Moura-Carvalho defende museu que assuma parte negativa dos descobrimentos

O antigo diretor-geral das artes Carlos Moura-Carvalho, defendeu hoje que Portugal deve ter um museu dos descobrimentos que assuma também a parte negativa dos descobrimentos, usando de forma educativa a questão do esclavagismo.

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Lusa
16/10/2023 22:57 ‧ 16/10/2023 por Lusa

Cultura

Carlos Moura-Carvalho

"Sou adepto de termos um museu dos descobrimentos, porque vai-se celebrar os feitos dos portugueses aquando dos descobrimentos", afirmou Carlos Moura-Carvalho em Óbidos, sublinhando, porém que "esse museu tem que ter uma referência à escravatura e assumir essa parte negativa da nossa história".

O gestor cultura, que foi diretor municipal de Cultura na Câmara de Lisboa (CML), defendeu a ideia no Folio -- Festival Literário Internacional de Óbidos, onde hoje debater com o jornalista brasileiro João Gabriel Lima "Os riscos da história única".

"A história é cheia de contradições e mentiras", afirmou, considerando que a forma de se evitar uma "narrativa única" sobre os acontecimentos históricos "é dar tempo e deixar a poeira assentar" .

Numa conversa em que se afloraram diferentes pontos de vista entre a visão brasileira e a visão portuguesa dos descobrimentos, Carlos Moura-Carvalho assumiu "manchas" da história de Portugal, como a questão esclavagista", a "componente negativa dos descobrimentos"

Convicto de que em Portugal "é pacífico assumir que houve facetas da nossa história que não foram justas e respeitáveis do ponto de vista dos direitos humanos", assumiu-se "um cético relativamente às questões do revisionismo histórico", nomeadamente no que toca "à mudança de nomes de ruas ou retirada de monumentos que evocavam essas facetas".

O importante, vincou, é manter os testemunhos dos período menos favoráveis da história dos povos "de forma educativa, para que se possa conhecer, discutir" e, no que respeita a museu ou arte pública, "eventualmente optar por uma solução hibrida", concluiu.

A conversa sobre a história única fechou o dia em que no folio se falou também sobre "o risco da unilateralidade de género masculino na literatura", tema que juntou à mesa as escritoras Carla Madeira, autora "Tudo É Rio", um sucesso editorial que se tornou num dos livros mais lidos no Brasil e Eltânia André autora de "Meu nome agora é Jaque" e "Manhãs adiadas", entre outras obras.

Em comum as autoras admitiram o fato de ambas terem a publicação dos respetivos primeiros livros, num país onde, estudos divulgados em 2014, demonstraram que "70% dos livros publicados no Brasil, nas últimas décadas, era de homens brancos, heterossexual, de classe média alta e a viver nas metrópoles".

"A clareira não estava aberta" e, quase um década depois, a questão da unilateralidade de género na literatura ainda se coloca para "a maioria das mulheres escritoras" numa sociedade em que "ser publicado é fácil, o difícil é ser lido".

Ainda assim, defenderam as autoras, as grandes editoras "começam a querer publicar mulheres" e esse movimento "é irreversível".

O Folio decorre na vila de Óbidos, no distrito de Leiria, até domingo, sob o tema "Risco".

O programa integra 14 mesas de autor, 108 conversas e tertúlias, 40 apresentações e lançamentos de livros, 40 espetáculos e concertos, 21 exposições e 18 sessões de leitura e poesia, protagonizados por um total de 603 autores e criadores.

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