'First Date'. A estreia de Luís Filipe Borges como realizador de filmes

Humorista acaba de lançar uma curta, gravada nos Açores, de onde é também natural. Em entrevista ao Notícias ao Minuto, falou-nos não só do filme como da cultura na região que ainda é, muitas vezes, subvalorizada.

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© Diogo Rola

Natacha Nunes Costa
15/01/2025 11:10 ‧ há 3 horas por Natacha Nunes Costa

Cultura

Luís Filipe Borges

Luís Filipe Borges, conhecido por muitos como 'Boinas', acaba de lançar o seu primeiro filme como realizador e logo nos Açores, de onde é natural.

 

'First Date' é uma comédia romântica, com "algumas subversões de clichés",  como por exemplo, ter um homem como 'objeto sexual', em vez de uma mulher, explicou em entrevista ao Notícias ao Minuto, o também humorista.

A curta foi rodada na ilha do Pico, em menos de uma semana e o resultado são 15 minutos cheios de gargalhadas, que seguirão agora para os festivais nacionais e internacionais.

Para já, realizou-se a antestreia, no Pico, onde o projeto foi vencedor da 1ª edição do Prémio Curta Pico.

O filme é exatamente o que idealizei que fosse e agora só espero que possa ser visto pelo maior número possível de pessoas

'First Date' é o seu primeiro filme como realizador. Como já admitiu este era um sonho já antigo. Como se sente com a realização do mesmo?

Entusiasmado, honrado, orgulhoso, contente como uma criança que recebeu a prenda com a qual sonhou pelo Natal. O filme é exatamente o que idealizei que fosse e agora só espero que possa ser visto pelo maior número possível de pessoas. E não seria possível sem o empurrão decisivo que me deu o meu grande amigo, e diretor de fotografia, Diogo Rola.

O que podemos esperar desta comédia romântica além de gargalhadas?

Algumas subversões de clichés do género, por exemplo: brincamos com a clássica cena do beijinho à chuva; o único 'objeto sexual' da narrativa é um homem (Nuno Janeiro) e não uma mulher; e a protagonista sabe, na verdade, muito mais do que o 'leading man' imagina [risos].

A antestreia aconteceu no dia 6 de janeiro, na ilha do Pico, que serviu também de cenário para as gravações. Porquê a escolha desta ilha açoriana?

Tinha de ser porque o projeto teve a honra, entre cerca de 50 candidaturas, de ser o vencedor da 1.ª edição do Prémio Curta Pico. Era um dever – e um orgulho nosso - poder mostrar a curta-metragem no local que a inspirou e onde a história se passa a 100%, com entrada livre a todos. Tivemos mais de 200 pessoas na sala, o que é extraordinário e gratificante. Ainda por cima a reagirem com entusiasmo e um enorme carinho pelo nosso trabalho.

A versão que exibimos é um 'director's cut', com 18 minutos, três minutos a mais do que a versão oficial que seguirá para os festivais, pelo que também serviu como teste. E as sensações desse momento são algo que nunca sairá da minha memória.

Sabíamos que o Pico não nos ia deixar mal

Como correram as gravações? Sabemos que o tempo nos Açores às vezes prega umas partidas (apesar de dar uma beleza única à região)...

Nós rodámos durante sete dias em abril de 2024 e, realmente, as primeiras 48 horas meteram medo [risos]. Não conseguimos filmar praticamente nada, ainda por cima a esmagadora maioria das cenas são em exteriores. Mas ninguém perdeu a calma. Sabíamos que o Pico não nos ia deixar mal. E, como já tenho experiência de produzir no arquipélago, marquei sete dias sabendo à partida que conseguiria rodar em quatro ou cinco. De resto, foi um ambiente de absoluta camaradagem e alegria, a melhor equipa com que já tive o privilégio de trabalhar. 

E os protagonistas, como foram escolhidos?

