A escritora Maria Judite de Carvalho, que hoje faria cem anos, publicou vários poemas para crianças na década de 1960, no Diário de Lisboa, com o pseudónimo Emília Bravo.
"Enquanto estudava o espólio da minha avó, Maria Judite de Carvalho, encontrei um caderno Castelo, onde ela escrevera uma série de poemas", explica Inês Fraga na introdução de "Felizmente as árvores são grandes", que conta com ilustrações de Cátia Vidinhas.
Interpelando diretamente os leitores mais novos, Inês Fraga escreveu: "Cem anos são um século. Que melhor maneira haverá de celebrar esse nascimento do que publicando palavras que ela escreveu para crianças, que ela escreveu para ti, que hoje as lês?".
No trabalho de edição de "Felizmente as árvores são grandes", alguns poemas são acompanhados de um recorte de jornal que indica a sua publicação no Diário de Lisboa, assinado por Emília Bravo.
Nos poemas, Maria Judite de Carvalho fala de gatos, papagaios, cães, rosas, mas também sobre a noite, sobre o fim das férias ou sobre um domingo de inverno, "um dia de não acordar/mas ir acordando,/de não comer/ mas saborear,/de não estudar...".
"Felizmente as árvores são grandes" é editado pela Minotauro, do grupo Almedina, no âmbito de um plano de publicação integral da obra da escritora Maria Judite de Carvalho (1921-1998).
O primeiro volume, reunindo as primeiras coletâneas de contos - "Tanta Gente, Mariana" (1959) e "As Palavras Poupadas" (1961) -, saiu em 2018, quando passavam duas décadas sobre a morte da escritora.
O sexto e último volume, exatamente com os "Diários de Emília Bravo", um conjunto de crónicas publicadas sob pseudónimo, foi publicado em novembro de 2019.
Maria Judite de Carvalho deixou novelas, crónicas e contos, escreveu sobre a solidão, histórias sombrias da vida quotidiana que observava, e foi considerada pela crítica uma das escritoras mais proeminentes da literatura portuguesa do século XX, não obstante ser pouco conhecida dos leitores.
Neste plano de publicação das obras completas - os seis volumes saíram de forma cronológica -, um dos detalhes foi a escolha das capas, que reproduzem retratos desenhados e pintados por Maria Judite de Carvalho.
No âmbito desta coleção dedicada à escritora, nos diferentes volumes, foram ainda publicadas as coletâneas de contos "Paisagem sem Barcos" (1963), "O seu Amor por Etel" (1967), "Flores ao Telefone" (1968), "Os Idólatras" (1969), "Tempo de Mercês" (1973), "Além do Quadro" (1983) e "Seta despedida" (1995), as crónicas de "A Janela Fingida" (1975), "O Homem no Arame" (1979) e "Este Tempos" (1991), a peça de teatro "Havemos de rir" (1998), a poesia de "A Flor que Havia na Água Parada" (1998) e a novela "Armários Vazios" (1966).
Maria Judite de Carvalho, que foi casada com o escritor Urbano Tavares Rodrigues, trabalhou na revista Eva, onde publicou o primeiro conto, no Diário de Lisboa, no Diário de Notícias, no Diário Popular e no semanário O Jornal.
Apesar de curta, a obra literária da autora foi distinguida, nomeadamente, com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco e o Prémio P.E.N. Clube Português de Novelística.
"Tanta gente, Mariana", "Seta despedida" e "Os armários vazios" são três das obras de Maria Judite de Carvalho integradas nas listas de livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura.
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