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Realizador britânico quer organizar novo 'Rock Against Racism' em 2024

O documentário britânico 'On Resistence Street' de Richard David sobre o a importância da música no "combate ao racismo e ao fascismo" no Reino Unido foi apresentado em Belfast e pode dar origem a uma nova edição do 'Rock Against Racism' em 2024.

Realizador britânico quer organizar novo 'Rock Against Racism' em 2024
Notícias ao Minuto

13:54 - 13/11/23 por Lusa

Cultura Documentário

"Precisamos outra vez de um 'Rock Against Racism' em Londres ou em Belfast. Se já conseguimos organizar concertos temos de conseguir fazer um espetáculo maior e com grandes bandas e com bandas novas que possam atrair a atenção para o problema do racismo neste país", disse à agência Lusa o realizador Richard Davis. 

O movimento 'Rock Against Racism' (RAR), entre 1976 e 1981, envolveu diretamente, "lado a lado, a 'subcultura' Punk e New Wave e a força dos músicos de Reggae contra o aumento "da força organizativa" da National Front (extrema-direita).

O documentário de mais de duas horas tem como inspiração "as mensagens" da banda britânica Clash: consciência política contra a violência, contra o racismo e o fascismo, a favor da criatividade.

"Depois da exibição em Belfast, Irlanda do Norte, onde me disseram que o trabalho devia ser exibido nas escolas, o filme vai começar ser exibido em todo o lado mas queremos fazer um grande concerto anti-racista em Londres com grandes nomes, com discursos e artistas porque a música tem a virtude de mostrar a realidade política e social. A música e a cultura estão sob ataque neste momento e queremos lutar contra isto", acrescentou.

Para Richard Davis, 64 anos, atualmente a música está "fragmentada" e considera que "o negócio da música" não reflete a realidade política, social e económica.

"O 'rock'n'roll' era feito por jovens e destinado a jovens, agora temos jovens a ouvir 'rock'n'roll' feito por pessoas mais velhas o que muda toda a dinâmica porque a rebeldia mais forte vem sempre do coração dos mais novos. A rebeldia dos jovens explica o movimento 'Rock Against Racism' ou bandas como os Clash ou o Punk, porque havia ligação entre o palco, os músicos e o público", afirma, criticando o alheamento atual das editoras.

"O que eu sei é que os jovens rebeldes não têm músicos rebeldes porque as editoras viraram as costas a todas as dinâmicas que ajudaram a criar movimentos importantes ou a criar consciências. Qual é o papel da música agora? As lutas não terminaram e tem de haver esperança e temos de mostrar as nossas posições contra o racismo", acusa o realizador e ativista político britânico.    

O documentário - frontalmente crítico da extrema-direita britânica e norte-americana - incluiu, entre outros, depoimentos de músicos como Paul Simonon, ex-baixista dos Clash, Glen Matlock, fundador dos Sex Pistols, Tony Robinson da banda reggae Aswad, Mykaell Riley dos Steel Pulse, o cantor Paul Simmonds e o ator Ray Gange, protagonista do filme 'Rude Boy' dos Clash (1980).  

'On Resistence Street' - de produção independente - inclui ainda a participação do historiador britânico Rick Blackman autor do livro 'Babylon's Burning' sobre os vários movimentos anti-racistas no Reino Unido depois da Segunda Guerra Mundial e que foi apresentado recentemente em Portugal.

O documentário foi igualmente uma resposta direta à "provocação" do ex-primeiro-ministro conservador Boris Johnson que declarou numa entrevista televisiva que é um "fã incondicional" dos Clash.

"Quando Boris Johnson declarou que os Clash eram o grupo preferido, pensámos que tínhamos de fazer alguma coisa sobre o assunto. Nas redes sociais, os grupos de fãs não refletem o que a banda na realidade significava e descobri que muita gente estava a aproveitar a história da banda para fins completamente contrários aproveitando para infiltrar mensagens contrárias, tal como aconteceu com o Brexit", explica Richard David.

Para o realizador, o documentário não é mais um "filme" sobre o Punk e os Clash mas "pretende" projetar-se no presente e no futuro e lançar as bases para promover a "música e a cultura" aproveitando referências que demonstraram ser "positivas".

"Eu conheci Joe Strummer [vocalista dos Clash] quando tinha 20 anos. Eu tinha sido condenado a uma pena de prisão por me ter envolvido em confrontos com a polícia e quando saí da cadeia conheci Mick Jones [guitarrista dos Clash] que, de uma forma muito simpática, me deu um livre passe para todos os concertos da 'tournée' do álbum 'London Calling' [1979]", confessa frisando que a "música rebelde" acabou por lhe traçar um novo rumo de vida. 

"Um dia tive uma conversa com Joe Strummer e ele disse-me: 'A prisão é para estúpidos ['mugs'] e para os combatentes pela liberdade ['freedoom fighters'}. Faz qualquer coisa criativa, arranja uma guitarra e canaliza a tua energia em alguma coisa que seja criativa e positiva. Este é o meu conselho. Eu levei à letra o conselho de Strummer que transformou a minha vida: ser criativo e conseguir um rumo de vida. Comecei a cantar no metropolitano e agora faço filmes", conclui Davis.      

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