Habitação, o poema d'A Garota, Moedas. As críticas na noite dos Globos

Foram várias as personalidades que este domingo aproveitaram o palco dos Globos para deixar críticas e 'recados'.

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© Rita Chantre/Global Imagens

Marta Amorim
02/10/2023 09:17 ‧ 02/10/2023 por Marta Amorim

Cultura

Globos de Ouro

Numa altura em que a habitação e as condições de vida dos portugueses estão na ordem do dia, foram vários os galardoados com Globos de Ouro que aproveitaram o palco para atirar farpas a quem governa.

"As pessoas estão a viver muito mal", criticou João Reis, ao receber o Globo de Ouro de Melhor Peça de Teatro. A Garota Não deixou crítica aos tempos que vivemos e Filipe La Féria dirigiu-se a Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, com um pedido: "Não deixe destruir mais teatros em Lisboa. Basta de hotéis! O teatro é a alma de Lisboa, a alma de Portugal".

"Período particularmente difícil"

João Reis subiu ao palco para receber o Globo de Ouro de Melhor Peça de Teatro e agradeceu o prémio, aproveitando o momento para deixar uma mensagem aos lideres europeus. 

"Estamos num período particularmente difícil e sensível das nossas vidas e da nossa história em que a saúde mental começa a ter um preponderância e uma dimensão muito assustadoras. E isto tem que ver com o estado das coisas que estamos a atravessar neste momento", começou por dizer.

"Ontem várias cidades tiveram milhares de pessoas na rua a lutar por melhores condições de vida, por uma habitação possível, pela justiça climática, e são tudo pessoas que podem passar para o outro lado da fronteira", disse, pedindo um "líder europeu" corajoso para dizer "basta". 

"As pessoas estão a viver muito mal. Isto está a ser insustentável", atirou ainda. 

"Agradecer aos bancos os juros que nos cobram na habitação"

Vencedora do Globo de Ouro para Melhor Intérprete, A Garota Não agradeceu com um poema da sua autoria, não deixando de parte críticas à sociedade em que vivemos. 

Criticou o “tempo dos budas” em que vivemos, da “kombucha, coaching, soft skills e gratidão”, “de maioria absoluta, do posso e mando e da meritocracia, num mérito que se mede a partir dos dentes, notas da colégio ou da demagogia”.

Eis o poema, na íntegra: 

"Vivemos o tempo dos Budas, das flores de plástico e das cómodas douradas
E rimos muito alto, por cima da música alta das esplanadas
Vivemos o tempo da kombucha, do coaching, das soft skills e da gratidão
Saibamos agradecer aos bancos os juros que nos cobram na habitação
Vivemos o tempo mais corrido de sempre
Das metas, dos objetivos, do ‘nem que me esfarrape’
Não há esforço que não valha a pena, seremos todos Luft, Tap
Vivemos tempo de maioria absoluta, de posso e mando, de meritocracia
O mérito mede-se a partir dos dentes, das notas do colégio ou da demagogia?
Obrigada por esta oportunidade, um globo de ouro nas mãos de um ser tão falho
Há quem tenha muita sorte
A sorte, a mim, tem-me dado muito trabalho"

"Basta de hotéis! O teatro é a alma de Lisboa, a alma de Portugal"

O encenador Filipe La Féria recebeu o Globo de Ouro de Mérito e Excelência e durante o seu discurso agradeceu aos atores, que diz serem "os melhores amantes do mundo".

Destacou ainda paixão do público pelo teatro e, já em lágrimas, deixou uma palavra especial à filha.

Por fim, dirigiu-se a Carlos Moedas, o "sensível e culto" presidente da Câmara Municipal de Lisboa na audiência, com um pedido: "Não deixe destruir mais teatros em Lisboa. Basta de hotéis! O teatro é a alma de Lisboa, a alma de Portugal".

De recordar que durante o dia de sábado milhares de manifestantes saíram às ruas para reivindicarem o direito à habitação e protestarem contra a crise que se sente em todo o país. Para além de alguns tumultos, o chefe de Estado 'reservou' uma surpresa para esse mesmo dia, ao anunciar que promulgou o pacote 'Mais Habitação'

Leia Também: As imagens da XXVII gala dos Globos de Ouro

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