Coletânea de BD lembra "combate corajoso dos iranianos" pela liberdade

A banda desenhada coletiva 'Mulher Vida Liberdade', que homenageia a jovem Mahsa Amini, assassinada em 2022 no Irão, e presta um "humilde contributo" aos iranianos, é editada este mês em Portugal.

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© Getty Images

Lusa
27/10/2023 23:28 ‧ 27/10/2023 por Lusa

Cultura

Mahsa Amini

'Mulher Vida Liberdade' é uma obra coletiva de BD que contextualiza e explica o movimento surgido no Irão após a morte de Mahasa Amini, em setembro de 2022 pelo regime iraniano, sendo coassinada por vários artistas do Irão e da Europa.

Marjane Satrapi, autora da célebre novela gráfica 'Persépolis', explica na introdução de 'Mulher Vida Liberdade' que este livro tem uma dupla intenção: "Descodificar os acontecimentos na sua complexidade e nas suas 'nuances' para um público não iraniano" e "lançar um sinal aos iranianos para os lembrar que não estão sozinhos".

"Pelo primeiro aniversário da morte de Mahsa Amini, pelo combate nobre e corajoso do povo iraniano (...), partilhamos com o leitor este nosso humilde contributo pela liberdade que os iranianos tanto merecem", escreveu Marjane Satrapi nas primeiras páginas.

O livro passa em retrospetiva o que aconteceu no Irão ao longo do último ano, com a morte de Mahsa Amini, espancada por ter o véu islâmico mal posto, e com a consequente vaga de protestos, num movimento que juntou homens e mulheres e que adotou a máxima 'Mulher Vida Liberdade'.

Nesta coletânea participam, entre outros, o cartoonista Mana Neyestani, que vive em Paris com o estatuto de refugiado político, a ilustradora iraniana Shabnam Adiban, o autor espanhol Paco Roca, os franceses Winshluss, Joann Sfar e Lewis Trondheim, a editora Alba Beccaria, o jornalista Jean-Pierre Perrin, o politólogo Farid Vahid e o historiador Abbas Milani.

A jovem curda iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, morreu a 16 de setembro de 2022 em Teerão depois de ter sido detida e espancada pela polícia da moralidade por ter infringido o rígido código de vestuário imposto às mulheres: levava a cabeça coberta com o 'hijab' (véu islâmico), mas tinha uma madeixa de cabelo à vista.

As primeiras manifestações eclodiram nas localidades curdas do noroeste, em particular em Saghez, cidade natal de Amini, mas os protestos generalizaram-se a outras cidades.

A repressão às manifestações foi violenta, tendo causado pelo menos 448 mortes de civis, segundo a organização não-governamental Iran Human Rights, com sede em Oslo.

Além disso, cerca de 15 mil pessoas foram presas nas manifestações, duas mil das quais acusadas de vários delitos por participação nos protestos, e pelo menos seis foram condenadas à morte. Muitas mulheres cortaram o cabelo e andaram sem lenço em sinal de protesto.

A morte de Amini desencadeou ainda um movimento que contesta a lei do 'hijab' e outras normas discriminatórias.

A 19 de outubro passado, o Parlamento Europeu anunciou a atribuição do Prémio Sakharov 2023 a Mahsa Amini e ao movimento 'Mulher, Vida, Liberdade' do Irão.

No início deste mês, o Prémio Nobel da Paz 2023 foi atribuído à ativista iraniana Narges Mohammadi pela "luta pelas mulheres do Irão contra a opressão".

Narges Mohammadi, que está atualmente presa, foi elogiada pela "corajosa luta pela liberdade de expressão e pelo direito à independência" que, como reconheceu o Comité do Nobel, "acarretou enormes custos pessoais".

'Mulher Vida Liberdade' é editado pela Iguana, do grupo editorial Penguin Random House.

Leia Também: Mahsa Amini. Jornalistas que noticiaram caso condenadas a penas de prisão

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