"Podes não ter nada, falas e tens 200 mil seguidores. No Spotify só 1000"
Os Virgem Suta acabam de lançar o álbum 'No Céu da Boca do Lobo' e estiveram à conversa com o Notícias ao Minuto. Entrevista essa que destacou este 'regresso' (em álbuns) da banda, mas também 'deitaram um olho' à sociedade, à cultura - que, dizem, nem sempre é a prioridade - e à era das redes sociais.
© Daniel Antunes
Cultura Virgem Suta
Lançaram o primeiro álbum em 2009, 'Virgem Suta', em 2012 chegou o segundo, ‘Doce lar’, e em 2015 saiu o ‘Limbo’. Agora voltam a lançar um novo trabalho, ‘No Céu da Boca do Lobo’, mas isto não significa que estiveram parados até aos dias de hoje.
Em conversa com o Notícias ao Minuto, Nuno Figueiredo e Jorge Benvinda destacaram que se mantiveram sempre ativos no mundo da música, aliás, em 2017 acabaram por ir ao Festival da Canção e em 2018 foram convidados para fazer uma homenagem a Carlos Paião.
Ainda assim, agora estão de 'regresso' com um novo álbum que vai ser apresentado ao vivo já amanhã, dia 12 de novembro no Teatro Maria Matos, em Lisboa, no dia 21 na Casa da Música do Porto e no dia 22 na Casa das Artes de Felgueiras. Momentos onde vão viver a - como referida durante a entrevista - "adrenalina de palco".
Temos uma roupagem ligeiramente diferente em relação àquilo que fizemos anteriormente. Uma linguagem mais 'atual', mais dentro dos parâmetros daquilo que será uma música independente atualmente
O que traz este ‘No Céu da Boca do Lobo’?
Nuno Figueiredo (NF): Traz uma série de canções novas com um universo que consideramos, de alguma forma, um bocado diferente do que já fizemos. O último disco é de 2015, ‘Limbo’, que é um bocadinho mais virado para dentro. Este mantém aquela ironia, aquele olhar que sempre tivemos perante a sociedade, mas de uma forma um bocado mais airosa. Obviamente, não perdemos aquela nossa forma de ver e de analisar as coisas, mas de uma forma mais leve. Apesar disso, também temos uma roupagem ligeiramente diferente em relação àquilo que fizemos anteriormente - coisas com menos arranjos, mais sintetizadores. Uma linguagem mais 'atual', mais dentro dos parâmetros daquilo que será uma música independente atualmente.
Jorge Benvinda (JB): É um disco que fala um bocadinho sobre esta crítica. Tem uma série de canções de amor e, de uma certa forma, coloca-nos numa imagem em que nós temos a sorte de olhar para o céu e ver um céu azul maravilhoso, incrível, um dia bonito. Mas, na realidade, esse céu é como um deslumbre porque a sociedade engole-nos de toda a maneira. Esta é uma forma irónica de demonstrar que existimos sobre um deslumbre de céu maravilhoso, mas tudo o que existe à nossa volta condiciona-nos. De alguma forma, somos cercados. É sempre este olhar irónico que gostamos de ter nas nossas canções.
Há um tema aqui que aborda também um pouco o Alentejo – esta amizade toda. Falamos do amor e dos desamores que existem... Esta é uma abordagem que nós, na nossa vida, fizemos este ano 50 anos, somos lutadores. Há muitos anos que lutamos com todas as nossas ferramentas na música, no ato criativo, em todos os projetos - porque estivemos parados desde 2015, que foi quando lançamos o último álbum, mas na verdade nunca tivemos parados.
Continuávamos a ver um céu deslumbrante, mas estávamos metidos na boca do lobo porque não sabíamos o que é que se estava a passar. Tudo isto também criou um constrangimento, uma sensação de 'para onde é que o mundo está a caminhar'. Houve quem tivesse a perspicácia de se mexer e continuar a fazer uma série de coisas. Nós talvez não tivemos essa perspicácia, ficámos um pouco mais estranhos, constrangidos com tudo o que estava acontecer, com medo – como todos os cidadãos do mundo.
