A Austrália participa este ano, pela sétima vez, no maior concurso de música da Europa, mas está localizada a cerca de 14 mil quilómetros de distância do continente europeu e tem uma diferença horária de 8 horas. Então por que razão participa no Festival Eurovisão da Canção?
Segundo as normas do festival, todos os membros ativos da União Europeia da Radiodifusão (UER) - ou seja, que façam parte da Área Europeia de Radiodifusão e que pertençam ao Conselho da Europa - podem participar. Foi por este motivo que Israel pôde entrar no concurso em 1973, a Arménia em 2006 e o Azerbaijão em 2008.
Outro requisito é ter transmitido o Festival Eurovisão da Canção no ano anterior e pagar as taxas correspondentes à UER. É aqui que a Austrália se encaixa. Apesar de não pertencer nem à UER nem à Área Europeia de Radiodifusão, o maior país da Oceania começou a transmitir o certame através da estação Special Broadcasting Service (SBS) em 1983 e desde então tem reunido um elevado número de audiências - mesmo que, com a diferença horária, o concurso só comece às 4h da madrugada. Em média, são mais de 2,7 milhões de australianos a acompanhar a final.
A dedicação e o entusiasmo da população australiana pelo festival fez com que em 2012, quando o festival viajou até Baku, no Azerbaijão, uma delegação da SBS recebesse uma cabine para comentar o evento vivo. A ‘oferta’ manteve-se desde então.
Em 2014, a Austrália foi convidada a atuar no intervalo da segunda semifinal do festival, que naquele ano se realizou em Copenhaga, na Dinamarca, e, no ano seguinte, surgiu o convite para participar. O objetivo, segundo a EUR, seria “dar uma nova dimensão ao 60.º aniversário da Eurovisão”, que, em 2015, tinha como tema ‘A Construir Pontes’. “Para não gorar o tema do espetáculo desde ano ‘A Construir Pontes’, a UER e o canal anfitrião ORF convidaram a Austrália para competir na Grande Final de 2015 do Festival Eurovisão da Canção”, explicou, na altura, a organização do evento.
Com passagem direta para a final, o cantor escolhido para representar a Austrália, Guy Sebastian, e o tema ‘Tonight Again’, alcançaram a 5.ª posição no concurso realizado em Viena, na Áustria. O resultado surpreendente fez com que a Austrália voltasse a ser convidada nos anos seguintes e, em 2019, foi anunciado um acordo de cinco anos (até 2023), que ditava que a Austrália passava a ser membro permanente.
Apesar de ainda só ter participado sete vezes no Festival Eurovisão da Canção, o país tem sido um dos mais bem sucedidos, qualificando-se para a final seis vezes.
Depois do 5.º lugar de Guy Sebastian em 2015, Dami Im e ‘Sound of Silence’ alcançaram a 2.ª posição no ano seguinte. Em 2017, Isaiah e ‘Don’t Come Easy’ ficaram pelo nono lugar. Já em 2018, Jessica Mauboy - que atuara como convidada em 2014 - ficou-se pela 20.ª posição com ‘We Got Love’, mas em 2019 Kate Miller-Heidke e ‘Zero Gravity’ voltaram ao ‘top 10’, com o 9.º lugar. A única vez que o país não conseguiu assegurar um lugar na final foi em 2021, após a cantora Montaigne e ‘Technicolour’ se apresentarem remotamente devido às fortes restrições para combater a pandemia de Covid-19 que ainda vigoravam na Austrália. Na segunda semifinal da edição deste ano, realizada na quarta-feira, Sheldon Riley e ‘Not the Same’ conseguiram apurar-se para a final.
Mas o que acontece se a Austrália ganhar o Festival Eurovisão da Canção? Ao contrário do que ditam as regras do concurso - o país vencedor recebe e organiza o concurso no ano seguinte - caso o país vença, devido à distância geográfica e ao diferente fuso horário, deverá nomear um co-anfitrião que ficará responsável por organizar o evento em seu nome.
Este ano, a organização cabe a Itália, que ganhou esse direito após vencer a edição de 2021, nos Países Baixos, com a canção ‘Zitti e Buoni’, interpretada pelos Måneskin. Depois das semifinais, realizadas nas últimas terça e quinta-feira, a final realiza-se no sábado, dia 14.
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