já fizemos várias tournées lá fora mas nada com o tipo de exposição que esta coisa da Eurovisão nos permite. 

Agarramo-nos às coisas boas e não queremos agarrar-nos às más. Não lemos comentários e não alimentamos qualquer tipo de coisa nesse sentido

Como é que veem as críticas que vos têm sido dirigidas nas redes sociais por causa disso? Foi uma coisa que já esperavam ou de que só se aperceberam depois?


Tatanka - Não estamos muito atentos a isso. Estamos muito felizes com a situação e estamos muito felizes por sentir que a grande maioria das pessoas comenta coisas muito boas. Agarramo-nos às coisas boas e não queremos agarrar-nos às más. Não lemos comentários e não alimentamos qualquer tipo de coisa nesse sentido.

O que é que inspirou a letra e composição do 'Love Is On My Side'?

Tatanka - A história de uma senhora, que conhecemos quando estivemos em tourné nos Países Baixos, que teve uma vida muito complicada, mas que ainda assim tinha um brilho nos olhos e continuava a achar que o amor sempre tinha estado do lado dela ao longo da vida, apesar da toxicodependência, prostituição e tudo mais. Foi uma conversa rápida numa coffee shop onde estávamos a tocar, mas que me inspirou e me levou a fazer esta adaptação da história que acaba por encaixar muito bem neste tempo em que vivemos: de incertezas, em que muita gente está a passar dificuldades, mas onde estamos a começar a ver uma luz ao fundo do túnel e há esperança. Acima de tudo é uma história de esperança.

Tendo em conta que conheceram a senhora nos Países Baixos e que agora vão representar Portugal com a música que ela inspirou exatamente no mesmo país, acreditam no destino?

Tatanka - Estamos a começar a acreditar! [risos] Foi uma super coincidência e uma curiosidade, mas estamos a começar a acreditar. Não sei... talvez seja só uma coincidência.    

O Tatanka lançou-se a solo em 2016 e lançou um disco em 2019. Esta vitória enquanto banda não é um sinal de que a união faz a força?

Tatanka - O disco a solo é subjetivo, porque tem sempre muita gente, muitos amigos, a tocar. Nada se faz a solo. Tem muita união, muita amizade, muito companheirismo e muita gente que se dedicou igualmente ao meu disco e à música que eu faço. Portanto a união faz, certamente, a força, mas não é por termos ganho enquanto banda que achamos isso mais do que outra coisa qualquer. 

É realmente uma oportunidade única na carreira de uma banda como a nossa. Não vamos à Eurovisão duas vezes, portanto vamos vivê-la ao máximo 

Têm já uma longa carreira, com vários êxitos, o que é que esta vitória e a participação na Eurovisão podem fazer por vocês?

Rui Pedro Pity - Talvez proporcionar-nos a exposição internacional, que é o nosso maior sonho. Também porque aqui em Portugal já conseguimos ir a grande parte dos sítios, ou à maior parte dos de grande nome. Por isso queremos vingar lá fora e conseguir sair daqui em bom - já saímos, nem sempre com o maior estilo do mundo, mas sempre com grande vontade. Gostávamos de arranjar agências lá fora, conseguir arranjar editoras, por aí.

E o que é que retiraram desta experiência no Festival da Canção?

Marco Pombinho - Acho que uma das coisas que retiramos desta experiência foi perceber que às vezes é bom encarar a vida sem expetativas, porque as vitórias têm um sabor muito mais especial e as derrotas também não batem tanto [risos].

Qual é a melhor memória que guardam da vossa passagem pelo Festival da Canção?

Guilherme Salgueiro - Do backstage, de estarmos todos juntos passado tanto tempo e de reunir com mais amigos pelos bastidores e pela greenroom. 

Acho que é unânime dentro do grupo, que a francesa é a nossa favorita. A prestação francesa está mesmo espetacular e se ganhar ganha muito bem

Tendo em conta o contexto pandémico creem que a vossa passagem pela Eurovisão vai ser vivida em pleno?

Miguel Casais - Por nós vai ser sempre vivida em pleno. É realmente uma oportunidade única na carreira de uma banda como a nossa. Não vamos à Eurovisão duas vezes, portanto vamos vivê-la ao máximo.

Sem ser a vossa, têm alguma canção preferida das que estão a concurso na Eurovisão? Se sim, qual? 

Tatanka - Ainda não tivemos oportunidade de ouvir todas, temos tido, felizmente, dias muito agitados, mas das que vimos, acho que é unânime dentro do grupo, que a francesa é a nossa favorita [‘Voilà’, Barbara Pravi]. A prestação francesa está mesmo espetacular e se ganhar ganha muito bem. Pelo menos dentro do nosso gosto.

Pode ver na galeria acima algumas imagens dos Black Mamba durante a gala final do Festival da Canção e abaixo a atuação: 

Leia Também: 'Love is on my side' quebra tradição de músicas em português na Eurovisão

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