Algum sarcasmo mas, sobretudo, alguma ironia de observação e músicas de amor. O amor sempre fez parte da nossa vida e é aquilo que realmente nos move
Mas isso resultou da pandemia?
JB: Não digo que tenha resultado da pandemia, mas também influenciou toda esta nossa perspicácia de letras. Na realidade, as canções acabam por refletir imagens de coisas que sentimos da sociedade e como a sociedade funciona. As canções às vezes são coisas muito comuns e o que está falado acaba por ser um sentimento de observador na sociedade.
No fundo é a vossa linha desde o início, assim como a ironia...?
JB: Algum sarcasmo mas, sobretudo, alguma ironia de observação e músicas de amor. O amor sempre fez parte da nossa vida e é aquilo que realmente nos move. Não falamos só do amor maravilhoso, de deslumbre. Também de amores que estão em falta ou que vão em caminhos separados mas que depois, na realidade, fica tudo bem na mesma. Nem sempre o amor é um amor que corre bem, mas queremos que corra bem e acabamos por falar um pouquinho sobre ele.
Este 'No Céu da Boca do Lobo' reflete esta ambiguidade de sociedade, e dou um exemplo muito simples com o Alentejo. É um sítio maravilhoso, cheio de investimento, mas não existe responsabilidade social.
O ser humano, muitas vezes, está nesta boca do lobo sem se aperceber. Não sentimos, mas a sociedade é castradora. Muitas vezes, as estruturas que existem não apoiam como deve ser o desenvolvimento. Esta forma, também, de escrever e de olhar para estas canções não refletem estes pormenores em especifico, mas abrangem esta sensação de que se olharmos para a frente está tudo maravilhoso, mas sempre que olhamos para trás há um lobo à nossa espreita. E estamos metidos nesta máquina que é difícil, que não se consegue sair de forma alguma, temos que estar metidos nela, é a sociedade.
Às vezes tentamos ter um 'pezinho' fora dela para estarmos um bocadinho mais relaxados - quando nos desligamos das redes sociais, de telemóveis, de notícias… As notícias são manobradas, muitas vezes, de forma a que haja muita atenção do telespectador. E para isso, o tipo de notícias que vão de encontro a toda a gente são, sobretudo, de desespero e de todo o mal que acontece no mundo. Somos moldados a esse medo, a essa angústia. Apesar de termos um céu deslumbrante e estrelas maravilhosas, e de conseguirmos olhá-lo, andámos à volta desta dentada e deste mundo bonito em que estamos.
A cultura, muitas vezes, fica descartada. Se olharmos a programação de televisão, o que existe em termos culturais - isso está cada vez mais nas televisões públicas - são anúncios, é outro tipo de entretenimento. Os domingos não refletem toda a música portuguesa, de forma alguma, nas televisões
Perante o que acaba de partilhar, sente que esta 'nova realidade' pode ser culpa da sociedade em geral ou de algumas identidades?
JB: Não é culpa da sociedade em geral, é culpa da forma como tudo é gerido. Se olharmos para a forma como o mundo está a ser gerido, temos a perceção de que tudo é gerido à volta da economia. E essa economia prevalece sempre para as mesmas instituições. Os grupos de notícia, muitas vezes, vão exatamente de encontro a todo um respeito de 'timings' de assuntos que têm de ser falados e há coisas que ficam para traz porque há um novo assunto. Constantemente, existe a necessidade de frescura e de 'isto já foi notícia, estas pessoas já existiram, fora e venham outras'.
O mundo cada vez é mais descartável, as pessoas são descartáveis e impera, sem dúvida, o mundo económico. Estamos a entrar numa nova economia, uma economia de guerra no mundo num século XXI quando temos filósofos, centenas de pessoas, que já escreveram sobre o bem estar humano. A utopia do ser humano há de ser sempre um sonho, o deslumbre e a procura de um céu bonito, mas a boca do lobo, constantemente, está a tirar dentadinhas. Está-nos a estrangular, de uma certa forma.
