A 58.ª edição do Festival da Canção já começou e no próximo sábado, dia 2 de março, decorre a segunda semifinal. No total, são 20 os concorrentes a querer representar Portugal na Eurovisão, em Malmö, na Suécia.
O Notícias ao Minuto falou com os artistas em competição, entre os quais está Huca.
Segundo a RTP, o artista é "nascido e criado em Moçambique" e "fez a sua primeira apresentação pública aos 14 anos num festival escolar de jovens talentos".
É licenciado em teatro e desde 2005 que "colabora com os mais variados encenadores em projetos internacionais", desde Portugal à Rússia e passando por Espanha, Holanda, Estónia, Alemanha ou Brasil.
Huca tem "várias canções originais" no seu reportório. O amor não é um dos temas de 'eleição', mas acredita que "as composições sociais, políticas e revolucionárias são, em si, um grande ato de amor".
Porque é que quis participar no Festival da Canção?
Foi uma resposta positiva a uma bela provocação de última hora. Eu fui o último autor a ser convidado pela RTP e, na verdade, apenas há cerca de 9 anos tive vontade de enviar uma música que tinha escrita para o Festival. Este ano, quando recebi o convite com muito pouco tempo para pensar, achei que era um sinal para não pensar muito e dizer 'claro que sim', sobretudo porque imaginei logo o que quereria levar ao Festival.
Já era fã do Festival da Canção? E da Eurovisão?
Sou fã de muitas músicas que nasceram para o Festival e de muitos artistas incríveis que deixaram através dele contributos maravilhosos para o panorama musical português. Nunca fui um acérrimo seguidor das emissões do Festival da Canção porque, apesar de viver sempre entre Maputo e Lisboa, acontecia sempre quando eu estava lá onde a vibração com o programa não existe na mesma proporção.
Qual é para si a melhor música de sempre do Festival da Canção?
Várias músicas trouxeram de formas diferentes contributos, às vezes até imperceptíveis à partida, para a música portuguesa e para a história do Festival e do país, como por exemplo 'Telemóveis' de Conan Osíris, que veio provocar reações e discussões no panorama artístico e abrir caminho a novas expressões. Mas se tiver de escolher uma favorita, pela forte mensagem social e política e pelo engenho artístico com que carregou essa mensagem numa época muito particular escolheria 'Tourada', de Ary dos Santos e Fernando Tordo.
Que mensagem transmite a música 'Pé de Choro'?
Como toda a gente sabe esta música é uma homenagem à Sara Tavares que, não só me inspirou e foi muito importante na minha construção como artista, como de várias gerações de artistas lusófonos. Descreverei sempre esta música como uma carta de amor, uma celebração necessária a alguém que muitas vezes não foi tão celebrada como deveria por todas as dimensões da obra que deixou e do caminho de escolhas e inteligências e renovações, e maestria e de uma mensagem maior de como ser revolução através de gestos simples. Aumentando a lupa sobre a música, ela é também um incentivo a que nos celebremos mais uns aos outros.
Consegue levantar um pouco o véu de como será a atuação?
Conseguir consigo, mas não quero! Vou dizer apenas será uma atuação muito simples, muito delicada e feita com o peito aberto e o coração nas mãos para pulsar esse Amor.
Como estão a correr os ensaios? Com que frequência ensaia?
Os preparativos minuciosos de cada escolha são um desafio constante. Não sou uma pessoa 'stressada' por natureza mas sou rigoroso no detalhe, o que faz com que tudo esteja pensado ao milímetro. Mas depois desse trabalho gosto de deixar a porta escancarada à vida e às emoções para que os imprevistos ajudem a criar emoções mais indizíveis.
De que forma olha para as restantes canções e intérpretes desta edição do Festival?
Acredito que todas as edições ganhem uma dimensão de maior proximidade para os artistas a concorrer nelas e, portanto, acho esta edição maravilhosa. Há letras de língua afiada, há gritos de emancipação, primaveras em recomeço, faróis e memórias a pais, pontos finais, teorias e criaturas lindas, há mensagens de amor e de mudança ativa e há, sobretudo, várias sonoridades daquilo que representa verdadeiramente Portugal neste momento em toda a sua diversidade cultural e isso é um mosaico importante e rico.
Quais são as suas expetativas face à participação no Festival da Canção? O que seria um bom resultado?
O Festival já está a acontecer. A melhor parte já está a acontecer que são as trocas e partilhas profundas e verdadeiras que me acontecem por ter levado esta música a este lugar. Fi-la também e sobretudo para todos aqueles e aquelas que saberiam compreender este amor, esta gratidão e esta vontade de chorar a ausência física da Sara ao mesmo tempo que se dança em celebração a sua existência. Um bom resultado será sempre que as pessoas sintam esta música como a que senti e sobretudo aquelas que não tenham esta ligação emocional à Sara possam ouvir 'Pé de Choro' e tenham vontade de ir mergulhar mais na obra e no legado que está presente, porque a Sara jamais será pretérito, ela faz parte dessa dimensão da imortalidade em cada música que se escuta.
Depois da participação no Festival da Canção, o que se segue?
A vida. Segue-se a vida em toda a sua fluidez linda e maravilhosa. O Festival faz parte desse caminho lindo. No meu caso segue-se uma digressão lisboeta e parisiense de 'As areias do imperador', espetáculo de teatro que voltará a Portugal (na Culturgest, em Lisboa), e seguirá para Paris com um elenco misto de artistas moçambicanos, portugueses e franceses e eu, de todo o lado, lá no meio, e segue-se sobretudo uma vontade de mais música, mais criação...
Que portas é que acha que o Festival da Canção pode abrir para o seu futuro?
Sinto que o festival já abriu a porta principal em mim. O facto de após quase 20 anos de carreira artística, mais dedicada ao teatro, ter editado o meu primeiro single por causa do Festival, é para mim um momento interno decisivo nessa fluidez constante que tenho entre a música e o teatro. Sinto-me pronto para esse foco mais virado para a música e para caminhar os próximos 20 anos de carreira a partilhar a minha sensibilidade através da música. E que privilégio 'começar' agora que sei, sem ruído, o que quero dizer e como me quero partilhar.
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