Intitulada "Um foco em Paula Rego", a mostra tem por objetivo homenagear a pintora falecida há um ano, e apresentar a obra "O Impostor" (1964), adquirida em janeiro pelo Estado para ficar em depósito no MAC-CCB, como sublinhou o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, numa visita de imprensa.
A exposição, composta por sete pinturas, incluindo um tríptico e uma escultura, vai ficar patente até 10 de setembro.
Sobre o quadro inédito, sem título, nunca antes mostrado em público, e que agora acompanha "O Impostor", o curador da mostra, Delfim Sardo, e administrador do CCB, disse que se desconhece se a pintura no verso, também sem título, "terá sido rejeitada por Paula Rego".
O CCB optou por exibir uma fotografia do verso da tela, onde surge deitada uma figura feminina, "antevendo a pintura figurativa muito posterior" aos anos 1950, que os especialistas presumem ser a data da obra, "reconhecível pela semelhança em relação aos desenhos que realizou desde 1953, ainda aluna da Slade School de Londres".
Na tela exposta, cedida pelas colecionadoras Carolina e Maria Ana Pimenta, surgem várias figuras que também se presumem retiradas de diários de Paula Rego, uma artista cujo universo criativo está "muito marcado pelas ideias de público e privado, e onde as narrativas convocam acontecimentos políticos e de dominação", apontou o curador.
As obras da mostra, na maioria criadas entre os anos de 1950 e 1965 - provenientes da coleção Pimenta e da Fundação Calouste Gulbenkian -, são de caráter mais abstrato, tratadas em camadas sucessivas de colagens e de tinta que se sobrepõem e, por vezes, revelam ou escondem personagens.
"É um período criativo muito livre da artista, com influências do Surrealismo e da escrita automática, durante o qual Paula Rego recorta, rasura e pinta, contando histórias", descreveu Delfim Sardo, comentando a inscrição, nalgumas telas, da data de 1928, como momento fundador da chamada Ditadura Nacional, numa "clara alusão à subida de Óscar Carmona à Presidência" de Portugal, com a sua eleição como candidato único.
O ano de 1928, dois anos após o golpe militar, é também aquele em que Oliveira Salazar assume a pasta de ministro das Finanças, e em que é criada a Polícia de Informações do Ministério do Interior, antepassada da PIDE.
Na exposição no MAC-CCB estão ainda as telas "O Sr. Vicente e a sua esposa" e "Triptíco", que ostentam essa data, assim como a escultura "A princesinha grávida". "O Impostor" encontra-se em destaque, no centro da sala do piso zero do CCB.
"O Impostor", que retrata de forma satírica António de Oliveira Salazar, líder do regime ditatorial do Estado Novo, foi a primeira obra adquirida pelo Estado para fazer parte do acervo do novo museu sob gestão do CCB, que deverá abrir com um novo discurso expositivo a 28 de outubro, anunciou hoje o presidente do CCB, Elísio Summavielle.
A pintura a óleo e técnica mista sobre tela foi adquirida pelo Estado por 400 mil euros à família de Paula Rego - falecida aos 87 anos, a 08 de junho de 2022 - e escolhida por constituir uma referência marcante da trajetória de uma das mais destacadas artistas portuguesas a nível internacional.
Criada em 1964, a pintura "O Impostor" tem 179 por 158 centímetros, e esteve na primeira exposição de Paula Rego em Portugal, em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1965.
O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, disse à Lusa, na altura do anúncio da aquisição, que a escolha de "O Impostor" foi feita a partir de sugestões da família de Paula Rego, e depois com base numa proposta da curadora da Coleção de Arte Contemporânea do Estado (CACE), Sandra Jurgens.
A CACE passou, com esta, a ter 10 obras da pintora Paula Regoh quatro em depósito em Serralves, no Porto, mais quatro no Centro de Arte Contemporânea em Coimbra, e uma obra que se encontrava na Ellipse, coleção que foi também incorporada no MAC-CCB.
"Um foco em Paula Rego" vai ser inaugurada na terça-feira, às 18h00, e, nesse dia, a entrada no Museu CCB será gratuita entre as 18h00 e as 21h00.
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