A arte cada vez mais é um produto comercializado que existem estruturas que ganham milhões com os artistas. Mas continuamos
Sente que a cultura fica muitas vezes descartada?
JB: Acho que sim. A cultura, muitas vezes, fica descartada. Se olharmos a programação de televisão, o que existe em termos culturais - isso está cada vez mais nas televisões públicas - são anúncios, é outro tipo de entretenimento. Os domingos não refletem toda a música portuguesa, de forma alguma, nas televisões. A análise que podemos fazer é que cada vez existe menos apoio e mais exploração de tudo o que é arte.
O artista é simplesmente um produto. Nós fazemos isto por uma paixão e por um gosto maravilhoso, como todo o artista faz. Mas, na realidade, a arte cada vez mais é um produto comercializado que existem estruturas que ganham milhões com os artistas. Mas continuamos. A arte funciona desta forma, é um produto como existem sapatos, malas… Ela passa muitas vezes a ser ato quando é partilhada com um determinado sentimento mas, na realidade, é um negócio.
Estamos a voltar a passar, e vamos passar por momentos em que a economia vai-nos engolir, a inflação vai-nos engolir. E quem não tiver essa perceção, vai ser engolido
Mas tem esse sentimento agora ou já o sente desde que iniciou este caminho nos Virgem Suta?
JB: Sinto que desde que comecei a compor aos meus 20 anos que tinha uma utopia. Que a minha constatação enquanto mundo que vejo não perca essa utopia, mas ganho uma constatação de observador que a utopia é a cenoura que está sempre à frente da nossa boca e que estamos sempre a tentar agarrá-la. E para agarrá-la temos de fazer uma série de coisas. Estamos sempre a trabalhar, com uma série de atividades… Aliás, com as ferramentas sociais, hoje em dia trabalhamos no nosso escritório em qualquer parte do mundo, a qualquer hora… Estamos sempre ligados.
Com o tempo apercebo-me que o cerco cada vez é maior. O cerco de controlo, de exploração, de cada vez menos partilha, o cerco da inflação – quando se está um pouquinho melhor, surge uma inflação cíclica, surgem crises cíclicas… Isto se não for repensada a forma como o ser humano tem que existir, simplesmente começamo-nos a odiar uns aos outros. A forma como os media tratam todo o panorama de cidadania em Portugal, como a Europa as frentes políticas estão a mudar todas… Isto é constrangedor para quem nasceu em 1974. Passados 50 anos, julgamos que isto só pode melhorar, o ser humano só pode ter capacidade de crescer e melhorar, mas depois percebemos que, afinal, isto não existe memória coletiva.
Ninguém aprende com nada, ninguém aprende com a tristeza nem com o sofrimento dos outros. Estamos a voltar a passar, e vamos passar por momentos em que a economia vai-nos engolir, a inflação vai-nos engolir. E quem não tiver essa perceção, vai ser engolido.
Este 'No Céu da Boca do Lobo', o objetivo não é falar de forma política ou fazer uma análise mundial, mas acredito que este tema coloca-nos nessa perspetiva, nessa sensação de que acordamos e vemos um mundo maravilhoso, mas [depois percebemos que] não temos dinheiro para pagar a conta da luz ou o infantário do miúdo…
Parece que quanto mais lutamos e mais idade temos, mais ainda temos que trabalhar porque não facilitou. Nós agora estamos com 50 anos e consigo lembrar-me que o meu sogro reformou-se aos 48 anos - no tempo do Aníbal António Cavaco Silva, quando entramos na comunidade europeia e o Cavaco achava que estávamos com dinheiro com fartura. Há aqui uma forma de sentir que tem a ver com a nossa observação, o que é sentido. Mas a sociedade é isto, uma boca do lobo incrível. E por mais que não queiramos ver, se não tivermos essa perspicácia, somos engolidos pelo populismo, nas conversas fáceis, na forma como somos influenciados e ganhamos opinião sem sabermos, sem termos opinião…
A sociedade vai evoluindo por caminhos, aparentemente, sofisticados, que nos tiram um bocado o chão ou que nos fazem parecer que somos muito mais evoluídos. Mas somos uns básicos e seremos uns básicos a vida toda
Com este novo álbum querem também transmitir isso, uma 'espécie' de reflexão?
