Galerias Municipais de Lisboa mostram quatro novas exposições até junho

Quatro novas exposições, que incluem trabalhos de Mónica de Miranda, Ilídio Candja Candja, Veronika Spierenburg, Nuno Barroso e João Vasco Paiva, num total de mais de 30 artistas, vão estar patentes até junho nas Galerias Municipais de Lisboa.

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Lusa
18/04/2021 11:16 ‧ 18/04/2021 por Lusa

Cultura

Galerias Municipais de Lisboa

 

Um bairro de Lisboa com ligações históricas ao mar, a estética e a política do têxtil vista por 26 artistas, a construção de uma realidade pessoal para fazer face ao mundo caótico no exterior na visão do artista moçambicano Idílio Candja Candja, e as infraestruturas rodoviárias em Hong Kong são mundos criados por mais de três dezenas de artistas a que os visitantes poderão aceder.

Depois de terem estado encerradas ao público desde 15 de janeiro devido ao confinamento para conter a pandemia de covid-19, tal como todos os espaços culturais do país, as Galerias Municipais de Lisboa estão a reabrir ao longo do mês de abril com novas exposições.

Na Galeria da Boavista, estará patente, até 20 de junho, a exposição "Cemitério das Âncoras", de Veronika Spierenburg & Nuno Barroso, com um novo filme e projeto de exposição colaborativa dedicado ao bairro lisboeta do Cais do Sodré, junto ao rio Tejo, com ligações históricas com o mar e a indústria marítima, refletidas nas várias lojas de artigos náuticos ainda existentes na zona.

Spierenburg e Barroso têm vindo a recolher apontamentos fílmicos que testemunham o desaparecimento da indústria da pesca artesanal em Portugal, uma atividade profundamente ligada à identidade do país e que representa mais do que uma atividade económica, também social e um estilo de vida para a população local.

A longa investigação levada a cabo pelos dois artistas permitiu-lhes construir relações com os homens e mulheres ligados à pesca, que partilham as suas histórias e os seus conhecimentos com a câmara.

O ponto de partida para a investigação da dupla de artistas foi o "Cemitério das Âncoras" na praia do Barril, no Algarve, com várias centenas de pesadas âncoras que ali foram plantadas na areia e depois abandonadas, testemunho da indústria pesqueira do atum, em tempos próspera, mas que durante o último século entrou em decadência devido à pesca excessiva.

A abordagem experimental e documental dos artistas em cinema espelha o legado do Centro de Estudos de Etnologia de Lisboa nas décadas de 1950, 1960 e 1970, cujo trabalho visava preservar e documentar técnicas e conhecimentos que se encontravam em extinção iminente.

Para além do novo filme, a exposição "Cemitério das Âncoras" reflete sobre o imaginário da pesca e do mar, apresentando artefactos e documentos visuais históricos no piso térreo da galeria, com uma seleção de obras emprestadas de museus de todo o país, incluindo fotografias do antropólogo Benjamim Pereira e do fotógrafo Artur Pastor, bem como reproduções escultóricas produzidas pelos artistas em colaboração com artesãos locais.

No Pavilhão Branco, em Lisboa, é apresentada a exposição coletiva "Entretecido", com obras de Ana Silva, André Sousa, Ani Schulze, Axel Stockburger, Ben van Meter /Alexandra Hart, Cecilia Vicuña, Clemente Padín, Coletivo Siroco, Constança Entrudo, E.M. de Melo e Castro, Fernando Aguiar, Fernando Marques Penteado, José de Almada Negreiros, Karl Kempton, Leda Catunda, Maria Altina Martins, Melissa Stabile, Mónica de Miranda, Namsa Leuba, Nenad Bogdanovic, Paula Baeza Pailamilla, Paula Claire, Paula Rego, Sofia Montanha e Sonia Delaunay.

Com curadoria de Tobi Maier, nesta exposição o público poderá ver até 06 de junho a estética e a política do têxtil na visão destes 26 artistas de várias gerações, à luz do impacto dos confinamentos causados pela situação pandémica, e do crescente tempo passado ´online´ e em isolamento.

A exposição "Entretecido" apresenta e analisa as propriedades materiais têxteis numa tentativa de criar um salto para além da vida imaterial ´online´, ao mesmo tempo que demonstra algumas das ligações que existem entre o reino digital e a vida real.

Embora o foco principal seja nos artistas que trabalham com diferentes formas de têxteis, a exposição apresenta vários formatos, incluindo suportes baseados em performance, fotografia e filme.

Na Galeria Avenida da Índia estará ainda "Cut Down The Middle" até 13 de junho, com obras de João Vasco Paiva, Heman Chong, Ramiro Guerreiro, Ko Sin Tung, e Magdalen Wong, numa curadoria de Claudia Pestana em diálogo com João Vasco Paiva.

Nesta mostra, com obras de artistas com quem Paiva tem exposto, trabalhado, partilhado espaços ou ideias na última década, há uma centralidade a partir da peça "The Highways Department Colouring Book" (2016), que reúne intervenções desenhadas numa série de traçados apropriados de um manual do departamento de autoestradas de Hong Kong.

Apesar de este tipo de manual estipular minuciosamente as infraestruturas que definem concretamente a cidade, desde o mobiliário urbano, como barreiras protetoras, até aos materiais a serem utilizados para pavimentos e ciclovias, "as pessoas que vivem a cidade diariamente, raramente têm consciência da constante presença destas especificações exceto em momentos de crise", refere a descrição da curadoria.

Na Galeria Quadrum, deverá ainda inaugurar "Octopus e Miopia", a 24 de abril, do artista moçambicano Ilídio Candja Candja, com curadoria de Rafael Bordalo Mouzinho, ficando patente até 27 de junho de 2021.

Trata-se de uma exposição que compõe uma seleção de processos e percurso do artista moçambicano Ilídio Candja Candja desde 2014 a 2020, que se estabeleceu no Porto, em 2005.

Candja Candja "parte de uma geração de artistas que nasce num momento eufórico de Moçambique que culminou com a independência e um processo complexo de descolonização que ainda reclama um espaço de diálogo".

No seu processo, "retraça o seu embate na tentativa do domínio ou inserção no espaço, imprimindo a sua preocupação com responsabilidade da sua sobrevivência", indica a curadoria.

"Com uma urgência e necessidade, desenvolve gestos e formas de organizar o sentido de um mundo exterior ´caótico´ que possamos apreender pelos sentidos, criando uma linguagem e um espaço imaginário através de uma capacidade de raciocínio abstrato, impregnado a partir de tintas, cores, formas, signos, símbolos, marcas sobre telas, servindo de ´mediuniacção´ na elaboração consciente para apreensão e construção da realidade em que ele está inserido", descreve ainda.

As Galerias Municipais de Lisboa estão abertas de terça a sexta-feira, das 10:00 às 13:00 e das 14:00 às 18:00, e ao sábado e domingo, das 10:00 às 13:00.

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