A Ana Lopes, minha querida amiga, açoriana que trabalhou como atriz pelo menos 15 anos em Los Angeles e Londres, bilingue, grande talento, era uma escolha evidente para mim. A Dona Gina Neves, residente no Pico, tratou-se de uma escolha em casting por indicação do co-produtor Terry Costa, e estreia-se (com estrondo) nos ecrãs à beira dos 70 anos. O Nuno Janeiro, além de um amigo, é aquela espécie de Deus Grego (que é exactamente o que pedia o papel de Pastor Sexy); e o protagonista, Cristóvão Campos, um ator extraordinário que tive o prazer de conhecer recentemente na série 'Sempre' (realizada por Manuel Pureza) e abraçou com alegria o papel mal leu o guião.

Podemos dizer que esta é uma produção quase 100% açoriana (só dois atores não o são). Do cenário a muitos dos que fizeram este filme - produção, argumento, realizador, diretor de fotografia, adereços, cenografia, banda sonora e até make-up. Esta foi uma forma de 'abraçar' os Açores e a cultura da região que é, muitas vezes, ainda, subvalorizada?

Sem dúvida nenhuma! Aliás essa tem sido uma meta minha desde que, aos 41, decidi começar a produzir. Quase todas as minhas ideias/projetos são relacionadas com a nossa terra - talvez seja um modo de retribuir o que ela me deu, o orgulho que sinto em pertencer ali, em ser definido por tantas características da açorianidade (roubando o termo a Vitorino Nemésio).

E nós, artistas açorianos, precisamos de iniciativas assim. Incentivos, apoios, estratégia, visão. É uma questão que se prende com a nossa própria Identidade. Não existe melhor modo de levar os Açores ao mundo - suas culturas, tradições, História, elementos diferenciadores e peculiaridades - do que através da nossa criação audiovisual e cinematográfica - tal como o excepcional Augusto Fraga demonstrou com a série 'Rabo de Peixe', ou como fizeram tantos trabalhos no currículo do enorme Zeca Medeiros. 

Há criadores e produtores extraordinários a fazer pequenos milagres nas ilhas – Francisco Lacerda, Diogo Lima, Diogo Rola, Sara Massa, Gonçalo Tocha, Pedro Gaipo, Rui Vieira, Maria João Sousa, Beatriz Reis, Catarina Gonçalves, etc – mas a situação como está não é sustentável. Precisamos de um Fundo que una, por exemplo, Secretaria Regional do Turismo, Direcção Regional de Cultura, Vice-Presidência, Câmaras do Comércio, grandes grupos económicos açorianos como os Bensaúde e Finançor, a Associação de Municípios da Região Autónoma, enfim, um organismo que inclua um Gabinete de Apoio aos Fundos Europeus, e que possa garantir um milhão de euros anuais para o sector. Seria um ótimo princípio. 

Imaginem só o que seria termos condições para contar as histórias de Peter Francisco ou de Brianda Pereira, dos piratas nas Flores ou da 'Little America' em Santa Maria, adaptar os extraordinários livros de Pedro Almeida Maia para o pequeno ou grande écran ('Ilha América' ou 'A Escrava Açoriana', entre outros); ou simplesmente contar e criar histórias dos Açores contemporâneos, cosmopolitas e rurais, tradicionais e multifacetados, isolados geograficamente mas cada vez mais no centro (e bocas) do mundo. 

Depois da anteestreia o que se segue?

Estamos a iniciar o processo de candidatura a largas dezenas de festivais nacionais e internacionais, algo que pode implicar um circuito de um a dois anos para o filme. Terminado esse caminho desejo disponibilizar gratuitamente a curta-metragem, pelo menos ao público açoriano, através da RTP Açores, NOS Açores, e sessões em salas do arquipélago. E sonho também ter, nessa altura, os meios para avançar para a realização de uma longa-metragem. Pelo menos o guião já existe! [risos].

Leia Também: Cinema Batalha apresenta retrospetiva dos 45 anos de filmes de Almodóvar

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