JB: Acho que sim.
NF: Todos os álbuns são uma reflexão. Não faria a mesma leitura que o Jorge está a fazer, tão especificamente sobre o tema [que está a abordar]. Qualquer relação, quer seja entre duas pessoas ou social, quer seja interação entre povos, implica sempre um momento bom e um momento mau. Isto não é regra, mas, quase sempre, uma ideia que tens sobre uma determinada pessoa depois vai-se modificando.
A ideia do 'No Céu da Boca do Lobo', no disco em particular, é esta. Qualquer que seja a ligação que inicias a uma pessoa ou a qualquer assunto, a tua perspetiva perante aquilo vai mudar e, na maior parte das vezes, tu veste aprisionado numa ideia contrária àquilo que era a ideia inicial - quando entraste nessa relação. E isto acontece quando vais descobrir uma pessoa, acontece no teu dia de trabalho em que és deslumbrado por assuntos que te chamam a atenção ou até mesmo nas redes sociais, na televisão em que segues os apelos porque queres ser igual àquele, queres ter também uma vida maravilhosa como aquele… Quando dás por ti, esse rebuçado que te vai sendo dado acaba por te aprisionar para te levar para um estado que depois, mais à frente, percebes que não deixa de ser uma prisão.
Numa relação a dois isso também acontece, não quer dizer tudo isso seja negativo. Mas a verdade é que te confrontas sempre com uma realidade diferente daquela que estás a ver ou que de início imaginaste (tudo se vai transformando). O disco atravessa um bocado isso. Obviamente, tem a vertente que o Jorge está a falar, social.
Estamos sempre a crescer, a evoluir. Umas vezes para o bem, outra vezes para o mal. O que é certo é que vamos construindo o nosso imaginário, o nosso mundo com base naquilo que vamos descobrindo no dia a dia. Eu e o Jorge temos algumas diferenças, naturais, obviamente, como pessoas. Não quer dizer que não veja os pontos negativos que ele vê, mas não me foco só nesses.
O disco é um bocado essa viagem, que sempre tivemos em todos os discos. O que acho que torna diferente neste é essa perspetiva. Passamos na mesma por todos esses universos, esses mundos diferentes, mas no final do disco – pelo menos quando eu ouço – fica uma perspetiva mais positiva. Mesmo quando assinalas as coisas menos boas – que há, obviamente, e todos vivemos e sentimos no quotidiano –, no final há mais esperança.
O disco anterior, ‘Limbo’, era mais o contrário. Era quase como se tivesse uma perspetiva em que via 'só o lado mais negro'. Este [novo] disco termina com uma música do Jorge que fala sobre a vida na aldeia, sobre o convívio… Temos sempre esta dualidade entre o mundo grande e o mundo pequenino, o mundo que nos dá conforto, o mundo que nos tira o conforto, o mundo que nos assusta, o mundo que nos prende a atenção…
Vamos viver sempre nisto porque o mundo é assim, e a nossa visão perante o mundo é sempre esta. Estamos dentro e fora das nossas histórias, as personagens não somos nós mas temos um pedacinho delas lá. Nas músicas, falámos de assuntos que toda a gente pensa (acho eu), que toda a gente vive no dia a dia.
