Dando início à programação desenvolvida para o ano de 2022, a Fundação D. Luís I e a Câmara Municipal de Cascais vão apresentar no Centro Cultural de Cascais três exposições dedicadas "a três expoentes da arte contemporânea ibérica": desenhos de Victor Neves, a primeira grande mostra individual de Catarina Lucas, e o trabalho de Pepe Barragán, representante do abstracionismo geométrico, revelou a fundação, em comunicado.
A primeira exposição a abrir ao público será "Nuclear-Perspectives", de Victor Neves, que estará patente de 29 de janeiro até 30 de abril, no espaço da Capela, no edifício principal, e que pretende desafiar o espectador a refletir sobre o que distingue a ação de ver e o ato de olhar.
Na perspetiva do artista, ver é uma ação mecânica do olho, enquanto o olhar ultrapassa os limites da oticidade e supõe um alargamento da experiência, pelo que propõe ao visitante que olhe para os seus 26 desenhos, que se desprenda dos limites da realidade e a transforme através da imaginação e da curiosidade.
Os próprios trabalhos expostos trespassam os limites do formalismo no desenho, desviando-se das leis da perspetiva, das proporções. Não obedecem às regras da geometria nem à lógica da luz e das sombras. Mas dão margem para que cada observador tenha uma experiência única e encontre significado dentro da multitude de possibilidades da sua imaginação, explica a fundação.
Nas palavras do arquiteto, "o objetivo dos desenhos que se podem ver nesta exposição é desafiar os limites, sair de si e do papel".
No dia 5 de fevereiro, abre ao público a mostra "Piso Lasso", de Catarina Lucas, que estará patente no Piso 2 do Centro Cultural de Cascais, até ao dia 7 de maio, e que explora uma vertente experimental da sua produção artística, que incide sobretudo na técnica da pintura a óleo em tela, cartão e papel.
As suas obras, de expressividade palpável, vivem muitas vezes numa dimensão emotiva em que a dicotomia entre o feito e o desfeito, entre o frágil e o resistente é revelada através das texturas e das cores -- castanho, azul, verde, amarelo --, e do movimento e da intensidade da sua pincelada.
A artista afirma que "o manifesto prazer da criação que atravessa estas obras é fruto de um processo pessoal e introspetivo que, desprovido de convencionalismos, explora a energia e a angústia do tempo através dos instrumentos da pintura".
A pintura de Catarina Lucas revela uma criatividade livre, espontânea e simultaneamente incisiva, emocional, o que se percebe pelas palavras da curadora Leonor Amaral, segundo as quais "mais do que corresponder à demanda do concreto, estas obras situam-se no domínio da experimentação, motivada por uma conduta de libertação, emoção, instinto, estimulação".
A terceira exposição a abrir ao público é a do pintor e galerista Pepe Barragán, que tem inauguração no dia 12 de fevereiro e se mantém até 29 de maio, no piso 0 do Centro Cultural de Cascais.
"Ritmo e variações" consiste numa mostra de 35 obras realizadas em óleo sobre tela ou sobre papel de diversos formatos, evidenciando "a destreza do artista na criação cuidada das suas composições e o equilíbrio entre as linhas e os planos que remetem para uma composição musical numa partitura", descreve o comunicado.
Nestas obras, Barragán investiga a relação e o ritmo entre as cores e as formas ao explorar a ténue fronteira em que um objeto simples se transforma numa obra de arte.
Um dos trabalhos apresentados "impressiona pela ambição da sua dimensão": é formado por 13 telas individuais de 100x70cm, que se unem para formar uma única obra.
A forte presença da geometria nos quadros de Barragán revela-se através de linhas, quadrados, retângulos, polígonos e círculos que se aproximam e se sobrepõem em translações e giros axiais para alcançar a simetria e o movimento rítmico que também se evidencia através do jogo com as cores e os contrastes.
As pinturas de Barragán que vão estar em exposição em Cascais revelam "o ritmo que dá unicidade à sua obra e que confere movimento e delicadeza às formas, o que é pouco habitual neste tipo de pintura", descreve a fundação.
"Destaca-se a minuciosidade com que o pintor trabalha o fundo das suas telas, a precisão com que demarca os blocos de cor e a exploração cromática que utiliza tons de ocre, bege e cinza em contraste com o preto e o vermelho", acrescenta.
Leia Também: Mais Miró, Rui Chafes, Brasil e Ryoji Ikeda nas propostas de Serralves