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Vitória de Trump é sinal de que "o mundo começa a mostrar o seu fim"

O escritor brasileiro Ignácio Loyola Brandão disse hoje não ter ficado surpreendido com a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, embora lamente a derrota de Kamala Harris.

Vitória de Trump é sinal de que "o mundo começa a mostrar o seu fim"
Notícias ao Minuto

20:05 - 09/11/24 por Lusa

Cultura Escritor

natural essa saída", afirmou à agência Lusa o romancista, Prémio Machado de Assis, reconhecido internacionalmente pelas suas obras literárias.

 

Loyola Brandão salientou que Kamala Harris "é negra e mulher" e que, por isso, "muitos eleitores" norte-americanos não votariam na candidata do Partido Democrata.

"Nem que caísse uma bomba atómica", acentuou Ignácio Loyola Brandão, em entrevista à agência Lusa, em Araraquara, Brasil, onde decorre até domingo a III Festa Literária da Morada do Sol (FliSol), que tem como patrono o autor do romance 'Zero' (1975), nascido há 88 anos naquela cidade do interior do estado de São Paulo.

Na sua opinião, o desfecho das eleições nos EUA está em sintonia com os atuais problemas que afetam o mundo, incluindo o Brasil e os Estados Unidos da América, com "tanta gente descontente e desesperada".

Com "guerras sangrentas" em vários países e territórios, como no Médio Oriente e na Ucrânia, "o mundo não sabe finalmente o que fazer".

"As pessoas sabem que pode acabar tudo", declarou Ignácio Loyola Brandão, ao alertar para as alterações climáticas, a fome e a ameaça nuclear, entre outros "riscos que poderão acabar com a Humanidade".

A vitória de Trump, acrescentou, é mais um sinal de que "o mundo começa a mostrar o seu fim" e que alguns líderes "querem o morticínio".

"Como fugir disto? Não sei", admitiu.

No Brasil, até "o Lula, que eu adorava, foi uma grande deceção" e também ele "não sabe o que fazer", num "mundo que está confuso e com medo", observou o membro da Academia Brasileira de Letras (ABL).

"Tudo isto eu imaginei num dos meus livros. Agora, não preciso de imaginar mais", referiu.

"Não verás país nenhum", romance distópico de Ignácio de Loyola Brandão sobre o século XXI, publicado no início dos anos 1980, ainda sob a ditadura militar brasileira (1964-1985), imagina como um regime democrático cede a um sistema totalitário, através da propaganda, controlo da imprensa e alienação de massas populares.

Distinguido pela ABL com o Prémio Machado de Assis, pelo conjunto da sua obra, em 2016, e várias vezes com o Prémio Jabuti, o jornalista e escritor nasceu em Araraquara, em 1936, quando o presidente do Brasil era o ditador Getúlio Vargas.

Nas eleições de 2022, manteve a sua preferência por Luís Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, mas mudou de opinião nestes dois anos.

"Sobre o Lula, agora tenho todas as dúvidas, como as tenho relativamente ao PT", reiterou, considerando que o Partido dos Trabalhadores "está virando uma mixórdia".

Apesar dos sérios desafios do século XXI que se colocam aos povos e países, levando o escritor a expressar algum pessimismo, Ignácio Loyola "gostaria que o mundo continuasse a existir".

"Eu não sou suicida", concluiu.

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