O livro 'Os Versículos Satânicos' de Salman Rushdie, editado pela primeira vez em 1988 e que fez com que o autor fosse condenado à morte pelo Irão, voltou a estar disponível nas livrarias da Índia, o país onde nasceu.
A viver desde 1989 sob ameaça de morte devido à emissão de uma 'fatwa' (decreto da lei islâmica) pelo então líder religioso do Irão, Ayatollah Khomeini, Salman Rushdie viu o seu livro ser proibido também no seu próprio país natal após terem eclodido tumultos devido ao seu conteúdo, recorda o jornal The Guardian.
No entanto, segundo explica o jornal britânico, o regresso de 'Os Versículos Satânicos' não está relacionado com o aumento de liberdade de expressão na Índia, mas sim com papelada em falta. Isto porque a ordem governamental original - que proibia a importação do livro - não foi encontrada na burocracia da Índia, o que levou à sua anulação.
"Não temos outra opção senão presumir que essa notificação não existe", decidiu um tribunal de Deli no mês passado.
Mais de um mês após a decisão do tribunal, os exemplares começaram a chegar às lojas indianas, com as livrarias a anunciar a disponibilidade de stock nas redes sociais.
Ao The Guardian, um gerente de loja, que não quis ser identificado, disse que as vendas "têm sido muito boas", apesar do preço de 1.999 rupias (cerca de 22 euros), elevado para os padrões indianos. "Estamos a esgotar", destacou.
'A linguagem é a coragem: a capacidade de conceber um pensamento, de o dizer e, ao fazê-lo, de o tornar verdadeiro". Finalmente, 'Os Versículos Satânicos' de Salman Rushdie podem ser vendidos na Índia", destacou também Manasi Subramaniam, editora-chefe da Penguin Random House India, a editora do livro.
‘Language is courage: the ability to conceive a thought, to speak it, and by doing so to make it true.’
— Manasi Subramaniam (@sorcerical) December 23, 2024
At long last. @SalmanRushdie’s The Satanic Verses is allowed to be sold in India after a 36-year ban. Here it is at Bahrisons Bookstore in New Delhi.
: @Bahrisons_books pic.twitter.com/fDEycztan5
Em 1988, um mês depois do lançamento do livro na Índia, o antigo primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi proibiu a venda no país, na véspera de eleições em que procurava o apoio da minoria muçulmana.
Atualmente com 77 anos, Salman Rushdie viveu sob proteção e incógnito durante muitos anos para escapar à 'fatwa' emitida por Khomeini. Em agosto de 2022, foi esfaqueado e gravemente ferido durante uma conferência literária em Nova Iorque por um jovem norte-americano de origem libanesa suspeito de ser próximo do Irão xiita.
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