Vivemos no mundo da fantasia, cada vez mais deslumbrado com assuntos que nos fazem tremer e nos fazem a adrenalina subir, mas muitas das coisas não passam de coisas banais. Todos gostamos do caldo verde da avó, de estar na aldeia, do cheiro da lareira... A sociedade vai evoluindo por caminhos, aparentemente, sofisticados, que nos tiram um bocado o chão ou que nos fazem parecer que somos muito mais evoluídos. Mas somos uns básicos e seremos uns básicos a vida toda. Somos animais. Agora, esperemos que no futuro haja esperança e que nos permita a nós construir um mundo, se não for o melhor possível, que não seja tão nefasto como tem vindo a ser.
O peso das redes sociais hoje em dia é completamente diferente comparando com a altura em que se lançaram há 15 anos. Sentem essa pressão de hoje também terem de agradar nas redes sociais?
NF: Inevitavelmente, sentimos. Não somos muito amigos das redes sociais. Não nascemos nesse mundo e temos muita dificuldade em vestir essa pele. Falo por mim, acredito que o Jorge sinta o mesmo. O que se passa aqui é que quando uma pessoa nasce nesse ambiente, tudo é natural. Para nós seria natural um jornal, mexer no papel. Ler um livro num tablet para mim não é igual a ler um livro com folhas de papel. Isso faz alguma confusão, ou a exposição.
Há um limite que para mim que é muito claro. Não consigo expor mais do que aquilo que acho que devo expor, e não estaria disponível. O meu limite é a música porque é feita com esse intuito de transparecer. Tudo o que é daí para a frente, é muito difícil conseguir sentir-me confortável a expor porque não nasci para isso. Não acho que o mundo precisa de ver mais do que aquilo que temos para dar.
Há pessoas para o qual o seu infinito particular é muito barato, às vezes até gratuito. Não acho que isso seja fixe, acho que o grande mal da sociedade é um bocado esse. Tens tendência a valorizar muito pouco aquilo que é a tua intimidade, o teu lado mais particular, aquilo que, na verdade, tu mais gostas. Aquilo que as pessoas vendem a preço de saldo só para aparecer, para serem famosos… Tu dás-me tudo o que é teu, tudo aquilo que é o teu mundo, e eu ofereço-te um céu – que nunca o vais ver porque está à frente de ti, a tal cenoura à frente do burro que estás atrás sempre a perseguir e nunca vai chegar. Mas, até lá, deste tudo o que tinhas para dar. Dás o teu trabalho, o teu mundo, mostras a tua vida particular, tudo o que tens e passas a ser um boneco nas mãos (que na verdade não é de ninguém). É uma sociedade que estamos a construir e que não valoriza aquilo que, para mim, é o mais importante.
Portanto, isto para dizer que as redes sociais são todas espetaculares, não tenho jeito nenhum para elas e por mais que me esforce, tenho muita dificuldade em viver com elas. Consigo dar aquilo que acho que é o que tenho para dar, que é aquilo que fazemos na música para oferecer a quem gosta de ouvir. Para lá disso, não me peçam porque não venderia a minha privacidade e não estaria disposto a isso. Não queria ser estrela pop.
Nascemos com aquela ideia de ser fãs de artistas muito fixes e que não eram nada disto que se vê hoje em dia – em termos dessa comunicação. Havia até aquele misticismo. Quanto menos sabias, mais querias saber. E acho isso muito fixe
Imaginemos que começavam agora a vossa carreira, exatamente com a idade que têm agora. Seria mais difícil conseguir chegar ao público e conquistá-lo – precisamente por causa deste mundo novo das redes sociais e de não se conseguirem 'adaptar' a 100% a esta nova realidade?
JB: Não é uma questão de não nos conseguirmos adaptar, tem haver com estratégia, perceção. É uma das coisas que temos falado ultimamente, sobre a importância das redes sociais. Percebo esta visão do Nuno Figueiredo, sinto exatamente o mesmo. Mas, no entanto, tenho perceção que em termos de comunicação, precisamos das redes sociais para comunicar. Precisamos de estar ativos, duplicar a informação de comunicação e ver que isto, para nós, é comunicação. É a nossa televisão, tem que existir. Isto sou eu a formatar-me para aceitar este mundo.
