Os protagonistas dos filmes a exibir são "crianças muito livres, mesmo em tempos cinzentos e ordeiros, e um adulto deliciosamente infantil", lê-se no texto de apresentação divulgado pela Cinemateca Portuguesa, numa referência a 'O menino Nicolau', criado por René Goscinny, 'Aniki Bóbó', de Manuel de Oliveira, 'Hugo e Josefina', adaptação dos livros para a infância da escritora sueca Maria Gripe, e a Buster Keaton, a "criança grande do mês".
O primeiro endiabrado será 'Le Petit Nicolas', personagem da literatura infantil e juvenil francesa, inicialmente concebido para banda desenhada, pelo criador de Astérix com o ilustrador Jean Jacques Sempé.
O filme a exibir a 06 de janeiro data de 2009, foi dirigido por Laurent Tirard para assinalar os 50 anos d''O menino Nicolau', e mantém a irreverência e o gosto por evidências e perguntas que adultos não ousam fazer.
'As sete ocasiões de Pamplinas', de Buster Keaton, que a Cinemateca define como uma obra-prima, vem de 1925, dos anos de independência do ator e realizador em relação aos grandes estúdios.
Neste filme, "Buster Keaton eleva um dos temas narrativos centrais do cinema burlesco, a perseguição e fuga, à altura da grande arte", escreve a Cinemateca, garantindo que o filme é "um tratado da arte visual do humor".
Às proezas de Keaton como ator, "soma-se o génio experimental da linguagem cinematográfica, ensaiada no interior do sistema de Hollywood em que Keaton realizador foi pródigo". O filme será exibido no dia 13, com música ao vivo pela pianista Catherine Morisseau.
Uma semana depois, em 20 de janeiro, será a vez de 'Hugo e Josefina', de Kjell Grede, uma produção sueca dos anos 1960 que celebra o espírito de liberdade das personagens de Maria Gripe - escritora distinguida com o prémio Hans Christian Andersen de literatura para a infância - e o modo como exploram o mundo em volta.
'Aniki Bóbó', a primeira longa-metragem de Manuel de Oliveira, anunciada para dia 27, encerra a programação de janeiro da Cinemateca Júnior.
O filme é uma adaptação livre do conto de Rodrigues de Freitas 'Meninos milionários', tem por palco a realidade dos locais pobres da Ribeira do Porto e de Gaia, no início da década de 1940, e por protagonistas as crianças que os habitam.
O título do filme remete para o jogo infantil que divide 'polícias' e 'ladrões', numa das sequências da obra.
A projeção será feita numa "sessão descontraída", que conta com o apoio da associação Acesso Cultura.
O filme de Oliveira também vai permitir discutir vida em comunidade, obediência e transgressão, numa oficina com o público mais novo (que exige inscrição até 19 de janeiro).
"Este filme é um ótimo ponto de partida para pensar no que significa pertencer a uma comunidade, partilhar valores e regras de convivência, pensar no natural conflito entre a liberdade do eu e a norma dos outros, no que é ser bem comportado e transgredir. Obedecer será sempre bom e transgredir sempre mau?", interroga a Cinemateca, que desafia: "Vamos ser polícias e ladrões, disparar pensamentos para nos entendermos melhor e colocar cravos nas nossas espingardas."
A programação da Cinemateca Portuguesa em 2024 será dominada pelos 50 anos do 25 de Abril, com a memória do país e dos "valores do 'big bang'" da queda da ditadura a dialogarem com a toda a história do cinema e as suas muitas expressões.
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