"Todos estes trabalhos vão buscar raízes nas memórias e nas pesquisas que vamos fazendo acerca da cidade e da rua. Tentamos manter sempre uma relação com as pessoas, ou seja, receber das pessoas e devolver-lhes, através da criação artística, as suas memórias, vivências e espaço", afirmou a diretora artística da companhia de teatro Cães do Mar, Ana Brum.
A apresentação do cartaz da "Rua Direita" ocorreu no Armazém Basílio Simões, uma das mais antigas lojas da cidade, que acolhe um dos espetáculos programados.
O objetivo, segundo Ana Brum, é "criar na Rua Direita um espaço de troca de diálogo entre a arte, o comércio, a comunidade, entre várias gerações e entre diversas formas de expressão artística".
O evento, organizado pelo segundo ano consecutivo pela companhia de teatro com sede na ilha Terceira, conta com oito espetáculos de curta duração, que se irão repetir de 07 a 09 e de 14 a 16 de julho, em lojas, cafés, esquinas e varandas.
Às quintas e sextas-feiras, haverá sete espetáculos por dia (três de manhã e quatro à tarde) e aos sábados três de manhã e um espetáculo extra à tarde, todos durante o horário de atividade das lojas.
"A ideia é, precisamente, surpreender as pessoas", explicou Ana Brum, alegando que a iniciativa pretende mostrar que "a arte é para todos".
Entre o público, há quem apareça, porque conhece o programa, mas há também quem não faça "a mínima ideia de onde se vai meter".
"Em vez de esperarmos que as pessoas vão ao teatro, decidimos levar o teatro e a dança às pessoas. Decidimos ir atrás delas", avançou a diretora artística da Cães do Mar.
Na primeira edição da Rua Direita, a organização contabilizou cerca de 1.400 visitantes.
"Vi pessoas que não sabiam se deviam estar ali, se deviam ir embora. Ficavam na dúvida. Mas houve pessoas que nos surpreenderam. A maioria das pessoas surpreendeu-nos imenso, com a adesão, voltando, trazendo amigos", adiantou.
O projeto "Rua Direita" conta com um apoio de 40 mil euros da Direção-Geral das Artes (DGArtes), mas a companhia reivindica mais apoios do Governo Regional dos Açores.
"A região tem de começar a olhar para a criação artística e para as atividades culturais como uma mais-valia e como potencial turístico até. Aquilo que criamos para a população traduz-se, também, numa relação com os visitantes", sublinhou Ana Brum.
Para o encenador inglês Peter Cann, que trabalha há vários anos com a companhia Cães do Mar, este tipo de projetos é "muito importante" e "pioneiro" na sua linguagem "muito poética".
"É o tipo de teatro de que eu gosto e em que acredito. Faz ligações entre os negócios e as artes performativas e outras ligações também entre o passado, o presente e o futuro", salientou.
O vice-presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Guido Teles, entidade que também apoia o projeto, defendeu que a iniciativa "vem responder a uma necessidade que se tem sentido", de levar atividades culturais "de interação com os transeuntes para o centro histórico de Angra do Heroísmo", numa época em que são esperados muitos visitantes.
"Temos de apostar em atividades culturais que consigam trazer um pouco do talento contemporâneo, aproveitando tudo aquilo que faz de Angra um destino único, singular, que é a nossa cultura e a troca de experiências entre povos que por aqui passaram", frisou.
O Armazém Basílio Simões, o café Verde Maçã, antiga Loja dos Linhos, a Delegação de Turismo de Angra do Heroísmo, o pátio da Alfândega e a esquina da Travessa de São João são alguns dos locais que acolhem os espetáculos.
Aos sábados, haverá ainda um espetáculo de teatro nas varandas da Rua Direita, interpretado pelos grupos Alpendre e Matilha, com direção de Peter Cann.
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