NF: Mas não disse o contrário.
JB: Exatamente. Nós sem comunicação, por mais que façamos álbuns, se não comunicarmos, é como se não existíssemos. A única forma que existe é um misto entre comunicação de redes sociais – mesmo quem não gostava teve que aceitar, teve que crescer. Cada vez mais se contrata quem apoia a fazer redes sociais, conteúdos. Existe um novo universo de comunicação. Não é a nossa zona de conforto, mas precisamos de fazer isso aos poucos. Há quem faça isto de uma forma genial, há muitas estratégias que nós não fazemos tanto. Antes juntávamo-nos no café e ensaiávamos. Agora temos que pensar em como gastar uma hora do dia a criar conteúdo. Se não criares conteúdo, tu não existes. Podes não ter nada, mas crias conteúdos e falas, de repente, tens 200 mil seguidores e depois vais ao Spotify e só tem mil e tal pessoas a ouvir. Estamos a aprender a lidar com isto, na realidade.
NF: Não estou a dizer o contrário. É verdade tudo o que estás a dizer. [Respondendo à pergunta] se fosse hoje, não sei se faria música assim. Provavelmente tinha uma banda de amigos, só. Porque não me deslumbra esse mundo. Sinto agora que estou nele e tenho que fazer o melhor possível. Na verdade, nascemos com aquela ideia de ser fãs de artistas muito fixes e que não eram nada disto que se vê hoje em dia – em termos dessa comunicação. Havia até aquele misticismo. Quanto menos sabias, mais querias saber. E acho isso muito fixe. Sigo pessoas, os artistas que gosto, muitos deles são pessoas totalmente fora desse sistema. Se fosse hoje, se calhar sentir-me-ia deslumbrado por outra coisa que não seria a música. Faria música, mas não era por aí porque não tinha jeito, sequer - se nascesse hoje. Mas reconheço a importância.
Fazes canções com um propósito, que é tocá-las ao vivo. Tocar ao vivo faz compensar tudo, todo o esforço
O que sentem que estes 15 anos vos acrescentou enquanto músicos nesta viagem dos Virgem Suta?
JB: Cabelo branco, dores de cabeça… [risos]
NF: Experiências muito fixes. Vivemos momentos incríveis, fomos tocar a sítios que nunca imaginamos, tivemos com pessoas que nunca imaginamos – pessoas das quais éramos fãs e nunca imaginamos, sequer, estar próximos e convivemos com eles, fizemos trabalhos em comum. Viajámos pelo mundo, que é uma das melhores coisas que há - podermos viajar a fazer aquilo que gostamos.
JB: E a adrenalina de palco é maravilhosa! Uma coisa são fazer canções, depois o trabalho de as gravar, de as promover, de tratar de tudo o que é inerente a um lançamento e todos os investimentos que são feitos… Mas fazes canções com um propósito que é tocá-las ao vivo, e essa experiência faz compensar tudo.
Nunca estiveram propriamente parados, mas no que diz respeito a lançamento de álbuns houve aqui um interregno de cerca de oito anos. A ideia agora é continuar a lançar mais discos em breve ou ainda não têm perspetivas e ‘vão indo e vendo’?
NF: É deixar o caminho seguir.
JB: Primeiro é este álbum ser lançado e depois começar a fazer canções para um próximo. Se calhar, em vez de lançar um próximo, ir lançando - também um bocadinho a tendência da atualidade – singles.
A adaptação…?
JB: Nós temos perceção que muita gente conhece as músicas que tocamos ao vivo, duas músicas do primeiro álbum, três ou quatro do segundo álbum… Mas há muitas canções que não são conhecidas porque não são mostradas como singles. Se calhar, se tratarmos todas as canções como singles, talvez elas possam ter uma visibilidade diferente.
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