"Amanhã não há revolta" é uma criação coletiva que parte do texto "18 de janeiro de 1934", uma criação do Teatro Operário de Paris sobre a revolta dos operários vidreiros da Marinha Grande, hoje trazida à cena em conjunto com preocupações atuais, nos 50 anos do 25 de Abril de 1974 e nos 75 anos do TUP.
"O TUP faz 75 anos este ano e achámos que faria todo o sentido olharmos para o arquivo, percebermos a nossa história, e pegarmos numa peça importante para a nossa associação. [...] Fomos os primeiros a pegar na peça e andámos com o espetáculo pelo país, em associações de moradores, associações de estudantes, nas Minas do Pejão. Teve carreira grande e contactou com muita gente", contou à Lusa a presidente do TUP, e parte da equipa do espetáculo, Sandra Pinheiro.
O espetáculo teve carreira durante o período do Processo Revolucionário em Curso (PREC), quando "os sócios tinham vontade de falar de política e de coisas importantes para eles", entrando aqui esta luta operária.
"Um grupo de operários começou uma revolta e a partir da Marinha Grande aconteceram greves e manifestações noutros locais, Silves, Sines, Almada, Barreiro. É um grande marco para o sindicalismo e organização coletiva em Portugal", contou Sandra Pinheiro.
Desta base, e de entrevistas com os integrantes do espetáculo original, bem como material de arquivo, o grupo partiu para uma série de questões sobre a atualidade, perguntando como "fazer o contraponto com os dias de hoje" a partir desta evocação de um momento importante para a história dos direitos dos trabalhadores e organização coletiva.
"Como é que hoje nos manifestamos? Quais são as nossas preocupações? Quais são os direitos dos trabalhadores jovens? Como está isto no Porto, como a questão da habitação, da cidade e ocupação do espaço?", questiona.
Também o lugar do TUP é refletido no espetáculo apresentado na Bouça, uma vez que esta associação com 75 anos de vida vive "em casa provisória há algum tempo", sem sala de espetáculos nem condições para salvaguardar o arquivo.
O espetáculo é uma criação coletiva em que o texto é assinado por Isabel Pereira, Patrícia Xará, Rui Resende e Sandra Pinheiro, em cocriação com Fábio Schuch, Maria João Calisto e Maria João L.
Raquel S. fez apoio à dramaturgia e Patrícia Gonçalves apoio à encenação, com o desenho de luz a cargo de Cárin Geada, e a participação em processo e produção de várias outras pessoas.
O espetáculo será apresentado de quinta-feira a sábado pelas 21:30, no palco da Associação de Moradores da Bouça, no Porto, com outra récita no domingo, pelas 19:00.
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