No encontro, que decorreu ´online´ devido às restrições para combate da pandemia de Covid-19, especialistas portugueses e estrangeiros falaram na necessidade de estes espaços culturais se reinventarem e repensarem, para ultrapassar um contexto "extremamente desafiante", apontou a presidente do ICOM-Portugal, Maria de Jesus Monge, na abertura das jornadas.
"O Futuro dos Museus: Recuperar e reimaginar" foi o tema escolhido para este encontro, o mesmo que o ICOM-Internacional - organização criada em 1946 que reúne comissões nacionais dos cinco continentes, dedicada à preservação e divulgação do património cultural mundial - escolheu para a celebração do Dia Internacional dos Museus, a 18 de maio deste ano.
A capacidade para inventar novas histórias sobre as coleções que albergam, a abertura ao diálogo interno e com as comunidades, o repensar do passado colonial e das formas de liderança e dos modelos de negócio, aumentando a flexibilidade na cooperação com as diversas formas de arte, foram as principais propostas apresentadas nas intervenções, em resposta à questão lançada pela presidente do ICOM-Portugal sobre o futuro.
"Os museus estavam habituados ao turismo de massas, e, agora, com os efeitos da pandemia, os turistas desapareceram", apontou a porta-voz do ICOM-Quénia, Muthoni Thang´wa, defendendo que, para inverter a grave situação atual de esvaziamento destes espaços, "é necessário voltar o foco para as pessoas, e menos para as peças das coleções, como até agora".
A especialista africana disse que o atual contexto "exige uma mudança estratégica", para atrair o público, e está convicta que passa por "falar ao coração humano, contanto novas histórias para além do contexto colonial de muitos dos museus de todo o mundo".
Na mesma linha, Hartmut Dorgerloh, investigador e professor em universidades de Berlim e Berna, propôs um "repensar total da forma como se devem preservar, estudar e apresentar as coleções ao público", porque "não há uma fórmula única de o fazer".
"Podemos também começar a deitar abaixo as ´paredes´ que separam os museus das artes performativas e visuais, criando mais projetos com o teatro, a literatura e o cinema, por exemplo", sugeriu, defendendo que os profissionais do setor "podem e devem falar sobre os seus sonhos e erros".
O comissário do Plano Nacional das Artes, Paulo Pires do Vale, outro dos três convidados para as jornadas que decorreram durante a manhã, defendeu que a comunidade museológica deve "colocar-se primeiro numa posição de vazio e de silêncio, escutando alternativas, antes de se sentir munida de muitas certezas".
"O museu não é um espaço neutro, como nenhuma instituição pode ser, e pode sempre repensar-se", sublinhou o filósofo, professor e curador, propondo a aprendizagem das lições da História para refletir sobre o presente e o futuro.
Face à crise, a maioria dos museus de todo o mundo voltou-se para o mundo digital para não perder o contacto com os seus públicos, e continuar a divulgar atividades.
"Focar-se no turismo de massas já não é viável. Os museus devem recorrer às plataformas digitais para democratizar o acesso à cultura e, por outro lado, atrair público local, com programas especiais", propôs a especialista dos museus nacionais do Quénia.
Museus em todo o mundo perderam entre 70 e 80% dos visitantes devido às restrições e quarentenas impostas pela pandemia, o que aconteceu também em Portugal, segundo os números do ICOM-Internacional, do Observatório Português de Atividades Culturais e da Direção-Geral do Património Cultural divulgados este ano.
Um diagnóstico do impacto da crise pandémica no setor, baseado nos últimos dados recolhidos pela organização não governamental, indicam, a nível global, que 6% dos museus poderão encerrar e 30% serão forçados a reduzir os seus funcionários devido às dificuldades económicas provocadas pela perda de visitantes e de receitas.
Leia Também: Alabaça sem condições para resolver "problemas complicadíssimos" do setor