A estreia de 'Fantasmas do Império', uma "viagem pelo cinema" português

O documentário é da autoria de Ariel de Bigault, que vai marcar presença, esta quinta-feira, na estreia, no Cinema City em Alvalade, pelas 19h30.

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Filipa Matias Pereira
02/06/2021 19:53 ‧ 02/06/2021 por Filipa Matias Pereira

Cultura

Cinema

'Fantasmas do Império' é o mais recente documentário de Ariel de Bigault e chega às salas de cinema portuguesas esta quinta-feira, 3 de junho. A realizadora francesa, que tem percorrido as rotas da lusofonia, leva, assim, ao grande ecrã os retratos da história imperial no cinema português.

Percorrendo um século de história cinematográfica portuguesa, Ariel analisou diversas obras da sétima arte, desde documentários a ficções do passado colonial, passando ainda por filmes contemporâneos, como Posto Avançado de Comando, de Hugo Vieira da Silva, Peregrinação, de João Botelho, ou Cartas de Guerra, de Ivo M. Ferreira.

Em declarações ao Notícias ao Minuto, a realizadora explica que o "filme reúne trechos de vários filmes, realizados ao longo de 100 anos, sobre temas e histórias das colónias portuguesas, não só em Africa, mas também no Oriente". 

E foi pelo arquivo “colonial” da Cinemateca Portuguesa, nomeadamente filmes produzidos antes do 25 de abril, "a maior parte deles com uma intenção de propaganda", bem como pelas películas feitas no pós-revolução dos Cravos que a realizadora começou a interessar-se pelo tema. 

"Ao longo da pesquisa, ainda antes de fazer o filme, fiquei fascinada com o poder das imagens. É um cliché, mas é também uma realidade. As imagens fabricadas pelo cinema para enaltecer o colonialismo, assim como as imagens dos filmes do cinema mais recente que o denunciam, fazem parte da nossa cultura, e forjam, um pouco, as nossas visões, emoções e reações. São fantasmas porque são imagens nem sempre reais, mas inspiradas na realidade, e mantém-se nos nossos imaginários individuais e coletivos", revela.

O filme é uma viagem pelo cinema, em imagens lindas, ou não, mas sempre muito fascinantes

Já o "motor" que a levou a fazer o filme, "que foi trabalhoso", chama-se "paixão pelo cinema. Assim como o meu interesse em descobrir filmes da história do cinema e o meu desejo de valorizar as atitudes dos realizadores. Acho importante que sejam vistos ou revistos os seus filmes, assim como outros de realizadores que também são apresentados em 'Fantasmas do Império'. O filme é uma viagem pelo cinema, em imagens lindas, ou não, mas sempre muito fascinantes, viagem essa que fiz e para a qual convido cada espectador a vir também e a viajar à sua maneira na proposta que faço". 

Sete cineastas "abrem os cofres da memória"

Convidada a descrever o documentário, Ariel de Bigault revela que sete cineastas "abrem os cofres da memória cinematográfica colonial, dialogando com dois atores, Ângelo Torres, são-tomense, e Orlando Sérgio, angolano. Perscrutam o passado, real, reinventado ou recalcado que ainda hoje assombra as memórias: os mitos das descobertas, a ficção imperial, a fábrica da epopeia colonial, as máscaras da violenta dominação. José Manuel Costa, diretor da Cinemateca, e Maria do Carmo Piçarra, pesquisadora, trazem perspetivas na história da produção cinematográfica". 

Juntando esses fragmentos cinematográficos heterogéneos e pontos de vista diversos, 'Fantasmas do Império' "foca a mudança nos olhares, especialmente sobre 'o outro', o 'colonizado' de outrora, porém perene concidadão e conterrâneo da nossa comum humanidade. Jogando com ecos, contrapontos, contrastes entre situações, imagens, diálogos, músicas, o filme propõe um enredo de imaginários e atitudes, de memórias e emoções". 

A obra propõe, assim, como aponta a autora, "uma viagem não pelo passado real, mas pelas imagens do passado fabricadas pelo cinema. E, como todos os filmes, também este propõe uma história, neste caso uma narrativa sobre as imagens que o cinema produziu. É uma viagem pelas nossas memórias, à descoberta da falta delas. Muitas dessas imagens, desses trechos de filmes que estão no 'Fantasmas do Império' são ainda muito desconhecidos. Com o filme, descobrem-se mundos do passado que ainda estão muito presentes hoje, na vida social e coletiva de todos nós".

Assim, "o filme oferece o prazer da redescoberta de algo distante, mas ao mesmo tempo tão próximo. Já que a colonização portuguesa afetou a vida de milhões de portugueses, africanos e outros, todos cidadãos do mundo, ainda hoje os seus herdeiros vivem com esse passado próximo".

Ariel não pretende, com a obra, "dar lições, nem uma nova versão histórica, somente propõe a cada um descobrir novas perspetivas sobre o cinema e a história colonial de Portugal. A forma como o cinema conta as nossas histórias coletivas e individuais é determinante para o coletivo de uma nação, e para a convivência". 

Foi em 2017 que a realizadora deu início à pesquisa e à escrita de Fantasmas do Império. E, contando com o apoio inicial da Cinemateca Portuguesa, da produtora francesa Kidam e do canal tv Cine+, "o projeto concretizou-se em 2018 com a produtora Ar de Filmes e o apoio financeiro do ICA". Já as filmagens, foram realizadas em setembro de 2019, enquanto que a montagem decorreu de meados de outubro a final de dezembro do mesmo ano. 

Seguiu-se, depois, a pós-produção, que decorreu em Paris, em maio e junho de 2020. A 1 de maio de agosto de 2020, o filme estava concluído, o que significa que Ariel consegui terminar o filme antes do início da pandemia. Só a pós-produção em Paris é que começou em maio de 2020, no início do desconfinamento.

Apesar de a pandemia de Covid-19 não ter tido impacto na produção do documentário, Ariel de Bigault considera que a "difusão dos filmes foi muito prejudicada. Muitos festivais foram cancelados, outros passaram a ser online, com número menor de filmes e um tipo de seleção diferente. A difusão do 'Fantasmas' nos festivais no mundo foi grandemente afetada pela pandemia. Em muitos países, os cinemas ficaram fechados muito mais tempo que em Portugal. Em França, por exemplo, em 14 meses, ficaram nove meses fechados. E a estreia em Portugal foi programada pelo distribuidor na janela que ele achou após a reabertura das salas de cinema". 

A realizadora vai estar presente na sessão de estreia de 'Fantasmas do Império', esta quinta-feira, no Cinema City em Alvalade, pelas 19h30, e vai ainda participar numa descontraída conversa com o público sobre a exibição do filme. 

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